Page 12 - Revista da Armada

DESAFIOS À SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
GERADOS PELO WIKILEAKS
Esta é a era dita da “Informação”, em
que a Internet é claramente o meio
que melhor a caracteriza pelo efeito
surpreendente que tem no mundo em que
vivemos. O recurso desta era é, pois, a “Infor- va no campo de batalha, a surpresa ou ser-se
mação” e o seu valor é o “conhecimento”. A
“Informação” relevante é o recurso nuclear de
apoio à tomada de decisões rigorosas e ágeis
nas organizações modernas, constituindo
para a Marinha um recurso indispensável
para o cumprimento da sua missão. O prin-
cípio base de gestão deste recurso consiste
na disponibilização da informação certa, à
pessoa certa, no momento certo, de modo a
permitir a formulação e execução atempada
de decisões informadas, no sentido de criar
vantagens competitivas. Ao estado de su-
premacia relativa, na obtenção e aplicação da
informação, designa-se superioridade
de informação que visa a superiorida-
de de conhecimento situacional e, logo,
superioridade de decisão e de execução.
A qualidade da informação é enrique-
cida através da gestão rigorosa do seu
ciclo de vida, e pela sua transformação
em conhecimento útil, muito em par-
ticular, pela sua partilha efectiva em
ambientes colaborativos, como é o caso
do ambiente NNEC1 em desenvolvi-
mento na NATO. A capacidade NNEC
materializa-se numa infra-estrutura de
rede e de informação (NII2), baseada na
federação das redes nacionais e NATO
para permitir a condução das operações
em rede. Um aspecto importante da capa-
cidade NNEC é a segurança da informação,
em ambiente multinacional e partilhado. A
segurança da informação, sendo um aspecto
fundamental para a actividade militar e, para
todos os organismos, públicos e privados,
cuja actividade ou negócio, requerem a uti-
lização e protecção da informação, é o mote
deste artigo. A segurança da informação pode
ser definida pelo conjunto de medidas para
atingir um determinado nível de confiança na
sua protecção, no que diz respeito à sua con-
fidencialidade, integridade, disponibilidade,
não-repúdio e autenticação. Estas cinco carac-
terísticas da segurança da informação, são os
vectores de acção fundamentais para manter
a informação protegida, devendo contudo
ter-se presente o princípio que faz a ponte en- pressão exercida pelo parlamento inglês à im-
tre a segurança da informação e a condução
das operações, i.e., o princípio da “Necessida-
de de Partilha da Informação” que enfatisa o
lema “Share to Win”, relevando a necessida-
de operacional de se gerir a informação com
ênfase na «responsabilidade de partilhar”,
equilibrada pelo princípio da «necessidade
de conhecer». Este artigo concentra-se de uma
forma particular na confidencialidade da in-
formação, isto é, nas medidas de segurança
que obstam à sua divulgação, utilizando-se,
para isso, o caso paradigmático do WikiLeaks.
12 MARÇO 2011 • REVISTA DA ARMADA
A confidencialidade da informação é um as-
sunto muito caro aos militares, dela podendo
depender a vantagem ou desvantagem relati-
supreendido, e quantas vezes, a morte ou a
vida, a vitória ou a derrota. Analisemos, pois, tarem restrições de acesso aos prisioneiros à
o caso WikiLeaks e deduzamos as lições de
segurança da informação que importa relevar
e apreender.
O WikiLeaks é uma organização que ope-
ra no ciberespaço, cujo slogan é “Abrimos Go-
vernos” e que se dedica à obtenção, através de
fontes anónimas, de informação institucional
e empresarial de natureza classificada ou pri-
vada e à sua divulgação ao público através do
seu portal na Internet. O portal foi lançado em dois jornalistas da Reuters. Em Julho de 2010,
2006 por um conjunto de activistas, tendo à
sua frente o Australiano Julian Assange, com
o objectivo de publicar documentação oficial
de interesse político, diplomático, histórico
e ético. Os princípios gerais da sua operação
são “a defesa das liberdades de expressão e
de imprensa” e o “direito da história ser es-
crita como aconteceu”, sendo a sua missão
a “divulgação em massa de documentação
classificada para revelar injustiças suprimi-
das ou censuradas”. O WikiLeaks tem rece-
bido apoios e críticas sobre a sua actividade
de divulgação de segredos de Estado e em-
presariais. A organização recebeu diversos
prémios, incluindo o “New Media Award”
da famosa revista “The Economist” e o “UK
media Award 2009” da Amnistia Internacio-
nal. Em 2010, o “New York City Daily News”
elegeu o WikiLeaks o primeiro portal “that
could totally change the news” e J. Assange
foi nomeado “The Reader´s Choice for Time
Person of 2010”. O “Information Comission-
er” escreveu: “WikiLeaks is part of the phe-
nomenon oftheonline,empoweredcitizen”.O
Wikileaks começou a criar reputação interna-
cional ao publicar documentação sobre vários
casos mantidos secretos por diversos países e
organizações, incluindo:
• A publicação do “Minton report” sobre
derrame de material tóxico que afectou 110
mil pessoas na Costa do Marfim e a suposta
prensa britânica para contenção do caso;
• Os “procedimentos operacionais do
campo Delta da prisão de Guantanamo” que
criou polémica por, supostamente, explici-
Cruz Vermelha;
• O conteúdo de emails pessoais da candi-
data à presidência americana Sarah Palin.
Aos mais distraídos, o WikiLeaks chamou
definitivamente a atenção quando em Abril de
2010 divulgou um vídeo ultra-secreto Ame-
ricano relativo a uma série de ataques aéreos
onde terão morrido 12 pessoas, entre os quais
o WikiLeaks divulgou o designado “Diário
da Guerra do Afeganistão”, consistindo em
90 mil documentos, seguido em Outubro por
um pacote de 400 mil documentos designado
“Registos da Guerra do Iraque”. Em No-
vembro de 2010, o WikiLeaks começou
a publicar os primeiros, dos cerca de 250
mil telegramas diplomáticas America-
nos, cujo conjunto foi cedido em avanço a
diversos jornais de renome internacional
para acelerar e facilitar a interpretação do
conteúdo dos telegramas e tornar mais
credível a sua divulgação pública. A di-
vulgação dos telegramas diplomáticos e
de outros segredos de Estado, militares e
empresariais, receberam apoio de muitos
media e de meios académicos, por, dizem,
incrementarem a transparência, fomen-
tarem a liberdade e os valores demo-
cráticos e, ao mesmo tempo, desafiarem
instituições poderosas e poderes estabelecidos.
Em simultâneo, diversos altos representantes
do Estado americano, como a secretária de
Estado Hillary Clinton, criticaram duramente
o WikiLeaks pela divulgação da informação
por “perigar a vida dos militares e por ser uma
ameaça à segurança nacional e aos interesses
americanos, comprometendo a diplomacia
e estabilidade internacionais”. Em resultado
da divulgação dos telegramas diplomáticos,
o WikiLeaks (www.wikileaks.org) sofreu ata-
ques de negação-de-serviço, que consistiram
no bombardeamento sistemático de pedidos
ao portal WikiLeaks nos EUA, o que rapidamente
o desabilitou. Os ataques, com origem desconhe-
cida, foram perpetrados através da utilização de
milhares de computadores ligados à Internet,
sem o conhecimento dos seus donos. Nessa se-
quência a WikiLeaks perdeu o apoio da Amazon
que alojava os servidores e da EveryDNS que
traduzia o seu endereço .org, o que arrumou com
a infra-estrutura de suporte do portal nos EUA.
Contudo, algumas horas bastaram para que o
WikiLeaks se transferisse para a Europa, adop-
tando um endereço Suíço, (www.wikileaks.ch),
com servidores localizados em França e 14 servi-
dores de domínio (DNS), localizados em tantos
outros países. Esta operação diz bem do poder e
da flexibilidade da Internet. Neste momento exis-
tem mais de 500 portais-espelho WikiLeaks.