Page 8 - Revista da Armada
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“A Pátria Honrai que a Pátria vos contempla”
A Marinha esteve presente no temporal que assolou a Madeira
Aimpressionante chuva que se abateu na Chefe do Departamento Marítimo, Comandan- car três elementos da guarnição que se dirigi-
manhã de 20 de Fevereiro sobre a Ilha te-Regional e Local da Polícia Marítima, Direc- ram para o Funchal, para participarem numa
da Madeira, desceu célere as encostas tor do Maritime Rescue Sub-Centre e Capitão reunião preparatória no Centro Regional de
das montanhas e provocou o pânico em diver- do Porto do Funchal e Porto Santo. Protecção Civil, com a presença do Capitão
sas áreas na parte sul da Ilha. As ribeiras galga- do Porto do Funchal, e representantes das au-
ram poderosamente as suas margens e espalha- O N.R.P. “Corte-Real” aprontou em menos toridades regionais, municipais e da Protec-
ram-se com grande ruído, alcançando de 6 horas e largou às 20h47 da Base Naval
ruas, estradas e habitações em seu re- ção Civil.
dor, tudo destruindo à sua passagem. de Lisboa, no Alfeite, reforçando a sua guar- Ainda antes de demandar o porto
Fora do Funchal, as áreas que mais nição de 183 militares com 40 fuzileiros e 13
sofreram foram a Ribeira Brava, Santa mergulhadores. Embarcou, também, o seu he- do Funchal, o navio, já sob o contro-
Cruz, Campanário, Curral das Freiras, licóptero orgânico “Daxter” e diverso material, lo do Capitão do Porto do Funchal,
Machico, Serra d’Água e Pomar da incluindo o contentor utilizado no “DISTEX”2, rumou à Ribeira Brava, onde desem-
Rocha. A norte do centro do Funchal, 12 botes e uma moto-quatro. barcou, pelas 12h30, uma equipa
foi tremenda a destruição nas zonas de 10 militares (oficial de ligação e
do Monte e Santo António. Na manhã de 22 de Fevereiro, com o na- 9 fuzileiros).
vio já próximo da Ponta de São Lourenço, o
Esta foi a segunda pior catástrofe “Daxter” descolou e aterrou no aeroporto in- A fragata “Corte-Real” atracou no
dos últimos 200 anos. Contam-se 18 ternacional da Madeira, de modo a desembar- Cais da Pontinha, no Funchal, às
ocorrências em dois séculos. O pior 13h25 de segunda-feira, dois dias
aluvião aconteceu em 1803, em que após a ocorrência da calamidade.
documentos dão conta de ter havi- O Posto de Comando da Autoridade
do entre seiscentas a mil mortes na Marítima foi então instalado a bordo
região. As ribeiras têm, ao longo dos devido à inoperabilidade das infra-es-
anos, em particular no Outono/Inver- truturas locais daAutoridade Marítima
no, provocado cheias e inundações, Nacional (AMN) e do Serviço de Bus-
conhecidas popularmente na Madeira ca e Salvamento Marítimo (SBSM),
por aluviões. Este fenómeno é devido consequência da interrupção repen-
essencialmente à orografia acidentada tina do fornecimento de energia eléc-
da ilha que forma ribeiras nos fundos trica3 e do alagamento dos espaços fí-
e nos estreitos vales. No concelho do sicos. Coube ao CMG Amaral Frazão,
Funchal, por exemplo, a altitude varia na qualidade de Capitão do Porto do
entre zero e 1.810 metros e o seu de- Funchal, dirigir as operações em es-
clive médio é de 16%. As freguesias treita coordenação com as estruturas
de maior altitude são as do Monte, São Regional e Municipais de Protecção
Roque e Santo António (curiosamente Civil, às quais foram disponibilizadas
das mais afectadas neste aluvião). As todas os meios e capacidades, num
principais ribeiras que transbordaram quadro de estreita e aberta coopera-
dos seus leitos foram: ção institucional.
- Ribeira de João Gomes (origem Nesta medida, à chegada da fragata
nos Cabeços Avista Navios e dos Lou- “Corte-Real” foi realizado um briefing
ros a 1.268 metros de altitude); a bordo, com a presença dos Secre-
tário Regional dos Assuntos Sociais,
- Ribeira de Santa Luzia (origem no Dr. Francisco Jardim Ramos, Secretá-
Pico do Areeiro a 1.810 metros); rio Regional do Ambiente e Recursos
Naturais, Dr. Manuel António Cor-
- Ribeira de São João (origem no reia, Presidente do Serviço Regional
Pico do Cedro a 1.738 metros); de Protecção Civil (SRPC), Coronel
Luís Neri e do Presidente do Conse-
- Ribeira dos Socorridos (origem lho de Administração da Administra-
nas vertentes do Pico das Torrinhas e ção dos Portos da Região Autónoma
do Pico das Eirinhas, a 1.509 e 1.650 da Madeira (APRAM), Dr. Bruno Frei-
metros respectivamente). tas, para apresentação, pelo Capitão
do Porto do Funchal e pelo coman-
São 15h00 de sábado, dia 20 de dante no N.R.P. “Corte-Real”, CMG
Fevereiro de 2010. A fragata N.R.P. Gonçalves Alexandre, da estrutura da
“Corte-Real” recebe ordem para Autoridade Marítima Local para a operação,
aprontar para largar, com destino à bem como das capacidades e organização do
Ilha da Madeira, com a missão de: (i) pré-po- navio para prestar assistência humanitária. Vi-
sicionar uma unidade naval, dotada de capaci- sando a melhor articulação com todas as enti-
dades que permitissem enfrentar e dar resposta dades envolvidas, foi garantida uma represen-
a situações de catástrofe e sinistro, (ii) reforçar o tação permanente do Capitão do Porto junto
dispositivo no âmbito da Autoridade Marítima da sede do SRPC e dos centros de decisão das
Nacional e da capacidade de busca e salva- estruturas municipais de protecção civil mais
mento marítimo em apoio ao MRSC1 Funchal afectadas pelas enxurradas e deslizamentos de
e (iii) permitir o cabal exercício do comando terras (Funchal e Ribeira Brava).
e controlo, que tinha sido significativamente
afectado, do Comandante da Zona Marítima,
8 ABRIL 2010 U REVISTA DA ARMADA