Page 21 - Revista da Armada
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nadá com uma «operação de soberania», - A Energia tem um potencial enorme, já CONSIDERAÇÕES FINAIS

ou seja, manobras militares. No Oceano que a União Europeia tem a ambição de ge-
Atlântico também há áreas de conflituali- rar entre 14 a 17% da sua energia em 2020 a Só mesmo a existência de petróleo abió-
dade, um exemplo é a reclamação, unila- partir de geradores eólicos offshore. Prevê- tico nos pode suavizar as dificuldades que
teral, do Reino Unido sobre parte da bacia -se que em 2030 esse número passe para um nos esperam.
Hatton-Rockall que também é disputada valor entre 26 a 35%. Assim, por exemplo, Portugal importa a totalidade do petró-
pela Irlanda, Dinamarca (para as Ilhas Fa- até 2030 vai ser necessário instalar 10 000 leo e 2/3 do gás natural que consome por
roe) e Islândia. No Oceano Atlântico Sul novas turbinas no mar.                       via marítima. Isto significa que a segurança
também já há ecos de algum desentendi- - A Pesca é cada vez mais escassa e, por energética, que é muito mais do que a ga-
mento entre o Reino Unido, a Argentina isso, é preciso valorizar o que existe, uma rantia do acesso às fontes e a protecção do
e o Chile relativamente à delimitação da das possibilidades é através da certificação seu transporte, também vai ser um tema
plataforma continental.             do pescado. A aquicultura deverá compen- estratégico para Portugal.
                                    sar a diminuição das capturas no mar e A análise prospectiva que apresentei re-
                                    como tal deverá passar dos actuais 3% em vela, com clareza, que este século será de
PORTUGAL E OS DESAFIOS              Portugal e 19% na média europeia para 50% corrida aos oceanos na busca dos recursos
MARÍTIMOS                           em 2030. As algas também têm muitas apli- que guardam.

A dimensão do mar português, um dos cações entre as quais os biocombustíveis, a O interesse pelos oceanos é tão grande
maiores no espaço europeu, reúne condi- alimentação ou a retenção de carbono.         que países como o Brasil vivem em grande
ções para se expandir ainda mais quan- - Em Portugal, no Arquipélago dos Aço- euforia com as descobertas de petróleo que
do for reconhecida a pretensão de expan- res, temos uma situação única à escala mun- têm feito no fundo do mar. Aideia da rique-
são dos limites da plataforma continental. dial, em especial na junção das três placas za é tão animadora que o Brasil chama à sua
Passaremos de 1,7                                                                                                                    plataforma conti-
milhões de quiló-                                                                                                                    nental a «Amazó-
metros quadrados                                                                                                                     nia Azul».
para 3,6.                                                                                                                            Deixo aqui umas
Este alarga-                                                                                                                         ideias dispersas
mento geopolítico                                                                                                                    que se podem con-
oceânico dos limi-                                                                                                                   siderar no âmbi-
tes da plataforma                                                                                                                    to da elaboração
continental repre-                                                                                                                   de uma estraté-
senta um grande                                                                                                                      gia como fazendo
desafio nacional e                                                                                                                   parte da análise de
uma oportunida-                                                                                                                      ambiente. No en-
de para as gera-                                                                                                                     tanto, quando se
ções futuras. No                                                                                                                     entra num perío-
entanto, requer                                                                                                                      do de incerteza e
um esforço acres-                                                                                                                    quando as altera-
cido do País no                                                                                                                      ções nas condições
seu estudo, apro-   Imagem elaborada pelo autor para ilustrar as vias logísticas da economia moderna. O comércio marítimo no Oceano  de acção exigem a
veitamento, segu-   Pacífico é maior do que no Oceano Atlântico. Esta visão irá mudar com as novas rotas pelo Oceano Árctico.        adaptação de acti-

rança e defesa.                     litosféricas (placa Americana, Africana e vidades e de comportamentos para se con-
Segundo a SaeR no estudo o Hyperclus- Euroasiática), trata-se de uma região de as- seguir manter a viabilidade e a sustenta-
ter da economia do mar, apresentado em 17 censão de material a partir de regiões pro- bilidade, o que é necessário é pensamento
de Fevereiro de 2009, o efeito total no Pro- fundas do manto originando muitas fontes estratégico e é da sua qualidade que depen-
duto Interno Bruto (PIB) português das acti- hidrotermais. As estranhas formas de vida derá a diferença entre o sucesso e o fracasso,
vidades ligadas ao mar, no ano de 2005, terá que aí vivem são a matéria-prima para a entre a autonomia e a subordinação, entre o
sido da ordem dos 5% a 6% do PIB nacio- biotecnologia azul.                           crescimento e a estagnação, entre o progres-
nal. Nestes valores não são considerados os - Na nossa plataforma sabe-se que há nó- so e a decadência. O pensamento estratégi-
resultados obtidos pelo turismo marítimo dulos, crostas e sulfuretos polimetáticos. co e a respectiva operacionalização é o que
(balnear) e pela imobiliária turística costei- Podemos obter do mar manganês, que é nos deve mover como Nação se queremos
ra, que são muito significativos.   importante para fazer aço super-duro, ní- enfrentar com serenidade o futuro. Só tere-
Em termos futuros, as oportunidades quel, para o aço inoxidável e cobalto para mos as capacidades necessárias para usar,
que se vislumbram são muitas, vejamos sistemas que funcionam a elevadas tem- explorar e proteger o nosso mar e as nos-
algumas:                            peraturas.                                        sas linhas para comunicação se soubermos
- Se houver segurança em terra e no mar - Os hidratos de metano são a energia co- desenvolver e concretizar ideias que con-
poderemos cativar turistas, balneares e náu- nhecida mais disponível no planeta. O Ja- sigam integrar de forma eficaz e eficiente
ticos, que deixarão de ir para outras para- pão tem testes de produção previstos para os elementos do Poder Nacional de que o
gens, que se vão tornar inseguras.  este ano e prevê a comercialização em 2016. País dispõe.
- Os portos nacionais vão ser importantes Portugal também já descobriu a sul do Al- O mar assegura-nos, de novo, uma opor-
para o hypercluster do mar e mais impor- garve a presença de hidratos de metano. tunidade de grandeza, uma janela de li-
tantes ainda à medida que o preço dos com- - No fundo do mar é possível depositar berdade e de esperança, mas os complexos
bustíveis aumentar ou o petróleo escassear dióxido de carbono que fica sob o aspecto desafios que se avizinham requerem uma
e começar a fazer sentido ao transporte da de gel. Pode ser uma potencialidade pois liderança política com visão, sabedoria, an-
América, de África e do Médio Oriente en- podemos vir obter compensações financei- tecipação, determinação, agilidade e imagi-
trar em Portugal e ser depois transportado ras por conta de quotas de carbono.        nação, pois só assim poderemos continuar a
por comboios eléctricos. Tal será viável se - Se arrancar todo este potencial por certo ser uma Nação «valente e imortal».
a Europa desenvolver a ferrovia e se con- que se começarão a desenvolver, em Portu-
seguir gerar energia barata a partir de fon- gal, novos equipamentos que poderão ser                                                             
                                                                                                   Armando J. Dias Correia
tes renováveis.                     exportados.                                                                                                  CFR

                                                                                      Revista da aRmada • JULHo 2010 21
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