Page 18 - Revista da Armada
P. 18
Historiadores Marinheiros
e Marinheiros Historiadores
OIntrodução Os Pioneiros te, uma série de memórias do autor, acabam
início do Século XIX assistiu a um por ser um precioso testemunho da época. A
reavivar do interesse pela História O primeiro trabalho de vulto pertence a década de 1840 é, aliás, bastante profícua em
como substrato legitimador das as- Inácio da Costa Quintela, com os seus Annaes termos de produção escrita, sobretudo graças
da Marinha Portugueza, publicados entre 1839 e ao contributo dado pelos Annaes Maritimos e
pirações nacionalistas dos povos europeus 1846,queconstituemaprimeiragrandecompi- Coloniaes, onde os oficiais de Marinha tiveram
lação histórica das batalhas navais, conquistas a oportunidade de escrever e divulgar os seus
re-emergentes e, pouco tempo depois, como e viagens dos portugueses, embora só tenha conhecimentos sobre assuntos em que eram
base de suporte dos interesses imperialistas conseguido levar à estampa dois dos três vo- entendidos, entre os quais a História Naval.
das grandes potências mundiais. Revestido lumes inicialmente previstos, os quais cobrem Contudo, em 1846, ano em que, ironicamente,
do carácter científico que a racionalidade
Alexandre Herculano introduz no
do Século das Luzes imprimira às País a historiografia científica com
a sua História de Portugal, a extinção
grandes áreas do Saber (relembre- da Associação Marítima e Colonial,
proprietária dos Annaes, reflexo da
-se a Real Academia Portugueza agitação política que se fazia sentir,
faz abrandar este ímpeto inicial.
de História, criada por D. João V),
O segundo grande período de
estando, portanto, já bastante longe produção inicia-se na década de
1880. A competição colonial entre as
do tom laudatório dos cronistas, o potências europeias, que esgrimem
argumentos na Conferência de Ber-
estudo da História não deixa, po- lim, leva Portugal a recorrer ao peso
da sua História para compensar a
rém, de se sujeitar, em maior ou falta de poderio militar. Na década
seguinte são as comemorações cen-
menor grau, ao espírito romântico e tenárias da Descoberta da América,
promovidas pela Espanha, a excitar
aos exacerbados sentimentos patri- os brios nacionais no estudo dos
Descobrimentos Portugueses. Nes-
óticos da época. tes anos surgem nomes notáveis
como Braz de Oliveira, Baldaque
Numa nação marítima como da Silva, Almeida de Eça e Lopes de
Mendonça. As páginas dos Anais do
Portugal, onde o Mar acolhia as me- Celestino Soares Braz de Oliveira Clube Militar Naval, publicação cria-
mórias das glórias do Passado e en- (1793-1870) (1851-1917) da em 1870, na tradição dos Annaes
Maritimos e Coloniaes, servem para
cerrava as maiores aspirações para divulgar muitos dos trabalhos en-
tão surgidos, onde a Arqueologia
o Futuro, a História Marítima, em- Naval, ainda em fase embrionária,
assume um especial destaque.
bora sem constituir uma disciplina A partir daí, a produção não cessa de au-
mentar. No virar do século, a implantação da
autónoma, será objecto de especial República e a participação na Grande Guerra
renova o alento patriótico dos historiadores na-
atenção por parte dos estudiosos.
Embora os primeiros estudos de
âmbito histórico-marítimo tenham
sido os do Visconde de Santarém,
que a partir de 1811 se dedica a
compilar vários apontamentos re-
lacionados com os limites das pos-
sessões portuguesas na América do
Sul, para servirem de base às nego- Almeida d’ Eça Lopes de Mendonça
ciações com a Espanha no Congres- (1852-1929) (1856-1931)
so de Viena, serão, essencialmente, o período que vai desde o governo do Conde
os oficiais da Armada a ocupar-se da História D. Henrique até 1610. Em 1845 Joaquim Ce-
Marítima Portuguesa – especialmente na sua lestino Soares dá ao prelo os Quadros Navaes,
vertente puramente naval 1 - durante os cem uma colecção de folhetins publicados no jor-
anos seguintes. nal O Patriota, que constituindo, em boa par-
Quirino da Fonseca Fontoura da Costa Gago Coutinho Estanislau de Barros
(1868-1939) (1869-1940) (1869-1959) (1870-1942)
18 JANEIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA