Page 370 - Revista da Armada
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porém, certos que Portugal não pode ceder a outros a sua responsa-  A primeira diz respeito à inserção numa só estrutura dos elemen-
         bilidade soberana e de intervenção nas zonas oceânicas do seu inte-  tos da componente operacional do Sistema de Forças dependentes
         resse estratégico, não podendo, por isso, dispensar a arma submarina,  do Comando Naval e dos que asseguram tarefas operacionais no
         como, em devido tempo, e bem, foi reconhecido pelo poder político.  âmbito do Instituto Hidrográfico, da Autoridade Marítima Nacio-
         Ter submarinos é caro, muito caro, mas muito mais caro seria não os  nal e do Serviço de Busca e Salvamento Marítimo.
         ter em especial para as gerações que nos sucedem.     A segunda evolução decorre do reconhecimento da importância
           Faço votos para que a miopia marítima                                  do recurso “informação” e traduziu-se
         que ciclicamente nos afecta e que nos úl-                                na criação de um novo órgão central de
         timos anos tem apresentado sintomas de                                  Foto SAJ FZ Silva  administração e direcção com a missão
         recuperação não sofra uma recaída irre-                                  de assegurar as actividades da Marinha
         versível que retire a Portugal o seu maior                               no domínio da gestão da informação e
         potencial de desenvolvimento – o mar.                                    da administração das tecnologias da in-
           Não menos importante, será a concre-                                   formação: a Superintendência dos Servi-
         tização do contrato de aquisição do navio                                ços de Tecnologias da Informação.
         “polivalente logístico”, o mais conjunto de                                A terceira novidade traduziu-se na
         todos os meios do nosso sistema de forças                                criação da Inspecção-Geral de Marinha,
         e um elemento essencial para assegurar a                                 dando resposta à necessidade, há muito
         nossa capacidade expedicionária. Por fim,                                 sentida, de possuir um serviço central
         aguardamos a disponibilização das viatu-                                 de inspecção individualizado. Este novo
         ras tácticas ligeiras blindadas que permi-                               órgão permitirá sedimentar o modelo de
         tam a integração dos Fuzileiros na unidade                               gestão estratégica da Marinha, pelo re-
         de Force Protection do módulo de apoio                                   forço da função “inspecção”.
         às OMLTs no Afeganistão, prevista para o                                   Ainda, no domínio estrutural, concre-
         início de 2010.                                                          tizou-se a empresarialização do Arsenal
                                                                                  do Alfeite, medida da maior importância
           Distintos convidados,                                                  e impacte estratégico, que representa um
           No domínio estrutural, o nosso paradi-                                 novo desafio para a Marinha. Estou certo
         gma é o de uma “Marinha Optimizada”,                                     que, em estreita colaboração, saberemos
         com uma organização capaz de maximi-                                     encontrar as melhores soluções para que
         zar a articulação dos seus meios, no âmbi-                               a Esquadra continue pronta.
         to das tarefas que o País necessita para usar o mar. Isto implica manter   E, finalmente, após um longo processo que todos conhecemos,
         a sua estrutura em permanente evolução, adequando-a continuamen-  concentrou-se, como se impunha, a ETNA no Alfeite rentabilizan-
         te às necessidades e respeitando a sua inserção no âmbito das Forças  do-se recursos.
         Armadas e da Defesa Nacional.                         Os caminhos estão abertos para que as gerações que nos suce-
           Como sabem, ficou concluída recentemente a Reorganização da Es-  derem tenham condições para melhorar o muito que se fez com
         trutura Superior da Defesa Nacional e das Forças Armadas, que se tradu-  competência, dedicação e visão do futuro.
         ziu na revisão da Lei de Defesa Nacional,
         da Lei Orgânica de Bases da Organização                                    Ilustres convidados
         das Forças Armadas, conhecida como LO-                                  Foto Júlio Tito  No domínio operacional, o nosso pa-
         BOFA, e das Leis Orgânicas do MDN, do                                    radigma é o de uma “Marinha de Duplo
         EMGFA e dos três ramos.                                                  Uso”, pronta para realizar, simultanea-
           No que respeita à Lei de Defesa Na-                                    mente, uma actuação militar no plano da
         cional e à LOBOFA, considero que, no                                     defesa militar e do apoio à política exter-
         essencial, foi respeitada a especificidade                                na, e uma actuação não militar, centra-
         da Marinha, que decorre do ambiente em                                   da na segurança e autoridade do Estado
         que actuamos e das tarefas que desempe-                                  no mar e no apoio ao desenvolvimento
         nhamos, algumas delas sem carácter mar-                                  económico, científico e cultural.
         cadamente militar.                                                         A Marinha está ciente de que, face à
           Estão neste caso as seguintes missões                                  complexidade do ambiente de seguran-
         cometidas à Marinha:                                                     ça actual, só será possível dar resposta
           s %XERCER A AUTORIDADE MARÓTIMA E GARANTIR                             aos múltiplos desafios que se colocam
         o cumprimento da lei nos espaços maríti-                                 no imenso mar português através de uma
         mos sob soberania ou jurisdição nacional;                                cooperação alargada entre as várias en-
           s !SSEGURAR O SERVI O DE BUSCA E SALVA-                                tidades que nele exercem responsabili-
         mento marítimo nos espaços marítimos                                     dades. Esta premissa, tem-nos motiva-
         sob responsabilidade nacional;                                           do para assumir uma postura de grande
           s 2EALIZAR OPERA ÜES E ACTIVIDADES NO                                  abertura e de incentivo à cooperação
         domínio das ciências e técnicas do mar.                                  entre departamentos do Estado, designa-
           Estas tarefas exigem uma organização                                   damente no âmbito do Centro Nacional
         própria e integrada, a funcionar perma-                                  Coordenador Marítimo, fórum que tem
         nentemente no mar e em terra, que muito                                  permitido melhorar a articulação entre
         beneficiará das valências únicas existen-                                 os diversos intervenientes, contribuindo
         tes no Centro de Operações Marítimas: COMAR.         decisivamente para a afirmação de Portugal nos espaços marítimos
           No que respeita à Lei Orgânica da Marinha, a LOMAR, o anterior  de sua responsabilidade.
         diploma esteve em vigor cerca de 16 anos e já não correspondia inte-  É também com esse propósito que temos vindo a desenvolver a
         gralmente à actual realidade estrutural.             Iniciativa Mar Aberto, na qual procuramos pôr em prática um mode-
           A sua revisão, proporcionou a oportunidade para concretizar al-  lo de cooperação inovador, indo ao encontro das necessidades dos
         gumas alterações que visam optimizar a organização da Marinha.  PALOP e de Timor-Leste, no ambiente marítimo. Esta iniciativa tem
         Citarei apenas três delas.                           enquadrado, todos os anos, o empenhamento em África de uma uni-

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