Page 317 - Revista da Armada
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Fomos distribuídos por vários navios  da ilha, Sir Edmund Lowe (descendente  da Vaca” «para que mais ninguém fosse
         até embarcarmos, com o curso anterior,  do Lowe envolvido no “falecimento” de  descobrir os jazigos de petróleo que ela
         no Cruzador “Carvalho Araújo” para fa-  Napoleão – assunto Tabu, dirá o Consul  já conhecia», os navios que chegavam, o
         zermos o tirocínio de navegação e prepa-  francês)... levando-me como ajudante de  reluzente  “República” gémeo do nosso,
         rarmos a tese necessária para a promoção  ordens (clandestino, claro), mas com os  com os amarelos... verdes (fruto do típico
         a 2º tenente.                      respectivos cordões dourados, que muito  “spleen” que atingia os oficiais nas “esta-
           Como destino final, Angola, onde de-  me envaideciam...              ções nas colónias») o reencontro de cama-
         veríamos fazer uma estação de dois anos   Jantar... com “Medals and Decora-  radas, as missões de soberania ao longo
         a par de duas missões diplomáticas: re-  tions”… o Comandante cheio... e eu duas  da costa, etc.
         presentar Portugal em Bolama, a antiga  envergonhadas fitinhas de Bom Com-  Em Fevereiro de 33 passam ao “Repú-
         capital da Guiné, na inauguração de um  portamento e de Socorros a Náufragos,  blica” para seguirem para Moçambique
         monumento a dois aviadores italianos  que o Comandante me “obrigou a levar”  mas mandam-nos regressar no paquete
         que, vindos do Brasil, foram aí morrer e,  para não fazer má figura... Senti-me um  “Niassa” até embarcarem na «“Sagres”
         de seguida, em Santos, a fundação da 1ª  “bébé”... acarinhado por aquelas simpáti-  para uma viagem incluída nas provas do
         Capitania, por Martim Afonso de Sousa,  cas senhoras, já de respeitável idade».  exame para segundo tenente» com «exa-
         no Brasil que enviou, a                                                            me final da tabela»... «Foi
         receber -nos o couraçado                                                           então que saímos do sau-
         “Minas Gerais”, tão “es-                                                           doso Corpo de Alunos da
         magador” que, dizíamos,                                                           Foto Reinaldo de Carvalho  Armada».
         a sua «ronda... tinha de                                                             Na memória, cada um
         andar de bicicleta.»                                                               dos oficiais, os lentes,
           Facto é que do Minis-                                                            tudo nomes que extra-
         tro da Marinha, dos ofi-                                                            vasaram a Armada, os
         ciais (almoço na ilha de                                                           “Filhos da Escola” mas
         Perchá) e civis brasileiros,                                                       também sargentos e pra-
         bem como das colónias                                                              ças como o «Sr. Paulo,
         portuguesas de Santos                                                              um sargento reformado,
         (recepção no Real Centro                                                           já velhote, muito bondoso
         Português e espectáculo                                                            e nosso amigo… o “Quin-
         regional no Teatro do Co-                                                          zé”, um marinheiro, tam-
         liseu) e de S. Paulo (Fes-                                                         bém reformado, que nos
         ta “Minhota”) a recepção                                                           resolvia os problemas lo-
         que tivemos foi muito                                                              gísticos e os “enrascan-
         amigável e calorosa.»                                                              ços”», cujo filho, os irre-
           Graças às «excelentes                                                            verentes aspirantes logo
         relações estabelecidas...                                                          alcunharam, claro, de
         e aos eruditos e eloquen-                                                          “Sete e meio”...
         tes discursos do nosso co-                                                           O Engenheiro Cons-
         mandante..., que encanta-                                                          trutor Naval que, então,
         ram todos, especialmente                                                           não teria acesso ao pos-
         o Ministro da Marinha»                                                             to de Almirante, ficou 1.º
         brasileiro que conseguiu                                                           Tenente por, depois de
         que Lisboa autorizas-                                                              um notável desempenho
         se a impensável ida ao                                                             no novíssimo Arsenal do
         Rio… donde, anos antes,                                                            Alfeite, ter sido aliciado
         o “Adamastor” zarpara   O Eng.° João Rocheta proferindo uma conferência no I.S.N.G.  para projectos da maior
         prudentemente porque dois oficiais, face   Visitámos a casa e o túmulo vazio do  envergadura, nomeadamente na LISNA-
         à falsa notícia de que marujos nossos ti-  Corso.                     VE que foi o maior estaleiro de reparação
         nham desertado em massa, foram à Re-  «E, finalmente, fomos para Luanda,  da Europa... Digamos que, além da Arma-
         dacção dar uma sova no jornalista e atirar-  onde chegámos em Março ou Abril de  da, atingiu o Almirantado e que é também
         -lhe os móveis pela janela fora!   1932... pacata cidade, com casas tipo co-  um dos mais antigos Membros da Acade-
           Assim, tornou-se o «sonho tanto mais  lonial, geralmente construídas sobre esta-  mia de Marinha.
         agradável, porque apanhámos, em cheio,  cas... Os únicos grandes edifícios de que   Conscientes do muito que tivemos de
         o célebre Carnaval carioca!» As “modi-  me lembro, eram o Palácio do Governador  omitir, resistimos a registar as diferen-
         nhas” de que ainda me recordo, as noites  e o Hospital... e os raros degredados... fato  ças para o nosso tempo mas se cada leitor
         a dançar no Teatro Municipal ou no lu-  de ganga azul e chapéu de palha de copa  no-lo desse a conhecer teríamos as etapas
         xuoso Clube da Marinha, os membros da  cilíndrica, à “Maurice Chevalier”.»  duma evolução de quase um século. Este
         colónia portuguesa… Enfim, «se ficásse-  A bordo... além dos habituais serviços de  desafio, para que o leque de olhares seja
         mos lá mais tempo arriscávamo-nos (com  rotina e de escala... dávamos lições às pra-  mais abrangente, abre-se a todos os que,
         convites para “desertar”) a ficarmos todos  ças “menos letradas”... nós os G/M tínha-  onde quer que seja, serviram ou servem
         noivos das belas moças»… mas apenas um  mos, ainda, de trabalhar as nossas “me-  na Armada.
         voltou para se casar.              mórias de fim de curso” o que nos tomava                            Z
           Mas «fui “gentilmente” forçado a fazer  bastante tempo. Outra actividade... não me   Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves
         um “tirocínio” exta... O Comandante des-  saí mal... campeão de tiro de Luanda. É o                1TEN
         cobriu que eu sabia escrever à máquina  único trofeu que posso, orgulhosamente,   Nota
         (tridigitalmente)...»              mostrar aos meus netos e bisnetos!   Este texto é constituido por extractos do
           «Singrámos para Luanda, com esca-  Os muitos festejos, os chás, as parti-  opúsculo A “Velha” Escola Naval da autoria
         la em Santa Helena... O comandante foi  das de Ténis com os ingleses, no “court”   do Eng. João Farrajota Rocheta e datado de 14
         apresentar cumprimentos ao governador  duma agência da “Companhia do Olho   de Julho de 2008.
                                                                              REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2009  27
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