Page 372 - Revista da Armada
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NRP “Álvares Cabral”
NRP “Álvares Cabral”
Navio-Almirante da SNMG1
Navio-Almirante da SNMG1
PARTE III
“A CAMINHO DA GRÉCIA” os voos do seu helicóptero orgânico “Rogue”, tentam identificar algum movimento suspeito.
que treina a operação com a metralhadora Ao fim de uma hora, chegam finalmente ao
A M3M de 12.7mm recentemente adquirida pela VHF as palavras de código que indicam que a
estadia em La Valetta, capital da Repú-
blica de Malta, constituiu uma excelen-
Marinha, também ajudam a preencher o pla-
documentação e carga foram verificadas. De-
te oportunidade para retemperar forças, neamento diário da “Álvares Cabral”, fazendo pois de recolhidas as equipas, o navio mercan-
tendo em vista o segundo período de empe- com que os dias passem “a voar”... te prossegue a sua rota, enquanto a “Álvares
nhamento na operação Active Endeavour. Esta Ao quarto dia de navegação, em pleno tea- Cabral” retorna a sua rotina de patrulha.
cidade situa-se na ilha de Malta, que faz parte tro da Active Endeavour os navios são sepa- No dia 23 junta-se à força o navio ucrania-
de um arquipélago de cinco ilhas, com pouco rados de acordo com os seus taskings (instru- no “Ternopil” e o navio grego “Salamis”. Nes-
mais de trezentos quilómetros quadrados de ções), ficando a “Álvares Cabral” a navegar na ta altura, o nosso navio já navega para oeste
área e que dá o nome ao país. Localizada 90 companhia do “Drazki” em direcção à área após uma breve passagem a sul da Turquia, já
quilómetros a sul da Sicília e 290 quilómetros de patrulha atribuída, situada ao largo da Síria noutra área de patrulha da operação.
a norte da Líbia, ocupando uma posição muito e do Líbano. Esta operação naval, conduzida Com a ilha de Creta em pano de fundo, e a
privilegiada entre dois continentes tão distintos pela NATO, foi iniciada no final de 2001 e tem poucas horas de atracar, a “Álvares Cabral” ain-
como a Europa e a África, Malta da seria chamada a outra acção
é sem sombra de dúvidas, e em de vistoria. Desta vez o mar en-
particular nos dias que correm, crespado não aconselhava à utili-
uma ponte de culturas onde a zação da semi-rígida, pelo que a
história, a religião e o lazer con- inserção e a recolha das equipas
vivem em franca harmonia. foram executadas com recurso
A manhã de 12 de Outubro ao helicóptero do navio.
nasceu solarenga, como que A noite de 25 de Outubro
transmitindo algum alento aos já estava bem escura quando
marinheiros da “Álvares Ca- o navio atracou finalmente em
bral”, que partiam de La Valet- Souda Bay, Creta, dando por
ta para mais uma tirada da sua concluída a sua participação na
longa missão. Ao largar do últi- operação Active Endeavour.
mo cabo da amarração, ainda Esta escala permitiu algum
se podiam ouvir os gracejos e descanso à guarnição, mas
as peripécias vividas pela maru- houve ainda a possibilidade de
jada neste porto mediterrânico. frequentar no centro de treino
Agora, à sua frente restam ainda Os NRP “Álvares Cabral”, FGS “Rhöen” e ESPS “Mendez Nuñez”. NMIOTC (NATO Maritime In-
quinze dias de navegação, antes de nova pa- como objectivo primordial o combate ao ter- terdiction Operations Training Center) alguns
ragem, desta vez em Souda Bay, Grécia. rorismo, através do controlo e monitorização módulos sobre acções de boarding, aspectos
Navegando para leste a caminho do extre- da navegação que circula desde o extremo legais e regras de empenhamento relaciona-
mo oriental do Mar Mediterrâneo, ostentando oriental do Mar Mediterrâneo até ao Estreito de dos com as missões de combate à pirataria e
o distintivo de Navio-Almirante da SNMG1, Gibraltar, com vista à detecção, identificação em especial da operação Ocean Shield que
a “Álvares Cabral” segue inicialmente na e seguimento de navios suspeitos de envolvi- o navio integrará nos próximos meses. A uti-
companhia do navio reabastecedor alemão mento em actividades ilícitas. lização de um simulador de um navio mer-
“Rhöen”. O rendez-vous com os restantes A neblina e o sol dificultam um pouco a vida cante, com a reprodução de alguns dos espa-
navios da força só acontece durante a tarde, aos vigias, mas os leves contornos no horizonte ços típicos desses navios, possibilitando mais
altura em que é iniciado o trânsito conjunto não deixam dúvidas, “Terra à vista!”. Já na área uma excelente oportunidade de treino para
para as áreas definidas para a operação Active de patrulha e a navegar solitariamente, a “Ál- as equipas de boarding, superando algumas
Endeavour. De entre as unidades deste grupo vares Cabral” passa a norte da Ilha de Chipre, das situações mais complexas que se pode-
salienta-se a presença do navio da marinha com a derrota traçada para patrulhar a zona rão encontrar durante uma abordagem a um
búlgara, o “Drazki”, que constitui uma opor- entre a antiga costa fenícia actual Síria e a ilha navio suspeito.
tunidade única de interacção com navios cipriota. Sendo uma das maiores ilhas do Me- Durante a estadia, o navio embarcou ain-
deste país do leste europeu. Já mais familiar diterrâneo, a ilha de Chipre impressiona pela da alguns sobressalentes indispensáveis vin-
é a presença da fragata alemã “Hamburg”, dimensão do seu monte Olimpo, com quase dos de Lisboa que permitiram efectuar várias
que irá acompanhar a força durante os dois dois mil metros de altura. acções de manutenção indispensáveis para
primeiros dias. A tarde já vai longa e o sol já se encaminha o próximo empenhamento no Índico e uma
Ao sabor do vento e da ondulação, os navios para o horizonte a oeste, quando o navio é quantidade considerável de mantimentos,
evoluem cumprindo com um programa seria- chamado a conduzir uma acção de boarding adquiridos no mercado local, já a pensar nos
do concebido para solidificar a interoperabili- a um navio mercante que fazia parte da lista próximos sessenta dias de missão e nas difi-
dade e a coesão da força naval. Em paralelo, de navios de interesse. Depois de conduzido o culdades de abastecimento que possam advir
e com os olhos postos nas tarefas a que o con- interrogatório inicial na ponte, a semi-rígida é do outro lado do canal do Suez. Como diz o
trolo da navegação poderá obrigar, cada navio arriada e as equipas de segurança e vistoria são ditado popular, “quem vai para o mar, avia-
vai preparando a sua capacidade de resposta, transportadas para bordo. O nosso navio man- -se em terra”.
treinando acções de interrogação e vistoria. A têm a posição na alheta de estibordo, enquan- Z
bordo, os exercícios de limitação de avarias e to na ponte os vigias, de binóculos apontados, (Colaboração do COMANDO NAVAL)
10 DEZEMBRO 2009 U REVISTA DA ARMADA