Page 45 - Revista da Armada
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e às Ciências e, oito anos mais tarde, transformou-  de conduzir o barco da Academia para novos e mais  Sucedeu-lhe na presidência Teixeira da Mota que,
         se o Centro de Estudos de Marinha em Academia  rasgados horizontes”. (fim de citação).  desafortunada e inesperadamente, morreu em Abril
         de Marinha.                          Ao lembrar o antigo presidente, aproveito para  de 1982. A sua morte criou um vazio crucial e grave
           Em 1960, nas Comemorações Henriquinas, a  prestar homenagem a todas as personalidades es-  crise de provimento do cargo e da própria sobrevi-
         Escola Naval realizou no Mosteiro dos Jerónimos  tranhas à Armada, académicos e convidados, que,  vência da Academia.
         o V Colóquio Internacional sobre a História e a  com o seu talento, o seu saber, o seu currículo e a   Esse vazio, já foi aqui dito, “paralisou a já ténue
         Economia do Navio, que congregou historiadores  sua assiduidade, muito enriqueceram a Academia,  actividade da Academia e gerou alguma desorien-
         do mais alto nível internacional.                                        tação entre os seus membros” (fim de citação).
           Foi então que Sarmento Rodrigues, consi-                               Foi muito importante nessa altura o trabalho do
         derando o elevado número e o elevado nível                               secretário-geral eng.º Viriato Tadeu até a crise
         dos especialistas portugueses, se lembrou de                             ser resolvida quando o prof. Arantes e Oliveira
         fundar o Grupo de Estudos de História Marí-                              aceitou ser eleito presidente.
         tima, que só veio a ser criado, por razões da sua                          Em 1986 foi eleito formalmente o almirante
         vida profissional, em Março de 1969 pelo Mi-                              Rogério de Oliveira e em 2004 assumiu a pre-
         nistro Pereira Crespo. Foram seus fundadores                             sidência o almirante António Sacchetti, com a
         os ilustres historiadores que figuram no quadro                           difícil, honrosa e bem sucedida missão de dar
         agora descerrado e, passado pouco mais de um                             continuidade à obra dos seus antecessores.
         ano, foi fundado o Centro de Estudos de Ma-                                Sob a sua presidência, os trabalhos têm
         rinha, sendo escolhidos para membros da nova                             mantido o interesse, a variedade, a frequência
         Secção de Artes, Letras e Ciências, no dizer do                          e o nível científico e cultural a que estávamos
         anterior presidente, “doze distintas personali-                          habituados.
         dades, das quais apenas dois estão vivos”. O                               Não posso deixar passar em branco a satis-
         almirante Max Guedes, primeiro membro es-                                fação da Academia de Marinha com a recente
         trangeiro desta Academia, lembrava a carta que                           admissão na Academia de Ciências de Lisboa
         lhe escreveu Sarmento Rodrigues, em 1970,                                dos nossos confrades António Sacchetti e Nuno
         comunicando-lhe a ideia da criação do Centro                             Vieira Matias. Foram notáveis as suas primei-
         de Estudos de Marinha, que veio a ser inau-                              ras comunicações àquela Academia sobre o
         gurado nesse mesmo ano com a presença do                                 Mar e em defesa do Mar Português.
         Ministro e do Embaixador do Brasil, tendo eu                               Parece despropositado, mas merece refe-
         merecido a honra de ser escolhido para orador                            rência o muito interessante e original Livro
         da sessão inaugural. E, em 1983, já nesta sala,   Comandante Serra Brandão.  do Curso D. Lourenço de Almeida, agora
         dizia Max Guedes: “A Academia viria a tornar-se  contribuindo com a diversidade dos seus trabalhos e  publicado, onde se reconhece a colaboração de
         um dos mais operosos, dinâmicos e eficientes orga-  intervenções, para a sua valorização e projecção.  distintos membros da nossa Academia.
         nismos culturais entre os muitos que conheço e com   Entre os confrades que não pertencem à Arma-  Todos nos lembramos das palavras com que Sar-
         que intimamente convivo. (…) E, continuava Max  da, refiro os actuais vice-presidentes, Raquel Soeiro  mento Rodrigues visionou a criação da Academia:
         Guedes, recordo os colóquios, simpósios e congressos  de Brito e Francisco Contente Domingues, distin-  (cito) “Dificilmente se compreende que numa na-
         realizados, o avultado número de sessões culturais  tos professores com notável currículo, obra reali-  ção cuja principal grandeza teve origem no Mar,
         que geraram importantes publicações, hoje indis-  zada e nomes bem firmados nas matérias das suas  que no Mar recolheu as suas maiores glórias e que
         pensáveis em qualquer biblioteca ligada a assuntos  especialidades.   ainda depende grandemente do Mar, não exista um
         marítimos de qualquer natureza”. (fim de citação).  Voltando à história da Academia, relembro De-  organismo de cultura que ao Mar seja especialmen-
           É agradável aos Académicos ouvir estas palavras  zembro de 1978, quando o Chefe do Estado-Maior  te dedicado”.
         de um membro estrangeiro, tão antigo e tão presti-  da Armada Sousa Leitão, considerando a notável   E se era assim no tempo do Almirante, nestes
         giado. Mas há mais!                acção desenvolvida pelo Centro, criou em seu lugar  novos tempos de mudança em que, no interes-
           Idêntica opinião seria manifestada pelo nosso  a Academia de Marinha.   se comum, acordámos subtrair poder aos Estados
         confrade Veríssimo Ser-                                                                Europeus limitando as
         rão, então presidente da                                                               soberanias, mais se refor-
         Academia Portuguesa de                                                                 ça a necessidade de con-
         História. E cito “A Aca-                                                               tribuir para a afirmação
         demia de Marinha pode                                                                  dos valores que projecta-
         vangloriar-se da obra                                                                  ram a Nação Portuguesa
         considerável que tem le-                                                               e foram determinantes na
         gado à cultura portugue-                                                               sua consolidação, inde-
         sa. Sendo a mais recente                                                               pendência e economia. E
         das academias nacionais,                                                               aproveito para citar, resu-
         não hesito em reconhecer                                                               midamente, o que disse a
         que é, porventura, pela                                                                este respeito, com a maior
         assiduidade dos sues                                                                   oportunidade há cin-
         membros e pelo trabalho                                                                co anos, o então CEMA
         realizado, a mais promis-                                                              Nuno Vieira Matias no
         sora e activa das institui-                                                            encerramento de um co-
         ções homólogas que fun-                                                                lóquio nesta Academia:
         cionam no nosso País”.                                                                 “Temos de encontrar
           Continuava o profes-  Prof. Doutor Contente Domingues.  CALM Leiria Pinto.           formas de compensar os
         sor, “penso (…) que esta                                                               efeitos negativos dessas
         dinâmica actuação a devemos todos a quem, há tan-  Sarmento Rodrigues foi o seu primeiro presiden-  limitações, e espero que a Academia de Marinha
         tos anos, está na ponte de comando da Academia de  te, mas não quis o destino que ele engrandecesse a  contribua para aclarar os espíritos sobre a impor-
         Marinha (…). O senhor almirante Rogério de Oli-  Academia de Marinha ao nível do seu sonho, nível  tância da nossa maritimidade (…) e para a necessi-
         veira deu o melhor dele próprio, num esforço profí-  coerente com a superior e nobre missão que lhe des-  dade de uma estratégia nacional para os oceanos”.
         cuo e diário, (…) vivendo, hora a hora, a satisfação  tinara. O almirante veio a morrer sete meses depois.  (fim de citação).
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2009  7
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