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UNIÃO EUROPEIA                                                             ropeia. O Conselho, também conhecido como Conselho de Ministros, re-
Fundação: 18 de Abril de 1951 (CECA)                                       presenta os Estados-membros e é a principal instituição responsável pela
Sede política: Bruxelas e Estrasburgo                                      tomada de decisões, a par do Parlamento, nomeadamente na aprovação
Sigla: UE/EU                                                               de legislação e do orçamento da UE. É ainda ao Conselho que compete
Estados-membros: 27                                                        concluir os acordos internacionais negociados pela Comissão. Em função
Adesão de Portugal: 1 de Janeiro de 1986                                   das matérias, delibera por maioria simples, maioria qualificada ou por
Site: europa.eu                                                            unanimidade. Este órgão toma a designação de Conselho Europeu quan-
                                                                           do reúne ao nível de Chefes de Estado e de Governo, tendo por objectivo,
   A União Europeia, estabelecida pelo Tratado de Maastricht, traduz o     nesta versão, dinamizar a UE no que concerne às questões essenciais.
estado actual do processo de integração europeia, simbolicamente ini-
ciado a 9 de Maio de 1950. Nesse dia, Robert Schuman1 (1886-1963), me-        O Parlamento Europeu é o órgão eleito que representa os cidadãos.
diante acordo prévio com o chanceler alemão Konrad Adenauer (1876-         Controla politicamente as actividades da UE, partilhando o poder legis-
1967), fez em nome do governo francês uma Declaração inspirada na vi-      lativo e orçamental com o Conselho. As sessões plenárias decorrem em
são europeia de Jean Monnet2 (1888-1979), propondo que a produção e        Estrasburgo, tendo algumas lugar em Bruxelas.
comercialização do carvão e do aço fossem colocadas sob tutela de uma
autoridade supranacional, cujas decisões vinculassem quer a Alemanha          A Comissão Europeia, órgão independente dos governos dos Estados-
quer a França, bem como os demais países signatários. É actualmente        -membros, é responsável perante o Parlamento e representa aquilo que se
considerada uma declaração histórica e de enorme alcance, pelo facto       designa por interesse colectivo dos europeus, sendo a instituição executiva
de ter transformado as matérias-primas da Guerra – o carvão e o aço        por excelência. Tem o direito de propor legislação, ao mesmo tempo que
– em instrumentos de reconciliação e manutenção da paz na Europa.          é responsável por assegurar que os regulamentos e directivas, adoptados
Por conseguinte, sabendo-se que as sociedades se edificam em torno de      pelo Conselho e pelo Parlamento, são correctamente implementados em
símbolos, desde 1995 que o dia 9 de Maio é o Dia da Europa.                todos os Estados-membros. É à Comissão que compete pôr em prática as
                                                                           decisões do Conselho, como é o caso da Política Agrícola Comum (PAC).
   O Tratado de Paris, que instituiu a Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço (CECA), foi assinado dia 18 de Abril de 1951. Tratou-se da           Além destes, a UE conta ainda com outros órgãos e instituições,
primeira vez em que os seis países signatários concordaram transferir      como o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas, o Comité Económico
competências para uma entidade supranacional, cujo primeiro presi-         e Social Europeu (CESE), o Comité das Regiões (CdR), o Banco Europeu
dente foi Jean Monnet. A 25 de Março de 1957 era assinado o Tratado        de Investimento (BEI) e o Banco Central Europeu (BCE).
de Roma, que instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a
Comunidade Europeia da Energia Atómica (Euratom), aprofundando                Presentemente, a UE constitui um pacto entre nações soberanas,
a integração através da cooperação económica, conferida pela abolição      determinadas em partilhar um destino comum e exercer, em conjunto,
dos direitos aduaneiros. A 8 de Abril de 1965 foi dado mais um passo       uma parte crescente da sua soberania, relativamente aos principais va-
com a assinatura do Tratado de Bruxelas, também conhecido por Tratado      lores prezados pelos seus cidadãos: a paz, a prosperidade económica, a
de Fusão, que criou uma Comissão única e um Conselho único para as         segurança, a democracia participativa, a justiça e a solidariedade. As po-
Comunidades Europeias (CECA, CEE e Euroatom), visando simplificar          líticas da UE têm igualmente como objectivo assegurar a convergência
o funcionamento das instituições. Com o intuito de fazer face ao reforço   das regiões e dos países menos desenvolvidos, contribuindo ainda para
da coesão económica, social e territorial dos novos Estados-membros,       a reconversão de sectores da economia mais atingidos pelo incremento
em1975foicriadooFundoEuropeudeDesenvolvimentoRegional(FEDER),              da concorrência internacional.
tendo-se realizado, em Junho de 1979, as primeiras eleições para o Parla-
mento Europeu por sufrágio universal directo.                                 Ao congregar 500 milhões de habitantes de 27 países que se expres-
                                                                           sam em 23 línguas oficiais, a União Europeia faz plenamente jus ao seu
   Acto Único Europeu foi o nome dado ao Tratado assinado em Haia a 1      lema In varietate concordia (Unida na diversidade). Por conseguinte, o seu
de Julho de 1987, que preparou as instituições para a adesão de Portugal   estatuto está muito para além de uma mera confederação de Estados,
e Espanha, introduzindo a votação por maioria qualificada no Conselho      não sendo, no entanto – e por enquanto – um Estado Federal. Com efeito,
e conferindo maior peso decisório ao Parlamento. Assinado a 7 de Feve-     a sua estrutura não se insere em qualquer categoria política predefinida,
reiro de 1992, o Tratado de Maastricht, também conhecido como Tratado      constituindo antes um sistema político que desde há 60 anos vem aper-
da União Europeia, preparou a União Monetária Europeia (UEM) e intro-      feiçoando os seus processos de organização e de decisão, em busca de
duziu os elementos essenciais à união política, inaugurando o famoso       melhores condições de vida para os seus cidadãos.
processo de co-decisão que caracteriza a UE. Alargou ainda as formas
de cooperação intergovernamental, designadamente, nas áreas da defe-          Qual visionário, o escritor francês Victor Hugo (1802-1885) proferiu
sa, justiça e assuntos internos. Criado em 1993, o mercado interno é, com  em 1849 as quiméricas palavras que se apresentam. Contudo, os múlti-
toda a propriedade, uma das maiores realizações da UE.                     plos Tratados que deram corpo ao projecto europeu têm vindo a encur-
                                                                           tar a distância que já mal separa a realidade da utopia por si idealizada:
   O Tratado de Amesterdão, assinado em 2 de Outubro de 1997, procedeu
à reforma das instituições com o intuito de preparar a adesão de novos        «Virá um dia em que todas as nações do continente, sem perderem a sua qua-
membros, trazendo também maior transparência ao processo de decisão.       lidade distintiva e a sua gloriosa individualidade, se fundirão estreitamente numa
                                                                           unidade superior e constituirão a fraternidade europeia. Virá um dia em que não
   A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia foi proclamada      haverá outros campos de batalha para além dos mercados abrindo-se às ideias.
em 2000, enunciando os direitos reconhecidos aos cidadãos, facto que       Virá um dia em que as balas e as bombas serão substituídas pelos votos».
constitui um importante elo de identificação entre os europeus.
                                                                              Não obstante, dois conflitos mundiais de permeio, que causaram 70
   Com o Tratado de Nice, assinado a 26 de Fevereiro de 2001, um dos ob-   milhões de mortos, quase deitaram por terra a esperança de alcançar
jectivos era, uma vez mais, a introdução de reformas com vista ao alarga-  uma paz duradoura na Europa. Resta agora saber se, na sequência da
mento da UE, tendo sido alterada a composição da Comissão Europeia e       recente crise financeira internacional, a Europa e os seus líderes estão à
redefinido o sistema de votação no Conselho Europeu. Por fim, com o Tra-   altura da herança legada pelos pioneiros deste projecto político sui ge-
tado de Lisboa, assinado em 13 de Dezembro de 2007, pretendeu-se tornar    neris, para enfrentar os novos desafios que se colocam à construção do
a UE mais eficaz e melhor preparada para intervir nas questões globais,    processo de integração iniciado há 60 anos. Presentemente, as questões
pelo que se dotou o Parlamento de mais poderes, introduzindo também        relacionadas com a segurança – militar, económica, ambiental e alimen-
alterações na votação do Conselho. Neste sentido, foram criados os cargos  tar – são aquelas que mais preocupações levantam. Neste sentido, a UE
de Presidente Permanente do Conselho Europeu e de Alto Representan-        procura trabalhar de forma construtiva com as múltiplas regiões com
te da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, bem     as quais tem fronteiras, designadamente, os Balcãs, o Norte de África, o
como um serviço diplomático comum aos países que integram a UE.            Cáucaso e o Médio Oriente. Todavia, há uma outra questão crucial que
                                                                           já entrou na ordem do dia. Atendendo à baixa taxa de natalidade que se
   Em termos de funcionamento, a UE assenta em três grandes institui-      verifica um pouco por toda a Europa, um dos desafios reside na pressão
ções: Conselho da União Europeia, Parlamento Europeu e Comissão Eu-        cada vez maior que o custo crescente dos regimes de pensões representa
                                                                           para as economias nacionais, exigindo aos governos soluções concretas
                                                                           para que os seus concidadãos possam sair beneficiários e não vítimas do
                                                                           “irreversível” processo de globalização em curso.

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