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PONTO AO MEIO DIA
ESTRATÉGIA NACIONAL
Alguns parâmetros de caracterização
estratégia de um Estado para agir de diferente natureza, mas interdepen- acção no Atlântico e no Índico; desenvol-
nas relações internacionais - estra- dentes, para diversas situações estratégi- ver e liderar a tecnologia necessária à su-
A tégia nacional - pode ser definida cas e áreas geográficas onde se verificam perioridade no mar; incrementar e consoli-
como a ciência e a arte de edificar, estru- os problemas a superar e as eventualida- dar as relações diplomáticas com os povos
turar e empregar todos os meios de coac- des a explorar. Na maior parte das vezes, nativos das áreas de exploração, por forma
ção num dado meio e tempo, para mate- a materialização de tais objectivos, exige a conseguir equilíbrios favoráveis aos inte-
rializar os objectivos nacionais, superando resses económicos portugueses; fomentar
problemas e explorando eventualidades e concretizar entrelaçamentos dinásticos
em ambientes de desacordo. Este concei- que levassem à união ibérica sob domí-
to torna claro que uma estratégia nacio- nio português. Estes objectivos visaram
nal se pode caracterizar por um conjunto garantir a soberania nacional, aumentar a
de parâmetros que, entre outros, engloba: liberdade de acção política internacional e
os objectivos nacionais estabelecidos pe- criar um espaço de afirmação extra penin-
los decisores políticos; a forma como os sular, onde o país poderia captar os recur-
meios de coacção são preparados (edifica- sos essenciais à sua viabilidade económica.
dos e estruturados) e empregues no meio Para isso, houve que desenvolver e aplicar
e no tempo para superar problemas e ex- intensa e extensamente o poder marítimo,
plorar eventualidades; os efeitos básicos em adequada coordenação com o poder
que a preparação e o emprego dos meios diplomático, que fomentou a política de
de coacção provoca em ambientes de de- alianças e obteve da Santa Sé o reconhe-
sacordo ligados a situações estratégicas e cimento da legitimidade das conquistas e
a determinadas áreas geográficas; o grau zonas de influência, acção onde D. João II
de dependência da estratégia nacional de foi figura maior.
apoios externos aliados e amigos. Qualquer estratégia nacional caracteri-
Os objectivos nacionais não são estabe- za-se, também, pela forma como os meios
lecidos no contexto de situações abstrac- de coacção são preparados e empregues
tas, nem para atender a anseios sociais a preparação e o emprego de múltiplos no meio e no tempo, para superar proble-
vagos, mas por imposição de conjunturas meios de coacção, segundo expressões, mas e explorar eventualidades em diferen-
incontornáveis e dinâmicas, que ao longo concepções, procedimentos e instrumen- tes situações estratégicas e áreas geográfi-
do tempo são capazes de forçar mudanças tos diversos. Foi o que Portugal fez quan- cas. A título ilustrativo refere-se o caso de
nas opções estratégicas assumidas. Nes- do, a partir de 1415, se lançou na expansão Portugal que, após a expulsão dos mouros
tas circunstâncias, a formulação de uma ultramarina. Estabeleceu como objectivos do território nacional peninsular, focali-
estratégia nacional adequada, exequível nacionais: obter e manter o monopólio co- zou a preparação e o emprego dos meios
e aceitável, obriga os decisores políticos mercial com o noroeste africano, Guiné e de coacção na neutralização de Castela, o
a considerar vários objectivos nacionais Índia; alcançar e preservar a liberdade de que implicou contê-la em terra, pela dis-
4 FEVEREIRO 2009 U REVISTA DA ARMADA