Page 18 - Revista da Armada
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O mar do futuro
«O futuro – o nosso futuro – está A complexidade do litoral no futuro. Imagem obtida em http://www.acceleratingfuture.com/michael/
sempre além horizonte e a incerte- blog/2008/02/port-city/.
za que encerra nunca nos demoveu
de o demandarmos, cientes das con- do, em Novembro de 2008, pelo National vestimentos no desenvolvimento de novas
dicionantes, mas confiantes no sa- Intelligence Council, e o «O novo relatório tecnologias energéticas, o petróleo e o gás
ber, na motivação, na tenacidade da CIA – Como será o mundo em 2025?» natural continuarão decisivos por muitos
e na imaginação criativa, que são permitira-me identificar, da seguinte for- anos. O desenvolvimento económico mun-
marcas de carácter que nos unem e ma, os contornos do sistema internacional dial requer cada vez mais petróleo e gás. Al-
identificam!» por volta de 2025: guns analistas estimam que, nos próximos
anos, a China sozinha poderá ser respon-
Almirante Fernando José Ribeiro de Melo Gomes, - Em 2025 seremos cerca de 8 mil milhões sável por um terço do aumento marginal
20 de Maio de 2007. e em 2050 aproximadamente 9 mil milhões mundial da procura de petróleo.
de pessoas. No entanto, iremos assistir ao
Na revista de Maio desenvolvi o tema envelhecimento da população do mundo - O ritmo de inovação tecnológica será
«O mar de hoje», neste artigo procu- industrializado, com especial significado a chave para os resultados no futuro pró-
rarei apresentar uma análise pros- no Japão, na Europa e na Rússia. ximo. No entanto, as tecnologias actuais
pectiva dos desafios marítimos futuros. são inadequadas para substituir a matriz
- Não haverá muitas dúvidas em rela- energética tradicional, na escala necessá-
O futuro é desconhecido e por isso há cená- ção à afirmação da Índia, em 2030, como ria, numa época em que se sabe que o sec-
rios genéricos para todos os gostos. Thomas país mais populoso do mundo com 1505 tor energético leva, em média, 25 anos para
Friedman, no seu livro «The World is Flat», milhões de pessoas (Mp), a China terá cer- que uma nova tecnologia de produção seja
tem uma ideia optimista do desempenho fu- ca de 1458 Mp, os EUA na ordem dos 366 amplamente instalada.
turo do mundo globalizado. Os críticos da Mp, a Indonésia por volta dos 279 Mp e o
globalização comungam da previsão de Da- Paquistão 240 Mp. A Índia ultrapassará a -Aprodução de hidrocarbonetos, petróleo
vid Korten e de John Cavanaugh, segundo China por volta de 2025. bruto, gás natural e produtos não conven-
a qual, os EUA irão liderar a criação de eco- cionais, fora do cartel da OPEP, não crescerá
nomias locais e regionais mais fechadas e as- - Aemergência de um sistema multipolar, proporcionalmente à procura. A produção
sim mais capazes de lidar com a reciclagem marcado simultaneamente pela crescente de petróleo e gás em muitos países produto-
e a reutilização, com o ambiente e com a ge- afirmação do eixo do Pacífico (China, Ín- res tradicionais está a diminuir. Por exemplo,
ração de energia limpa. Um terceiro cenário, dia, Coreia, Japão, EUA) e pelo aumento na China, na Índia e no México a produção
defendido por Robert Kaplan e Chris Lewis, do poder relativo das redes de actores não estagnou. Os países onde actualmente se si-
conduz-nos para uma visão de colapso po- estatais (multinacionais, ONG’s, organiza- tuam as grandes reservas também acabarão
lítico, económico, cultural e ambiental que ções religiosas). por sofrer uma retracção da produção e con-
já se começou a espalhar em África, a par- tinuarão a ser áreas de instabilidade geopolí-
tir dos anos noventa do século passado, e se - Significativa deslocação geopolítica do tica. Como resultado de tudo isto e de outros
poderá espalhar pelo resto do mundo. Esta poder económico e da riqueza relativa do factores, o mundo irá enfrentar uma mudan-
abordagem direcciona-nos para um cenário Ocidente para o Oriente. O comércio no ça de fontes de energia, do petróleo para o
de degradação dos padrões de vida do «pri- Oceano Pacífico é superior ao do Oceano gás natural, para o carvão e para outras al-
meiro mundo». Também Michael T Klare, Atlântico desde a década de 80 do sécu- ternativas. No entanto, a curva de depleção
com a sua nova geografia dos conflitos glo- lo passado. do gás natural é igual à do petróleo biótico
bais, ou James Howard Kunstler, com a sua com um atraso de poucos anos. O carvão,
previsão catastrófica do «Fim do Petróleo», - Manutenção dos EUA como potência que existe em abundância, por exemplo nos
nos apresentam uma antevisão de grande an- mundial, embora cada vez menos domi- Estados Unidos, é muito poluente e arrasa-
gústia em relação ao futuro. Este cenário tem nante e cada vez mais focalizada no Médio dor para os habitats onde é extraído.
no seu fundamento a ideia do crescimento Oriente (para assegurar o acesso ao petró-
do consumo de combustíveis fósseis, da es- leo) e no Oceano Pacífico (para garantir O mundo precisa de descobrir e desen-
cassez de água, de alterações climáticas, de uma posição competitiva no comércio). volver fontes fiáveis de petróleo e gás, a pre-
doenças, dentre outros. Alerta mesmo para ços que permitam sustentar o crescimento
a possibilidade das elites governantes terem - A energia é o elemento vital da econo-
de se proteger do povo que governam, em mia mundial. Apesar dos esforços para
virtude de uma crescente revolta motivada aumentar a eficiência energética e dos in-
pela diminuição da sua qualidade de vida,
enquanto assistem à tomada do poder por
grandes corporações globais. Uma outra an-
tevisão interessante é a apresentada no livro
«Os próximos 100 anos», de George Fried-
man (Fundador e CEO da STRATFOR), que
nos apresenta, entre outras previsões, a frag-
mentação da China em 2020 e uma guerra
global em meados do século.
O MUNDO EM 2025
O relatório «As tendências globais em
2025: um mundo transformado» publica-
18 JULHo 2010 • Revista da aRmada