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Dia do Fuzileiro
                                  Dia do Fuzileiro

               s comemorações do Dia do Fuzileiro  ram em África ou na Bósnia: contariam his-  com outros como todos os marinheiros de
               – que este ano tiveram lugar pela  tórias do seu tempo, diriam que já não há  todas as épocas, como fazem os actuais fu-
         Aprimeira vez – resultam de um fe-  guerras como essas, que hoje tudo é mais  zileiros e como sempre fizeram desde que
         nómeno persistente que congrega as várias  fácil, que até o mar é diferente, que já não  me lembro de os ouvir. Porque os homens
         gerações de fuzileiros, em romagem anual  há sudoeste rijo, etc. Comportar-se-iam uns  fazem mudar o mundo e mudam com ele,
         à Escola que os formou, recordando os                                  mas não perdem (nunca perderam) o seu
         tempos em que andaram em África, os                                    carácter humano. Esta é a grande lição que
         episódios da Arrábida e Aveiro, as noites                              colhemos da História.
         de frio e chuva passadas dentro do rio,                                  Unidos num destino comum, os solda-
         as pistas de lodo, as marchas, Tróia e Pi-                             dos da marinha, os marinheiros do fuzil
         nheiro da Cruz, enfim, tudo aquilo que                                  ou os fuzileiros estão a pouco mais de uma
         fez e faz um fuzileiro e lhe dá o orgulho                              década de completar quatro séculos de
         de usar ou de ter usado uma boina azul                                 vida ao serviço da Pátria, e é nessa pesada
         ferrete. E era esta origem comum que le-                               mas gloriosa herança que se revêem e que
         vava a que se reunissem os destacamen-                                 revivem a própria experiência com orgu-
         tos, as companhias, os filhos da escola                                 lho, cumprindo o seu dever nas diferenças
         desta ou daquela incorporação, aqueles                                 impostas pelos tempos e na constância da
         que na solidariedade de uma formação                                   sua imutável condição. O Dia do Fuzileiro
         militar especial, revivem com saudade a                                é, por isso, um dia de recordações (de in-
         razão do seu orgulho comum. Por inicia-                                tensas recordações), como já eram os en-
         tiva do Comando do Corpo de Fuzileiros,                                contros de unidades ou de incorporações
         este ano essa peregrinação fez-se numa                                 que visitavam a casa mãe que é a Escola de
         festa comum para todos os fuzileiros e                                 Fuzileiros. Mas é também um dia de en-
         ex-fuzileiros, no que passará a ser o Dia                              contro de gerações, onde os novos podem
         do Fuzileiro.                                                          compreender o que foram os tempos pas-
           Ensina-nos a História que em Abril de                                sados, e os veteranos podem constatar que
         1621, o rei Filipe III de Portugal despa-                              ali está uma nova geração, cheia de força
         chou os pedidos do General do Mar da                                   e de vida, bem treinada e preparada, com
         Coroa de Portugal e criou, com carácter                                novos meios e equipamentos, com outras
         permanente, uma força de soldados de                                   formas de actuar e capacidades, mas com
         infantaria destinados a andar embarca-                                 a garra dos tempos que a sua memória al-
         dos nos navios da Armada. Foi formado                                  cança, quando combateram na Guiné, em
         o Terço da Armada da Coroa de Portu-                                   Angola ou Moçambique.
         gal, que três anos depois iria desalojar os                              A data das comemorações do Dia do
         holandeses da Baía. A maioria dos que                                  Fuzileiro 2009 foi a de 27 de Junho, não
         regressaram do Brasil perdeu a vida em                                 porque corresponda a uma efeméride
         1926, num imenso naufrágio ocorrido no                                 específica e notável da história dos fu-
         Golfo da Biscaia, quando andavam em                                    zileiros, mas apenas por ser um sábado,
         perseguição de piratas argelinos. Quase                                numa altura do ano adequada para juntar
         todo o Terço desapareceu nessa noite fa-                               o maior número de militares, ex-militares
         tídica, mas renasceu e recompôs-se, es-                                e famílias. O programa começou cerca
         tando presente quando D. João IV assu-                                 das 08h30 da manhã com a concentração
         miu a coroa, continuando a combater na                                 de antigos e actuais fuzileiros, podendo
         fronteira do Alentejo ou onde quer que                                 visitar-se a Sala Museu e participar num
         o Rei ou a Pátria os chamou.                                           conjunto de actividades, hoje muito agra-
           Eram assim os soldados da marinha,                                   dáveis aos jovens mais afoitos. Os partici-
         que ocupavam as vergas, o convés ou os                                 pantes e as suas famílias puderam recor-
         castelos, combatendo com coragem e va-                                 dar os tempos em que andaram de bote
         lor. O mesmo valor com que saltavam nas                                neste mesmo rio Coina, desfrutar de um
         praias ou percorriam, a partir de 1961, os                             passeio de LARC, tentar a sua sorte no
         rios e a selva africana, escrevendo mais                               tiro de Air-Soft ou experimentar a escala-
         um capítulo da gloriosa história que já                                da de uma parede vertical, com controlo
         contava com três séculos e meio. E, mais                               técnico e com a segurança necessária.
         recentemente, estiveram na Bósnia, na                                    Cerca das 10h30 teve lugar uma missa
         Guiné, no Congo, em Timor e no Afega-                                  campal de sufrágio por todos os fuzilei-
         nistão, cumprindo com o mesmo brilho                                   ros mortos, celebrada pelo Vigário Ge-
         e empenho as missões que decorrem dos                                  ral Castrense, Capelão Manuel Amorim,
         novos tempos, de um mundo diferente,                                   acolitado pelos Capelães Ilídio Costa e
         onde Portugal quer estar confiando que                                  Licínio Silva. O Capelão Amorim iniciou
         os seus fuzileiros continuarão a respon-                               a sua carreira como Capelão Militar na
         der “presente” onde quer que seja preci-                               Escola de Fuzileiros, nos já longínquos
         so actuarem.                                                           tempos de 1978. A sua actividade desen-
           Não é difícil imaginar o que diriam uns                              volvia-se muito perto da instrução dos
         aos outros se fosse possível reunir os que                             novos fuzileiros, participando em algu-
         sobreviveram em 1626 com os que estive-                                mas das suas provas mais duras, de tal

         12  AGOSTO 2009 U REVISTA DA ARMADA
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