Page 22 - Revista da Armada
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NRP ÁLVARES CABRAL NA OPERAÇÃO ATALANTA

LARGADA DE MUSCATE                                  recolha de informação na costa Este da Somália.                           3ª PARTE
                                                    Deste modo, em 12 de maio, voltamos a estar ao
 Após a paragem logística para abastecimento        lado do nosso já conhecido reabastecedor, o RFA    pelo oficial de ligação da célula de apoio logísti-
do navio em Muscate, no dia 8 de maio a Álvares     Fort Vitória, e após uma especialmente bem-su-     co da Operação ATALANTA, que procedeu à sua
Cabral largou, rumo a sul, de novo em direção ao    cedida operação de reabastecimento, rumamos        entrega ao Destacamento Espanhol que opera
Corno de África.                                    de novo a sul na demanda da costa Este.            uma aeronave de patrulha marítima P3 Orion,
                                                                                                       também integrada na operação.
 À saída do porto, num encontro inesperado, o        Após chegada à costa Este, o navio focou a
navio cruzou-se com a Dhow Real do Sultão de        sua ação nas áreas atribuídas para monitoriza-      No dia seguinte, cerca das 14:00, o P3 espanhol
Omã, embarcação oficial do Chefe de Estado.         ção e recolha de imagens, tendo diariamente, e     descolou com os sobressalentes a bordo, devida-
Passando à distância adequada para prestar as       por vezes mais de uma vez por dia, conduzido       mente acondicionados num recipiente improvi-
honras previstas na Ordenança do Serviço Naval,     ações de reconhecimento através do helicóptero     sado, mas muito eficaz, e percorreu as 600 milhas
sem possibilidade de saber se a família real esta-  embarcado nos campos suspeitos de preparação       (mais de 1.000 Km) entre o aeroporto do Djibouti
ria ou não a bordo, a decisão só poderia ser de     de atividade de pirataria, especialmente nos que   e a costa Este da Somália, onde a Álvares Cabral
cumprir o cerimonial marítimo. O comandante         revelavam maior atividade.                         se encontrava em patrulha. A embalagem com os
mandou formar as fainas a bombordo e apitar a                                                          sobressalentes foi largada à água, ligeiramente a
sentido, ao mesmo tempo que cumpriu a                Com este tipo de operação focada, pretende-se     vante do navio, e recolhida de imediato pela nos-
continência regulamentar no patim da asa            não só identificar indícios que permitam um aviso
da ponte. Este tradicional cumprimento              antecipado da preparação dos grupos piratas para          sa semi-rígida.
naval não passou despercebido a bordo               largar para o mar, como também exercer uma                 Em 24 horas foi concluída com sucesso
da embarcação do Chefe de Estado Oma-               presença efetiva, dissuasora da saída dos piratas
nita, tendo sido correspondido exatamente           para o mar e eficaz na captura de algum grupo             uma operação logística, só possível com a
da mesma forma por um oficial irrepreen-            que eventualmente consiga largar.                         excelente interligação e cooperação entre
sivelmente uniformizado, na asa da ponte,                                                                     o Estado-maior embarcado na Álvares
virado face à Álvares Cabral.                        Durante esta patrulha o nosso helicóptero so-            Cabral, que coordenou a operação, a fraga-
                                                    freu uma avaria no sistema hidráulico, ficando            ta alemã FGS Augsburg que disponibilizou
 Nesta tirada, a tarefa inicialmente atri-          impedido de voar até fornecimento e montagem              os sobressalentes e os colocou no Aeropor-
buída ao navio pelo comandante da for-              de um conjunto de sobressalentes necessários,             to do Djibouti, a estrutura de apoio logístico
ça foi a patrulha e vigilância da área do           que infelizmente não dispúnhamos a bordo.                 à Operação ATALANTA no Djibouti e o
Índico Norte ao largo de Omã, em trân-                                                                        Destacamento Espanhol que opera o avião
sito para a zona Este de aproximação ao              Deu-se então início a uma operação logística de          de patrulha marítima P3 que demonstrou
Corredor Internacional de Tráfego Reco-             significativa envergadura, com a emissão de um            elevada disponibilidade e perícia na mano-
mendado (IRTC), no Golfo de Áden.                   pedido urgente de sobressalentes à Direção de             bra de largada dos sobressalentes.
                                                    Abastecimento, mas também, ao mesmo tempo,
 Nesta zona do Índico Norte (ou mar                 aos navios que integram a Força Naval. Felizmen-           Não será de menos referir ainda, a eficá-
arábico), conhecida como zona da “Fan”              te, o navio alemão FGS Augsburg, a navegar no             cia da estrutura de apoio logístico nacional,
(ventoinha) devido aos fortes ventos que            Golfo de Áden, dispunha dos sobressalentes a bor-         que em 7 dias, enviou sobressalentes iguais
aqui se fazem sentir no período da Mon-             do, disponibilizou-os de imediato, e fez descolar         aos que tinham sido cedidos pela marinha
ção, verifica-se um tráfego marítimo in-            o seu helicóptero que os transportou para o Aero-         alemã e os entregou no Augsburg, acom-
tenso que circula entre o Golfo de Áden e           porto Internacional do Djibouti nesse mesmo dia.          panhados pelos nossos agradecimentos ao
toda a área que vai do sul da India até ao                                                                    navio alemão pela elevada disponibilidade
Golfo Pérsico. Mercê do elevado número               No Djibouti, os sobressalentes foram recebidos           e espirito de cooperação demonstrados.
de navios que aqui transitam, esta zona tem                                                                   Fechou-se assim o ciclo desta operação lo-
sido palco no passado de diversos ataques                                                                     gística verdadeiramente exemplar.
piratas, sendo pois relevante manter neste mesmo
local uma presença naval visível e dissuasora.                                                              PORT VICTORIA

 No prosseguimento da patrulha, já junto ao                                                             No dia 20 de maio – Dia da Marinha – o navio
IRTC, cumprimos um rendez-vous com dois                                                                atracou no porto de Port Victoria, para a paragem
navios franceses, o navio anfíbio FS Tonnerre e                                                        logística “mais desejada”.
a fragata FS Georges Leygues, que integraram a
força naval da UE durante um período relativa-                                                          As fracas condições de atracação testemunha-
mente curto, de 31 dias, e que muito em breve                                                          das no passado por outras guarnições que visita-
terminariam o seu empenhamento no Operação                                                             ram esta cidade, foram, uma vez mais, compro-
ATALANTA. Por esse motivo, o Comandante da                                                             vadas quando o navio se aproximou do porto.
Força aproveitou a ocasião para se deslocar a am-                                                      A necessidade de atracar na extremidade de um
bos os navios e agradecer o respetivo contributo                                                       cais, ficando com metade do comprimento do
para a Operação ATALANTA e para o combate à                                                            navio de fora, com o lançante e a contra-regeira
pirataria. Este encontro de oportunidade foi ainda                                                     de proa amarrados a uma boia, foi desta vez con-
aproveitado para registar fotograficamente, para                                                       dimentada com condições de vento muito forte,
a posteridade, os dois navios franceses a navega-                                                      e vai certamente ficar na memória daqueles que
rem ao lado do navio-almirante português.                                                              mais ativamente participaram na manobra.

COSTA ESTE DA SOMÁLIA                                                                                   A República das Seychelles, comummente con-
                                                                                                       siderada um paraíso de turismo, é na realidade um
 Cumprido o encontro com os navios franceses,                                                          país genuinamente africano, misto de influências
tornava-se necessário reabastecer antes de dar                                                         europeias, indo-asiáticas e africanas continentais
início à próxima tarefa atribuída, a vigilância e                                                      muito fortes. Com uma população sociável, ha-
                                                                                                       bituada aos estrangeiros e com o rendimento per
22 JULHO 2013 • REVISTA DA ARMADA                                                                      capita mais elevado de África, o país pode ser con-
                                                                                                       siderado como tendo um dos melhores níveis de
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