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AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 10
Franqueza e Bom Humor
Os pilares da harmonia social e do desempenho
Caros cadetes, neste artigo trato da ligada à disciplina, à lealdade e à abne- O bom humor perante os superiores,
franqueza e do bom humor, duas gação, virtudes militares de que vos falei revela respeito e contribui para que estes
virtudes militares essenciais à ma- em artigos anteriores. Esta coragem, na mantenham a mente aberta na tomada de
nutenção da harmonia social e à melhoria prática, expressa-se na capacidade que decisões. O bom humor para com os pares,
do desempenho na Marinha. cada um tem para ouvir coisas contrárias é a prova de tranquilidade de espírito no
ao seu pensamento, susceptíveis de cau- cumprimento das obrigações recíprocas.
A franqueza traduz-se em, perante sar desagrado, absorvendo com respeito O bom humor para com os subordinados,
uma determinada situação, expressar aquilo que é dito pelos outros, reagindo afirma a vontade sincera dos superiores.
as ideias com verdade, clareza e objec- com ponderação e tendo sempre presente
tividade, quando é solicitada uma opi- o superior interesse da Marinha. Caros cadetes, a prática do bom humor
nião, ou quando cumpre apresentá-la. O exige coragem, decorrente do respeito, da
bom humor consiste em patentear uma O uso da franqueza, sendo essencial, tranquilidade de espírito e da vontade
atitude favorável
ao adequado rela- deve ser exibido com oportunidade e in- sincera que é neces-
cionamento social. teligência. A oportunidade destina-se a sário revelar naqui-
Também é represen- evitar que a franqueza se torne um exer- lo que se diz ou nos
tado por uma ironia cício vulgar, quantas vezes desnecessário, actos que se prati-
delicada, oportuna inexpressivo e ostensivo, que transforma cam, no contexto do
e pronta a quebrar o seu autor numa pessoa grosseira e de relacionamento com
impasses, gerando relacionamento difícil. A inteligência des- superiores, pares e
a cordialidade ne- tina-se a evitar que a franqueza seja pra- subordinados. Po-
cessária à solução ticada relativamente aos pobres de espí- rém, essa coragem
de problemas. Para rito e aos prepotentes, que a confundem necessita de ser mui-
além disso, revela-se com a indisciplina e, quantas vezes, por to sólida, porque o
na postura de ale- possuírem mentes medíocres e obtusas, bom humor está in-
gria permanente na reagem com intempestividade. timamente ligado à
vida, mesmo peran- resignação, à obedi-
te situações de gran- O bom humor aproxima as pessoas e ência e ao carácter,
de dificuldade. contribui para um relacionamento, des- virtudes militares de
contraído e natural no serviço, com su- que vos falei em ar-
A franqueza esti- periores, pares e subordinados. Também tigos anteriores. Esta
mula a apresenta- incentiva a alegria em todos os pensamen- coragem, na prática,
ção de ideias novas. tos e acções dos militares, sem prejuízo do expressa-se na capa-
Para além disso, rigor e das exigências que são próprias cidade que cada um
contribui para a da sua carreira. A conjugação destes três tem para manter a
tranquilidade e serenidade dos relacio- efeitos, cria condições para que a Marinha alegria, o entusiasmo e a boa fé em to-
namentos entre o pessoal da Marinha e cumpra a sua missão com maior eficiência das as circunstâncias da vida, sobretudo
para a melhoria das suas capacidades. A e eficácia, porque tranquiliza, cria siner- perante as desagradáveis, reagindo com
conjugação destes três efeitos, cria con- gias e une a vida dos militares. comedimento e tendo sempre presente o
dições para que a Marinha cumpra a sua superior interesse da Marinha.
missão com maior eficiência e eficácia, O uso do bom humor, sendo essencial,
porque tranquiliza, cria sinergias e une a deve ser exibido no quadro de uma postu-
vida dos militares. ra positiva e digna. A postura positiva con-
tribui para que as boas virtudes que todos
A franqueza perante os superiores, re- os militares possuem, se sobreponham e
vela consideração e contribui para que imperem nos relacionamentos sociais e no
estes melhorem as suas decisões. A fran- desempenho de cada um. A postura digna
queza para com os pares, é a prova de contribui para que o bom humor não seja
desprendimento no cumprimento das confundido com actos cénicos que trans-
obrigações recíprocas. A franqueza para formam o oficial num títere.
com os subordinados, afirma a autorida- Nestas circunstâncias, a franqueza e o
de moral dos superiores. bom humor, por manifestarem sinceri-
dade e disposição de ânimo, quando evi-
Caros cadetes, a prática da franqueza denciadas com ponderação e contenção,
exige coragem, decorrente da considera- contribuem de forma relevante para a ma-
ção, do desprendimento e da autoridade nutenção da harmonia social e para a me-
moral que é necessário revelar naquilo lhoria do desempenho na Marinha.
que se diz ou nos actos que se praticam
no contexto do relacionamento com su- Z
periores, pares e subordinados. Porém,
essa coragem necessita de ser muito sóli- António Silva Ribeiro
da, porque a franqueza está intimamente
CALM
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2010 13