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Oito décadas da Marinha na Quinta das Torres
         Oito décadas da Marinha na Quinta das Torres

                                                    1925-2009

               o ano de 1925, o último da I Repú-  de Lisboa unidades e serviços, já que a capi-  Entretanto, verificando-se que com a cria-
               blica Portuguesa, o regime político  tal era então palco de sucessivos movimen-  ção das Brigadas da Armada, em 1924, tinha
         Nencontrava-se em franca decompo-  tos revolucionários, o último dos quais tinha  surgido a inconveniente acumulação de ser-
         sição com governos de curtíssima duração,  acontecido em Abril desse ano.  viços burocráticos e de instrução num mes-
         sendo um dos raros  ministros  que  se  man-  Com o tempo constatou-se que a maioria  mo organismo, optou-se, em Maio de 1934,
         tinha  em  funções, o capitão-de-fragata Pe-  dos navios da Flotilha Ligeira, necessitam  na concentração no Corpo de Marinheiros
         reira da Silva, na pas-                                                               da burocracia, sendo
         ta da Marinha. Este                                                                   a instrução atribuída
         Ministro, oficial clari-                                                               às Escolas de Aplica-
         vidente e pragmático,                                                                 ção da Marinha, na
         a quem se deve a con-                                                                 dependência directa
         cepção do mais com-                                                                   do Comando Geral da
         pleto programa naval                                                                  Armada. Uma das Es-
         do século XX, deter-                                                                  colas da Aplicação foi
         minou a aquisição da                                                                  designada por Escola
         Quinta das Torres, es-                                                                de Mecânicos e ins-
         treita faixa de terreno,                                                              talada na Quinta das
         logo a jusante de Vila                                                                Torres, tendo iniciado a
         Franca de Xira, entre a                                                               sua actividade no ano
         estrada nacional nº 10                                                                lectivo de 1934/35. Se
         e a linha do caminho                                                                  bem que durante anos
         de ferro, que ali tinha                                                               permanecessem em
         um apeadeiro.                                                                         Vila Franca unidades
           A data de 28 de Se-                                                                 navais, as instalações
         tembro de 1925 marca                                                                  da Marinha passaram
         o dia da inauguração,                                                                 a ter exclusivamente
         na Quinta das Torres,                                                                  actividades dedicadas
         da Base da Flotilha Li-  Recepção em 1925 na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira à comitiva da Marinha.  à instrução.
         geira, unidade constituída pelos contrator-  de demoradas reparações e fabricos, só possí-  Com a chegada, em Março de 1933, do avi-
         pedeiros e torpedeiros da esquadra. Nesse  veis no Arsenal de Marinha, a 17 milhas de  so de 2ª classe “Gonçalo Velho”, o primeiro
         dia o cruzador “Carvalho Araújo”, com o  distância, e também porque convém aprovei-  navio do Programa Naval, a que se segui-
         Ministro da Marinha embarcado em repre-  tar as poucas unidades que existem em treino e  ram até 1937 mais três avisos de 2ª classe,
         sentação do Presidente da República, acom-  instrução do pessoal. Embora não se encontre  dois de 1ª classe, cinco contratorpedeiros
         panhado dos contratorpedeiros “Douro”,  escrito nas várias fontes consultadas, parte-  e três submersíveis, os avanços tecnológi-
         “Guadiana”, “Tâmega” e “Vouga” e dos tor-  -se do princípio que uma das razões que le-  cos tinham sido enormes pelo que cursos
         pedeiros “Mondego”, “Sado”, “Ave”, “Lis”  varam a esta decisão foi ter sido conseguida  técnicos, em grande parte que competiam
         e “Tejo”, fundeou frente à nova base naval,  a estabilização do regime, o que motivou a  à Escola de Mecânicos, tiveram de ser cria-
         seguindo-se um cerimonioso e variado pro-  ausência de convulsões políticas significa-  dos, desenvolvidos ou actualizados. Estas
         grama.                                                                                prontas respostas ás
           A Marinha iniciava                                                                  sucessivas evoluções
         o relacionamento com                                                                  tecnológicas foram
         a autarquia e a popu-                                                                 sempre uma constante
         lação vilafranquense,                                                                 ao longo dos anos nas
         que havia de se con-                                                                  Escolas da Marinha
         solidar ao longo de                                                                   em Vila Franca.
         décadas, originando                                                                     A Escola de Mecâ-
         inúmeras vantagens                                                                    nicos, no seu início,
         para ambas as partes.                                                                 ministrava o ensino
         Além da Base da Flo-                                                                  técnico nos ramos
         tilha Ligeira, é simul-                                                               de torpedos, electri-
         taneamente criada, no                                                                 cidade e máquinas,
         mesmo espaço, a De-                                                                   além do Curso Ge-
         legação Marítima de                                                                   ral de Sargentos. Em
         Vila Franca de Xira.                                                                  1937 os cursos da Es-
           Considera-se que a                                                                  cola de Radiotelegra-
         vinda da Marinha para   Flotilha Ligeira fundeada no Tejo frente à Quinta das Torres em 28 de Setembro de 1925.  fia e Comunicações,
         a lezíria se deveu não                                                                 até então localizada
         só, conforme expresso no respectivo decreto,  tivas na capital. Em Maio de 1928 foi então  na Estação Radiotelegráfica do Monsanto,
         às vantagens que oferece tanto pelo lado militar,  extinta a Flotilha Ligeira, ficando contudo os  passaram a ser uma atribuição da Escola de
         como de instrução e ainda pelo lado da conservação  contratorpedeiros que dela faziam parte no seu  Mecânicos.
         do material da Flotilha Ligeira, por se encontrarem  fundeadouro provisório em Vila Franca de Xira.   Em 1938 a população escolar irá aumentar
         em águas tranquilas e abrigadas, mas também e  Nas instalações navais apenas permaneceu  substancialmente com a integração da Escola
         principalmente pela necessidade de afastar  a Delegação Marítima.     de Alunos Marinheiros que se instala numa

         20  SETEMBRO/OUTUBRO 2009 U REVISTA DA ARMADA
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