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O desenvolvimento de actividades eco- Todos temos que dar passos no sentido universitários de hoje fazerem ouvir e ex-
nómicas ligadas à utilização, aproveita- do caminho marítimo. porem a sua visão sobre o recurso estraté-
mento e preservação do Mar e dos respec- gico do Mar de que serão os herdeiros na-
tivos recursos, deve constituir um objectivo O Mar tem que voltar a ser assunto cen- turais quando num futuro, mais ou menos
nacional. A História ensina-nos que Portu- tral para Portugal, voltar a ser pensamento próximo, vierem a constituir a elite que
gal sempre prosperou quando teve e viveu político e estratégico. conduzirá os destinos de Portugal.
essa visão e sempre definhou
quando num comportamen- Portugal deverá ser um país de referên- A adesão é um reconfor-
to anti-natura optou por uma cia sobre os assuntos do Mar, o qual faz a tante incentivo que enriquece
estratégia continental, virando nossa ligação com a Lusofonia e a possi- o propósito, prestigia a Insti-
costas ao Mar. bilidade de construirmos com todos uma tuição e recompensa particu-
grande rede de Países que se ajudam uns larmente os Professores e os
Mantendo o Mar como aos outros, que se envolvem e assumem Estudantes que tornaram em
pano de fundo, as Jornadas um papel fundamental no quadro das po- realidade a ideia de um singelo
do Mar visam essencialmente líticas económicas e políticas internacionais. contributo no desígnio parti-
semear nas novas gerações a lhado de rasgar horizontes de
apetência pela maritimidade Precisamos de novos activos, novos re- futuro, valorizando, do passa-
porque, inquestionavelmente, cursos e novos modelos de desenvolvimen- do e do presente, patrimónios
a vizinhança atlântica sugere to. O Mar é um deles. e História.
a condição marítima do Povo
Português, o que, ao longo dos Não restam dúvidas de que as oportuni- Para a concretização das
tempos, tem levado as Gentes dades existem; muitas delas permanecem, Jornadas do Mar 2010 impor-
Marinheiras a cumprir Portu- por enquanto, inconcebíveis e irrealizáveis, ta realçar e manifestar o reco-
gal no Mar. pois apenas poderão ser identificadas e nhecimento aos Membros da
esclarecidas ao longo do percurso de ex- Comissão de Honra que com o prestígio
Portugal zarpou rumo à descoberta dos ploração das oportunidades. Em grande dos seus nomes e cargos institucionais
Oceanos há cerca de seis séculos. A motiva- medida, a concretização desta ambição de- contribuíram para a valorização do evento,
ção teve diversas vertentes, mas para todas pende apenas de nós, enquanto cidadãos e às insignes entidades que constituíram a
era clara a existência de novas oportunida- enquanto Nação. Comissão Cientifica que com elevado es-
des à espera de serem exploradas. pírito de docência e excelência académica
A adesão crescente dos que participam analisaram, avaliaram e seleccionaram os
O Infante Navegador, cuja morte ocor- nas Jornadas do Mar é motivo para pros- trabalhos apresentados, às personalidades
reu há 550 anos, foi um homem de visão seguir com a iniciativa e interpretar que a académicas que ajudaram na realização
voltada para o futuro, um mecenas do iní- mesma está certificada quanto à oportu- das mesas-redondas, apresentação dos
cio da nova era que estava a surgir, o qual nidade, acolhimento e apoio ao objectivo trabalhos e sessões plenárias,
sustentou o crescimento de primário das Jornadas do Mar constituírem às entidades patrocinadoras
uma cultura e de um ideal, ain- um fórum adequado para os estudantes e apoiantes que viabilizaram
da hoje admirados e reconheci- a melhoria das condições de
dos, determinante para a afir- convivência e partilha de expe-
mação de Portugal no Mundo riências no decurso de eventos
através de navegadores na des- sociais e culturais, bem como
coberta de outras terras, por aos Organismos que abriram
“mares nunca dantes navega- portas para visitas e sessões.
dos”, marcando, de forma de-
cisiva, a História de Portugal e A apresentação das Comu-
a História do Mundo. Na altu- nicações incidiu sobre matérias
ra o Mar era apenas o caminho. tão diversas como a Oceano-
Agora é ele próprio o destino, grafia, a Engenharia, a Estra-
um caminho para um Portugal tégia, a Geografia, a História,
com futuro, numa “Nova Era a Sociologia, a Matemática, a
dos Descobrimentos”. Economia, a Gestão, o Am-
biente, as Relações Internacionais, a Litera-
Não obstante, nas últimas décadas Por- tura, a Linguística, o Direito, as Tecnologias
tugal não tem sabido capitalizar a invejável de Informação e Comunicação e as Ciências
localização que a natureza lhe proporcio- Militares, relacionadas com o tema central
nou numa perspectiva de economia ma- dos Oceanos, nas suas múltiplas dimensões
rítima, quer com capacidade para extrair de utilização e aproveitamento.
recursos do seu gigantesco território marí- Em suma, a essência das Jornadas do
timo, quer como plataforma para o relacio- Mar é reunir os múltiplos saberes envolvi-
namento entre as diversas culturas unidas dos no estudo dos Oceanos e, com a gene-
pelos oceanos. rosidade que é própria dos jovens, procurar
desfazer as barreiras que se erguem entre
O futuro de Portugal passa inevitavel- diferentes formas de conhecimento, crian-
mente pelo regresso ao Mar. Todos reco- do laços que sustentarão a multidisciplina-
nhecem a urgência desta reconciliação, ridade indispensável ao estudo de algo tão
salientando que o desenvolvimento eco- complexo como é o Mar, quer na dimensão
nómico do País depende largamente da ca- que hoje assume no contexto nacional e
pacidade que tivermos na exploração dos
recursos marítimos.
16 JANEIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA