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NRP “Álvares Cabral”
Navio-Almirante da SNMG1
PARTE V
“POR MARES OUTRORA mação ao helicóptero e recolha dos tripu- sempre que se aproxima um porto novo, a
equipa médica informa a guarnição, através
NAVEGADOS” lantes sinistrados. de uma palestra, das principais precauções
Dias mais tarde, contudo, a rotina será al- a ter em conta durante a estadia, nomea-
Depois de concretizada a primeira in- damente as medidas de protecção a tomar
teracção com uma embarcação de terada por causa de um evento que por certo para evitar a contaminação com o vírus da
piratas, em que a “Álvares Cabral” ficará registado na memória de grande parte malária, que ainda prolifera em muitos pa-
dos militares da guarnição, a passagem da íses africanos.
conseguiu impedir um ataque em curso, o linha do Equador. O dia 28 de Novembro Durante a tarde do dia 29, o relato de um
ataque a um navio de pesca espanhol a cerca
nosso navio regressou calmamente à sua acordara soalheiro como é hábito nestas pa-
de 240 milhas da nossa posição
rotina vigilante de patrulha no IRTC (Inter- ragens e o navio prosseguia tranquilamente fez com que a “Álvares Cabral”
fosse empenhada na persegui-
national Recommended Transit Corridor), o seu trânsito para sul, quase que indiferen- ção ao grupo de piratas. O grupo
operava com três embarcações
monitorizando a navegação pequenas e já tinha sido detecta-
do por uma aeronave de patrulha
mercante, em particular os na- marítima da força da União Eu-
ropeia também a operar na área,
vios designados de SRV (Severe e um Patrulha da Guarda-Cos-
teira das Seychelles iniciara já a
Risk Vessels), que pelas suas ca- perseguição. Já noite dentro, o
navio acabaria por localizar uma
racterísticas, nomeadamente, das embarcações, com 6 presu-
míveis piratas a bordo. Depois
baixo bordo livre, velocidade e de vistoriada, os seus tripulantes
foram transferidos para o Patru-
carga transportada, são consi- lha das Seychelles , tendo a “Álvares Cabral”
retomado o seu trânsito para Vitória.
derados como mais vulneráveis No dia 30 de Novembro, ao final da tarde,
o navio atracou no porto de Vitória, capital
aos ataques de piratas. das Ilhas Seychelles. Localizado a 600 milhas
náuticas a nordeste da ilha de Madagáscar, o
No dia 24 de Novembro, o arquipélago das Seychelles é um dos destinos
turísticos mais procurados no mundo inteiro.
navio deixou o Golfo de Áden, Para tal muito contribui a beleza natural da
ilha Mahé, onde se encontra si-
iniciando o trânsito para sul, tuada a cidade de Vitória, mar-
cada sobretudo pelo verde das
para patrulhar a costa leste da suas montanhas e por praias pa-
radisíacas pintadas com o azul
Somália, onde os ataques a cristalino da água.
navios mercantes se têm suce- Ao fim de dois dias de descan-
so em terra firme, a “Álvares Ca-
dido quase diariamente no úl- Exercício de tiro da metralhadora M3M do helicóptero ROGUE. bral” largou de novo, para mais
timo mês: Nesta zona da área uma tirada, esta talvez das mais
curtas da missão, uma vez que
de operações os ataques chegam a ocorrer te à agitação vivida a bordo. A efeméride foi Mombaça dista cerca de 1000
milhas de Vitória. O trânsito foi
a mais de 1000 milhas de costa, ou seja, a devidamente assinalada com a Festa do Rei aproveitado, sobretudo, para a
realização de diversos exercí-
mais de meio caminho entre a Somália e o Neptuno, uma das mais antigas tradições ma- cios de tiro, comemorando as-
sim condignamente o dia 4 de
arquipélago das Maldivas. Em rota, o rea- rítimas do mundo. As festividades começam Dezembro, dia de Santa Bárbara, padroeira
dos artilheiros, e para apoiar as reportagens
bastecimento com o navio americano USNS com o “corte” simbólico da linha do Equador efectuadas pelas equipas da SIC e da televisão
Ucraniana entretanto embarcadas.
John Lenthall permite repor os níveis de com- no castelo, que a tradição manda seja exe- Aos primeiros alvores do dia 5 de Dezem-
bro, o navio já se encontrava perto da entra-
bustível, assegurando a sustentação do na- cutado pelo militar mais moderno da guarni- da do porto de Mombaça, aguardando o em-
barque do piloto. Ao contemplar a cidade ao
vio durante os dias de patrulha que restam ção. Seguidamente, o Comandante do navio
até ao próximo porto. A dimensão da área é “aprisionado” pelos guardas do Rei Neptu-
de operações obriga a uma efi-
caz coordenação entre as várias
forças e meios disponíveis na
zona, nomeadamente no que
diz respeito ao reabastecimen-
to de combustível, factor que é
determinante no emprego ope-
racional de cada um dos navios
que por aqui navegam.
A bordo os dias sucedem-se
tranquilamente ao sabor da ro-
tina diária. O apito de alvorada
do Cabo de Quarto à Ponte dá
o mote para mais um dia. O Sol
já se vislumbra acima do hori-
zonte. Hoje, treinam-se os pro-
cedimentos de emergência de Momento do “corte da linha do Equador”.
queda do helicóptero no convés de voo. O no e levado a julgamento, na companhia dos
procedimento é relembrado a todos os inter- restantes militares que passam o Equador pela
venientes, ou seja, destacamento de helicóp- primeira vez. A festa do Rei dos Mares termi-
teros, equipa médica e equipa de combate a nou quando o Comandante do navio pintou
incêndios. Seguidamente, com o helicópte- a buzina de proa com a cor vermelha.
ro no convés de voo é simulada a emergên- Os portos de Vitória (Ilhas Seychelles) e
cia, sendo treinados todos os passos, desde Mombaça (Quénia) são os próximos a ser es-
o primeiro ataque ao incêndio até à aproxi- calados durante esta missão. Como é hábito
10 FEVEREIRO 2010 U REVISTA DA ARMADA