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ZONA EURO ESPAÇO SCHENGEN
CFR Bessa PachecoFundação: 1 de Janeiro de 1999 Fundação: 14 de Junho de 1985
Sede do BCE: Frankfurt (Alemanha) Estados-membros: 25 (22 UE + 3)
Sigla: UEM/EMU Adesão de Portugal: 25 de Junho de 1992
Estados-membros: 17
Adesão de Portugal: membro fundador Negociado inicialmente por cinco países, o Acordo de Schengen foi
assinado no dia 14 de Junho de 1985 no rio Mosela, a bordo do Prin-
Os primeiros passos para a criação da moeda única foram dados cesse Marie-Astrid, próximo da localidade de Schengen no Luxemburgo.
em 1978, quando Valery Giscard d’Estaing e Helmut Schmidt pro- No entanto, a Convenção que possibilitou a sua implementação só foi
puseram a criação de uma zona europeia de estabilidade monetária, assinada em 1990, tendo entrado em vigor em 1995. Conhecido como
que se concretizou no ano seguinte com a implementação do Siste- Espaço Schengen, trata-se, no essencial, de uma área onde as pessoas po-
ma Monetário Europeu (SME), assente em três pressupostos: uma dem circular livremente, mediante supressão dos controlos fronteiriços
moeda-cabaz (ECU)3; um mecanismo de taxas de câmbio assente no internos entre os Estados signatários, a favor de uma fronteira externa
ECU; e um conjunto de apoios destinados à solidariedade financeira. única. É nesta fronteira externa que é efectuado o controlo de acesso ao
Em 1989, coube a Jacques Delors apresentar um plano, que num pra- Espaço Schengen, no interior do qual foram adoptadas regras comuns
zo de dez anos conduzisse à almejada União Económica e Monetária em matéria de vistos e direito de asilo político. Apesar de dispensar a
(UEM), posteriormente consagrada pelo Tratado de Maastricht. No apresentação de passaporte, os cidadãos devem, contudo, ser portado-
entanto, os famosos critérios de convergência económica, que estão res de documento legal de identificação.
na base da criação da UEM, mais conhecida como Zona Euro4, só fo-
ram estabelecidos em 1998, altura em que foram igualmente fixadas Tendo em vista conciliar liberdade de circulação com a inalienável
as taxas de conversão entre as moedas dos países aderentes. Muito segurança, foram implementadas algumas medidas compensatórias,
embora tenha sido formalmente instituído a 1 de Janeiro de 1999, o designadamente, a criação do Sistema de Informações Schengen (SIS)
euro apenas entrou em circulação três anos mais tarde, no dia 1 de – uma base de dados sofisticada que permite o intercâmbio de dados e
Janeiro de 2002, cabendo ao Banco Central Europeu (BCE) regular a informação – além de melhorias introduzidas na cooperação e coorde-
política monetária da moeda única. nação entre as diversas forças e serviços de segurança e as autoridades
judiciais, tendo o sistema sido posteriormente alargado a outras entida-
Países que integram a União Europeia ( )םa Zona Euro (■) e o Espaço des, como a Europol e a Eurojust. Sempre que as questões de segurança o
Schengen (■). justifiquem, qualquer país pode voltar a estabelecer, a título provisório,
o controlo físico das suas fronteiras, situação que recentemente ganhou
Para aderir à moeda única, os Estados obrigam-se a cumprir maior relevo na sequência da chegada a Itália de muitos migrantes afri-
os referidos critérios de convergência, que passam por: estabi- canos, fruto dos tumultos que se desenrolam na Líbia.
lidade dos preços, materializada numa taxa de inflação não su-
perior a 1,5% da média dos três países com menor taxa; taxa de O Espaço Schengen foi integrado no quadro jurídico da UE atra-
juro a longo prazo sem variações superiores a 2% em relação à vés de um protocolo anexo ao Tratado de Amsterdão, no qual foi con-
média dos três países com taxas mais baixas; défice do Estado ferida liberdade à Irlanda e ao Reino Unido para participar na tota-
inferior a 3% do respectivo produto interno bruto (PIB); dívida lidade ou apenas em parte das disposições da Convenção Schengen.
pública não superior a 60% do PIB; e taxas de câmbio dentro Por outro lado, foi também aberto o alargamento do Espaço Schen-
da margem de flutuação autorizada, nos dois anos anteriores gen a países terceiros que dispõem de relações especiais com a UE,
à adesão. de que beneficiaram Estados como a Suíça, a Islândia e a Noruega.
Os dois últimos tiveram acesso pelo facto de, juntamente com a Di-
Presentemente, são já 17 os países da UE que adoptaram namarca, a Finlândia e a Suécia, pertencerem à União Nórdica dos
o euro, moeda comum de 330 milhões de pessoas, existindo Passaportes, que havia suprimido esse controlo nas fronteiras co-
calendário para a adesão dos restantes Estados-membros, à muns. Muito embora estes países pertençam ao Espaço Schengen,
excepção da Dinamarca e Reino Unido. Tal sucede porque, não têm direito a voto nas reuniões pelo facto desta Convenção ter
aquando das negociações do Tratado de Maastricht, foi definido sido integrada na UE.
que a sua adesão ao euro ficava pendente de referendo favorá-
vel ou voto parlamentar, o que até à data não se verificou, sen- Presentemente, o Espaço Schengen cobre 4,3 milhões de quilómetros
do que a Suécia não aderiu devido a outras particularidades. quadrados, congrega um total de 25 países e beneficia 400 milhões de
Além dos países da UE, existem outros Estados que entretanto pessoas. Embora sem vínculo formal, os pequenos Estados como An-
optaram pelo uso do euro por mero acordo, em grande medida dorra, Liechtenstein, Mónaco, São Marino e Vaticano também fazem
devido ao facto de nunca terem tido moeda própria. Nestas parte do Espaço Schengen.
condições encontram-se o Mónaco, São Marino e o próprio
Vaticano, sendo que Andorra, o Kosovo, o Liechtenstein e o Até há bem pouco tempo, o espaço europeu encontrava-se mancha-
Montenegro também utilizam o euro, mas sem acordo formal. do pelas guerras travadas por pedaços de terra. Após a Segunda Guerra
De salientar que a Islândia também pretende adoptar a moeda Mundial, uma parte do continente foi separada com recurso a barreiras
única, mas sem vínculo à União Europeia. de arame farpado e muros guarnecidos por soldados. Sanadas que es-
tão boa parte das divergências que apartaram os povos europeus, para
16 JULHO 2011 • REVISTA DA ARMADA quem viaja, o Espaço Schengen e a moeda única constituem os aspectos
mais visíveis da integração europeia. Sem passaporte, podemos hoje
percorrer livremente 25 países e usar a moeda do dia-a-dia em 23.
Aos olhos dos denominados eurocépticos, os avanços referidos pare-
cem ficar sempre aquém do ideal. Esquecem, contudo, que a Europa é
hoje vista como modelo de sociedade e bem-estar!
CFR António Manuel Gonçalves
Membro do CINAV
Notas:
1 Foi o primeiro presidente do Parlamento Europeu, cargo que exerceu entre 1958 e 1960.
2 Considerado o arquitecto e visionário do projecto de integração europeia, preferiu sempre
trabalhar nos bastidores da política internacional, com o intuito de levar à prática as suas ideias.
3 European Currency Unit.
4 Por definição, a Zona Euro consiste no grupo de Estados que adoptaram o euro como moeda.