Page 31 - Revista da Armada
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batentes, na maioria dos filmes de guer- poesia do vento…Tem uma paixão por Bem vê o leitor amigo e paciente, se
ra…Só por isso, merecia uma referência golfe, admitindo, logo em seguida, que ainda fosse o presidente da comissão-
honrosa nesta revista… não é bom jogador e que no golfe, joga -de-bem-estar, a bordo de um qualquer
contra si próprio, contra as sua incapa- NRP da Marinha Portuguesa, lá teria os
Finalmente, retratou também, com cidade de fazer melhor, não se compa- filmes deste Cowboy Americano. Como a
mestria, um homem que fez história rando com outros jogadores…Muitas bordo são sempre poucos os filmes, pas-
pelo perdão: Nelson Mandela. Este vezes me senti assim em relação aos sariam várias vezes. De cada vez, teriam
preso político durante 28 anos – que desafios que encontro e considero, ge- significadoso distintos – pois é assim
por pouco escapou à pena de morte nericamente, esta a melhor receita para com algumas obras de arte: que nunca
– acabou presidente do seu país for- a vida… perdem actualidade…Vou, na navega-
temente dividido. Quando chegou ao ção pela vida, continuar a minha carreira
poder não procurou vingança. Procurou Imaginei, ainda, os riscos que correu, de escritor de coisas simples e despre-
reconciliação. Este exemplo é de parti- em todos os seus filmes, pelos temas tensiosas nesta revista da armada. Faço
cular importância em África, continente profundamente humanos que retrata e pequenos clips de vídeo da minha e de
donde o perdão político – como sabe o pela abordagem sensível que sempre outas vidas, que se cruzam nesta nossa
leitor atento - é extremamente raro (como tomou - longe, muito longe, do consu- Marinha e nestas páginas…
são exemplo as convulsões políticas nas mismo imediato, comum no nosso país
ex-colónias portuguesas) e o aniquilar fí- e, certamente, também no dele…De- Doc
sico dos adversários políticos um evento verá ter sofrido críticas e sofrimentos,
(quase) banal… prejuízos e desilusões. Agrada-me que Post Scriptum - Não quero, hoje e aqui
este realizador tenha, apesar de tudo, publicamente, deixar de agradecer ao ma-
Decidi escrever sobre este artista por- sobrevivido. Gosto especialmente de rinheiro que assina A.C.F. e que teve para
que vi um documentário sobre ele. Neste tudo, nos seus filmes, que não é explí- com o Doc, por escrito, imerecidos elo-
documentário, muitas vezes em dis- cito e fica à compreensão profunda do gios…Com propriedade posso, também
curso directo, Eastwood apresenta-se espectador. O sucesso dos seus filmes aqui, dizer: “you made my day”…
como um homem afável, não ostensi- garante-me que ainda vale a pena…a
vo, que revela o seu amor pelas coisas diferença…
simples: o mar, uma praia solitária, a
CARTA
Acabo de ler, na Revista que V. Exª superiormente dirige, o artigo
sobre a Viagem de Circum Navegação do curso D. Lourenço de
Almeida que, por momentos, me fez voltar atrás no tempo.
Na altura da chegada do vosso curso tinha eu, e mais outros 49 camara-
das, acabado de entrar para a Escola Naval e não foi, sem grande curiosi-
dade, inveja e esperança que algum dia nos sucedesse o mesmo, esperança
vã e infundada, como o tempo veio mais tarde a demonstrar, que vimos
chegar os 48 felizardos do LA.
O relato apresentado na R.A. pouco ou nada acrescentou ao que, se tal
existisse então dir-se-ia que por praxe, todos nós 50, pelas repetidas vezes
ouvido, fomos memorizando. Posso testemunhar, e como eu julgo todos os
outros do meu curso, que a visita ao Japão vos terá deixado uma marca que
vos terá acompanhado ao longo da vida. Pese embora as fotos no deserto, a
quase falta ao embarque de um cadete em S. Diego, os relógios comprados
a peso em Aden, e atirados borda fora, por não estarem certos com os dos
instrutores, foi o Japão, estou certo, que terá constituído talvez o ponto
mais alto da vossa viagem. A profusão de pijamas de seda, todos eles com
o Fujiama bordado nas costas, alguns quimonos igualmente adornados,
todos eles reveladores de um excepcional bom gosto que só os maldizentes
punham em causa, as profundas vénias de saudação, tudo isso passou a in-
tegrar o dia-a-dia, para alguns, vá-se lá saber porquê, aterrador, da nossa
permanência na Escola. Se a isso se juntar a existência de uma máquina fo-
tográfica por cadete e, máximo dos máximos, pelo menos um rádio transis-
tor por cabeça, verdadeira inovação tecnológica, somente conhecida, por
alguns mais evoluídos, através das revistas da especialidade, poder-se-á
ter uma ideia, embora que pálida, das marcas deixadas pela experiência vi-
vida, experiência essa que, sei lá se em boa hora, se dispuseram a partilhar
connosco, não tão felizardos mortais.
Por me ter feito recordar tal experiência que, apesar de tudo, ajudou a
cimentar, desde então, muitas amizades, envio-lhe um abraço que peço
estenda a todos os camaradas do L.A.
Um abraço amigo
do L.C. 15
31REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2011