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ACADEMIA DE MARINHA
O Porto de Lisboa e a Golada do Tejo
INTRODUÇÃO de 1992, foi a obra suspensa face às posições que assim encheram as praias da Costa da
Caparica, dando origem ao extenso areal que
Nos dias 12, 19 e 26 de Janeiro de 2010 de uma Comissão deAvaliação do Estudo de se manteve por largas décadas e que muito
realizaram-sa na Academia de Mari- contribuíu para o desenvolvimento daquela
nha três palestras centradas no tema Impacte Ambiental, embora esse mesmo es- zona em termos balneares. Aberta a Golada,
tudo, então não obrigatório, tivesse concluído as areias voltaram a passar para dentro do
pela possibilidade da obra. Tejo, assoreando ciclicamente a parte terminal
da margem esquerda, acabando por sair com
em epígrafe, mas constituindo visões distin- De então para cá têm continuado a realizar-
as sucessivas vazantes.
tas que adiante se resumem.Aprimeira, uma -se estudos que ajudem a melhor entender As principais consequências
visão hidro-oceanográfica, a segunda, a vi- a hidro e morfodinâmica da parte terminal da abertura da Golada foram,
para além do referido assore-
são de um capitão da Marinha amento da margem esquerda
e do emagrecimento extremo
Mercante e a terceira, a visão de da Caparica, o crescimento da
vertente N do banco do Bugio
um ex-administrador do Porto (700m em 50 anos) e o cresci-
mento para SE do Bico de Pato
de Lisboa, respectivamente da – ponta SW do Cachopo Nor-
te (800m em 50 anos), o que se
responsabilidade do Almiran- traduz num muito maior esfor-
ço de dragagens para manter
te Francisco Vidal Abreu, do a Barra Sul permanentemente
aberta, independentemente da
Comandante Joaquim Ferrei- maré, para os navios de maior
calado que praticam o Porto de
ra da Silva e do Engº Damião Lisboa (Fig. 2).
O já referido estudo de 1989 concluía ser o
Martins de Castro. fecho da golada a melhor solução para a ma-
nutenção da Barra Sul pois, diminuindo o
A iniciativa teve por finali- comprimento da secção por onde entra e sai
um dado volume de água em cada ciclo de
dade acordar a discussão so- maré (designado por prisma de maré), a cota
da secção tem forçosamente que aumentar,
bre a necessidade do fecho da aprofundando assim, naturalmente, a Barra
Sul.Acresce que a obra do fecho, por efeito de
Golada do Tejo e teve como ressonância, ainda faria aumentar o prisma de
maré o que, por sua vez, iria refor-
origem próxima a tão falada çar o aludido aprofundamento.
Como vantagens adicionais do
decisão daAPLem expandir o fecho da Golada eram ainda con-
sideradas as seguintes: constituía
Terminal de Alcântara para a uma solução para a retenção das
areias da Caparica, como já antes
operação de contentores. Fig. 1 – Barra do Porto de Lisboa, Edição de 1939. sucedera; melhorava a protecção
do farol do Bugio; melhorava a
BREVE RESENHA HISTÓRICA do Estuário do Tejo, mas sem uma intenção protecção das infra-estruturas da
margem direita, por menos expos-
concrecta dirigida ao fecho da Golada e a um tas aos Sudoestes e, finalmente, fica-
vam criadas as condições para um
Que se conheça, a Golada do Tejo (desi- mais completo aproveitamento da margem aproveitamento da zona terminal
da margem esquerda, com fundos
gnação vulgar para a passagem entre a Cova esquerda do rio nessa zona. naturais da ordem dos 20m e águas
tranquilas face à protecção dada
do Vapor e o Bugio) tem-se mantida aberta pela obra marítima.
Decorridos que são quase 20 anos, e face
ao longo dos séculos tendo, no entanto, fe- A VISÃO HIDRO-OCEANOGRÁFICA às vantagens expostas, parece recomendável
que novos estudos sejam efectuados recor-
chado naturalmente durante mais de 50 anos, rendo a modelação física e/ou numérica, mas
orientados especificamente para o fecho da
de finais do séc. XIX até meados do séc. XX O vento dominante na costa W de Portugal Golada, e para a análise de todos os seus efei-
tos, designadamente sobre o Cachopo Norte
(Fig. 1). Reabriu, por acção do homem, quan- continental é de NW, o que origina uma on-
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do da zona foram retiradas cerca de 14,5 mi- dulação predominante do mesmo sector. Esta
lhões de metros cúbicos de areia para aterros ondulação dá, por sua vez, origem a uma cor-
na margem direita do Tejo, espe-
cialmente para o troço entre Belém
e Algés. Desconhece-se o que teria
sucedido se não tivesse havido esta
intervenção. Poderia muito bem ter
continuado fechada, reforçando-se
mesmo a acumulação de areia na-
quela ligação.
Informações recolhidas dizem
que no início dos anos 70 do séc. XX
houve, por parte de um grupo pri-
vado, intenções de construir um es-
taleiro naval na zona da Golada
que, naturalmente, seria fechada. O
projecto foi chumbado por a então
AGPL, hoje APL, ter intenções de
se instalar na mesma área. Mais re- Fig. 2 – Vista da Golada do Tejo.
centemente, em 1989, foi realizado um estu- rente de deriva litoral (formada por sedimen-
do pela Hidrotécnica Portuguesa a pedido da tos em suspensão) de Norte para Sul. O efeito
APL, no sentido de encontrar a melhor solu- da difracção provocado pelos cabos Raso e Es-
ção para o canal da Barra poder vir a receber pichel faz, no entanto, que nas zonas da Capa-
os futuros porta-contentores da 4ª geração. rica e da Península de Tróia, respectivamente,
Estudadas várias soluções, é recomendado o esta corrente seja de Sul para Norte.
fecho da Golada. Aberto o concurso interna- Quando a Golada estava fechada, como
cional, por decisão do Conselho de Ministros que existia um mega esporão a reter as areias