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REFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS 4
Círculos Polares
Terá sidoAristóteles (384-322 a.C.), na Gré- sa difusa. Os minúsculos raios que a compõem ção, resulta da inclinação do eixo daTerra a que
cia Antiga, quem estabeleceu, em função encontram-se alinhados com o campo magné- nos referimos anteriormente, que, por sua vez,
dos limites da declinação do Sol, as três tico terrestre, podendo assumir diversas tonali- está na origem de noções como astro circum-
grandes divisões climatéricas do planeta – co- dades8, num processo em tudo análogo ao que polar visível e astro circumpolar invisível, exac-
nhecidas como zona tórrida, zona temperada ocorre na formação da imagem num vulgar ecrã tamente o que sucede com o Sol nas altas latitu-
e zona frígida –, alegando que só na segunda de televisão clássico, do tipo CRT9. des. Para que se verifique o primeiro caso – astro
haveria condições para os seres hu- cienciaecuriosidade.wordpress.com circumpolar visível, isto é, sempre
manos habitarem. Ainda hoje em acima do horizonte –, torna-se ne-
voga, estas subdividem-se, por seu cessário que o valor da latitude (J)
turno, em duas regiões tórridas, que do observador seja igual ou supe-
se estendem a partir do Equador até rior à distância polar ($)11 do Sol,
aosTrópicos de Câncer e Capricór- além da declinação (D1) do astro ser
nio; duas zonas temperadas, limita- do mesmo hemisfério, ou seja, ter o
das pelosTrópicos e pelos Círculos mesmo sinal, Norte ou Sul. Quanto
Polares; e, por fim, duas zonas frí- ao segundo caso – astro circumpo-
gidas, que se desenvolvem a partir lar invisível, isto é, sempre abaixo
destes últimos até aos Pólos. do horizonte –, além da declinação
Se, por um lado, os Trópicos (D2) do Sol ter sinal contrário ao da
constituem paralelos de latitude latitude do observador (J), o seu
correspondente à máxima decli- valor deverá ser maior ou igual do
nação relativa do Sol, por outro, os que a co-latitude (cJ).
Círculos Polares traduzem parale- Imagem de uma aurora boreal. Resta acrescentar que a pequena
los cuja latitude assume o valor da povoação de Alert, na região cana-
respectiva co-declinação, podendo também Resta acrescentar que o fenómeno das auro- diana de Nunavut, cuja latitude é 82º 28’ N, é a
dizer-se que se tratam de paralelos com a co- ras apenas se desenvolve em torno dos pólos localidade habitada, a título permanente, mais
latitude1 dos Trópicos. Significa isto que a lati- magnéticos da Terra, num perímetro que, por próxima do Pólo Norte, que se situa a uns es-
tude daqueles assume o valor de 66 graus e 33 norma, não ultrapassa os 2.500 quilómetros. cassos 817 quilómetros de distância13. Desta for-
minutos (vulgarmente 66,5 graus), Norte ou Sul, No entanto, nas alturas em que a actividade ma, é igualmente a povoação onde se registam
conforme se trate, respectivamente, do Círculo solar é mais intensa, o que origina maior emis- o maior dia e a maior noite do nosso planeta.
Polar Árctico ou do Círculo Polar Antárctico. O são de partículas, as auroras podem estender- O primeiro, 129 dias ininterruptos com o Sol
primeiro estabelece a estrema entre a zona tem- se por mais de 5.000 quilómetros. Vistas do acima do horizonte, tem início a 18 de Abril e
perada a norte e a zona frígida setentrional, CTEN António Gonçalves prolonga-se até 25 de Agosto, enquanto a
ou região árctica2, enquanto que o segun- segunda se estende por 136 dias consecuti-
do aparta a zona temperada a sul da zona vos sem Sol, começando a 15 de Outubro
frígida austral, ou região antárctica. e terminando a 27 de Fevereiro.
É precisamente nas zonas frígidas que Relativamente ao fenómeno conheci-
têm lugar três conhecidos fenómenos, que do com pó de diamante12, na realidade
aliam o seu carácter invulgar a um espec- não se trata propriamente de um tipo de
táculo não menos deslumbrante. Referi- nevoeiro. Aliás, difere deste por não ser
mo-nos, como facilmente se depreende, constituído por partículas de água no es-
às auroras e ao famoso sol da meia-noite, tado líquido, mas antes no estado sólido,
que ocorrem nas altas latitudes, entre os ou seja, minúsculos cristais de gelo. Estes
Círculos Polares e os Pólos, mas também formam-se directamente como tal, sem
ao misterioso «nevoeiro» conhecido como antes passarem pelo estado líquido. Rela-
pó de diamante. tivamente à densidade das partículas em
As auroras3 – boreais4 ou austrais5 –, as- suspensão, é também muito inferior à do
sim classificadas conforme ocorram no nevoeiro, razão pela qual, regra geral, não
hemisfério Norte ou no hemisfério Sul, afecta a visibilidade, limitando-se a emitir
consistem num fenómeno luminoso pro- minúsculos relâmpagos que resultam do
vocado pela interacção das partículas que reflexo da luz do Sol nos mencionados
constituem o vento solar, normalmente Grafismo que ilustra o trajecto do Sol como astro circumpolar cristais de gelo.
electrões, protões e partículas alfa, com os visível (¬ - sempre acima do horizonte) e como astro circum- Compreendida a forma e as dimensões
átomos e moléculas presentes da alta at- polar invisível (¬ - sempre abaixo do horizonte).
mosfera6, tipicamente o azoto e o oxigénio. da Terra, cedo se percebeu que o trajec-
to marítimo mais curto entre a Europa e
Embora o campo magnético terrestre funcione espaço, assemelham-se a um gigantesco anel o Extremo Oriente obrigava a percorrer duas
como um escudo protector da radiação solar, luminoso, ligeiramente oval. De salientar que rotas árcticas, conhecidas como Passagem do
uma pequena parte daquelas partículas não é já foram observadas auroras noutros planetas, Noroeste e Passagem do Nordeste.As primeiras
deflectida para o espaço, que ao ser orientada designadamente em Júpiter e Saturno, através tentativas para encontrar a Passagem do Noro-
na direcção dos pólos da Terra provoca a ioni- do telescópio espacial Hubble10. este, em alternativa à longa e complexa viagem
zação7 dos átomos e moléculas da atmosfera. O segundo fenómeno a que nos reportámos, pelo cabo da Boa Esperança, descoberta e pra-
Surge assim a aurora, que se caracteriza por um o famoso sol da meia-noite, cuja designação, ticada pelos Portugueses, tiveram início em
ténue brilho semelhante a uma cortina lumino- atente-se, encerra em si mesmo uma contradi- 1497, quando o rei HenriqueVII (1457-1509)
14 FEVEREIRO 2010 U REVISTA DA ARMADA