Page 351 - Revista da Armada
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de pesca (que também se faz), os meus jectivo principal, ou seja, o regresso à
olhos e o meu corpo já estão preparados Ilha do Pico que se encontrava a 2000
para essas situações extremas. Todavia, milhas de distância. Foi o que fiz, pois ti-
asseguro que não é fácil e sempre que nha mantimentos, combustível e água, e
consigo dormir, há um lado que perma- analisando as previsões meteorológicas,
nece acordado.” decidi continuar e aproveitar os ventos
Já na fase final desta volta ao mundo, e correntes favoráveis”.
foi vítima de um acidente, quando um Nas derradeiras milhas da sua longa e
temporal partiu o mastro e destruiu a ge- dura aventura, com a ilha a bombordo,
noa, numa altura em que se encontrava a o iate “Hemingway” foi acompanhado
cerca de 2 mil milhas náuticas do Arqui- por mais de trinta embarcações, e pelo
pélago dos Açores. Apesar dos estragos N.R.P. “António Enes”, tendo sido re-
provocados pelo temporal na embarca- À saída de Dili a bordo do “Hemingway”, Genuíno Madruga cebido, com elevado entusiasmo, pelo
ção e de algumas escoriações, Genuíno com o Dr. José Ramos Horta e o Embaixador Dr. João Pinto. seu povo e inúmeras entidades, que não
Madruga não desistiu e improvisou um quiseram deixar de estar presentes neste
mastro com a retranca e com uma pe- memorável dia.
quena vela manteve a proa direccionada Genuíno Madruga foi o primeiro por-
para o Pico, onde, e devido a este con- tuguês a dar a volta ao mundo em veleiro
tratempo, chegou com uma semana de solitário, sendo o 10º a nível mundial a
atraso relativamente à data prevista. concretizar tal feito, tendo-o, aliás, rea-
Questionado sobre o que sentiu na- lizado pela segunda vez.
quele momento, referiu: No respeito da melhor tradição náu-
“Foram momentos muito difíceis, e tica portuguesa, Genuíno Madruga fez
não via a hora de terminarem. Depois questão de, invariavelmente, levar o
de as coisas acalmarem, só pensava no nome de Portugal e o velho saber ma-
que devia fazer e tinha que tomar uma rítimo Português mais longe, ajudando
decisão. Tinha poucas hipóteses à es- um pouco, à sua maneira, a sedimentar
colha, nomeadamente, regressar a São As palavras do velejador à chegada ao Pico. o prestígio de Portugal no mundo.
Luís do Maranhão (Brasil) que se encontra- a Ilha de Guadaloupe (Caraíbas), provavel- Z
va a 600 milhas, ou dirigir-me para a Ilha de mente a hipótese mais sensata, ou ainda, a Marco Sousa Ferreira
Tobago a 800 milhas, ou ainda, rumar para solução derradeira, não perder de vista o ob- 1TEN SEP
ACADEMIA DE MARINHA
“A Marinha em África”
“A Marinha em África”
Foto Reinaldo de Carvalho
m sessão presidida pelo Almirante Nuno Vieira Matias, teve norte-americano, agora disponível em língua portuguesa, e de uma in-
lugar a 22 de Setembro, no auditório da Academia, a cerimó- tervenção do Dr. Nuno de Carvalho, responsável da editora Prefácio, o
Enia de lançamento do livro «A Marinha em África – Angola, Prof. Doutor John Cann fez a apresentação do seu livro, tendo deixado
Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais 1961-1974», da autoria bem expressa a sua admiração pela forma como a Marinha Portuguesa
do Prof. Doutor John P. Cann. soube conduzir as campanhas de águas interiores em África, sem des-
Depois do presidente da Academia de Marinha ter historiado a géne- curar as suas responsabilidades enquanto membro da NATO. Z
se da obra e o mérito do longo trabalho de investigação daquele autor (Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA)
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2009 25