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NRP ÁLVARES CABRAL NA OPERAÇÃO ATALANTA
LARGADA DE MUSCATE recolha de informação na costa Este da Somália. 3ª PARTE
Deste modo, em 12 de maio, voltamos a estar ao
Após a paragem logística para abastecimento lado do nosso já conhecido reabastecedor, o RFA pelo oficial de ligação da célula de apoio logísti-
do navio em Muscate, no dia 8 de maio a Álvares Fort Vitória, e após uma especialmente bem-su- co da Operação ATALANTA, que procedeu à sua
Cabral largou, rumo a sul, de novo em direção ao cedida operação de reabastecimento, rumamos entrega ao Destacamento Espanhol que opera
Corno de África. de novo a sul na demanda da costa Este. uma aeronave de patrulha marítima P3 Orion,
também integrada na operação.
À saída do porto, num encontro inesperado, o Após chegada à costa Este, o navio focou a
navio cruzou-se com a Dhow Real do Sultão de sua ação nas áreas atribuídas para monitoriza- No dia seguinte, cerca das 14:00, o P3 espanhol
Omã, embarcação oficial do Chefe de Estado. ção e recolha de imagens, tendo diariamente, e descolou com os sobressalentes a bordo, devida-
Passando à distância adequada para prestar as por vezes mais de uma vez por dia, conduzido mente acondicionados num recipiente improvi-
honras previstas na Ordenança do Serviço Naval, ações de reconhecimento através do helicóptero sado, mas muito eficaz, e percorreu as 600 milhas
sem possibilidade de saber se a família real esta- embarcado nos campos suspeitos de preparação (mais de 1.000 Km) entre o aeroporto do Djibouti
ria ou não a bordo, a decisão só poderia ser de de atividade de pirataria, especialmente nos que e a costa Este da Somália, onde a Álvares Cabral
cumprir o cerimonial marítimo. O comandante revelavam maior atividade. se encontrava em patrulha. A embalagem com os
mandou formar as fainas a bombordo e apitar a sobressalentes foi largada à água, ligeiramente a
sentido, ao mesmo tempo que cumpriu a Com este tipo de operação focada, pretende-se vante do navio, e recolhida de imediato pela nos-
continência regulamentar no patim da asa não só identificar indícios que permitam um aviso
da ponte. Este tradicional cumprimento antecipado da preparação dos grupos piratas para sa semi-rígida.
naval não passou despercebido a bordo largar para o mar, como também exercer uma Em 24 horas foi concluída com sucesso
da embarcação do Chefe de Estado Oma- presença efetiva, dissuasora da saída dos piratas
nita, tendo sido correspondido exatamente para o mar e eficaz na captura de algum grupo uma operação logística, só possível com a
da mesma forma por um oficial irrepreen- que eventualmente consiga largar. excelente interligação e cooperação entre
sivelmente uniformizado, na asa da ponte, o Estado-maior embarcado na Álvares
virado face à Álvares Cabral. Durante esta patrulha o nosso helicóptero so- Cabral, que coordenou a operação, a fraga-
freu uma avaria no sistema hidráulico, ficando ta alemã FGS Augsburg que disponibilizou
Nesta tirada, a tarefa inicialmente atri- impedido de voar até fornecimento e montagem os sobressalentes e os colocou no Aeropor-
buída ao navio pelo comandante da for- de um conjunto de sobressalentes necessários, to do Djibouti, a estrutura de apoio logístico
ça foi a patrulha e vigilância da área do que infelizmente não dispúnhamos a bordo. à Operação ATALANTA no Djibouti e o
Índico Norte ao largo de Omã, em trân- Destacamento Espanhol que opera o avião
sito para a zona Este de aproximação ao Deu-se então início a uma operação logística de de patrulha marítima P3 que demonstrou
Corredor Internacional de Tráfego Reco- significativa envergadura, com a emissão de um elevada disponibilidade e perícia na mano-
mendado (IRTC), no Golfo de Áden. pedido urgente de sobressalentes à Direção de bra de largada dos sobressalentes.
Abastecimento, mas também, ao mesmo tempo,
Nesta zona do Índico Norte (ou mar aos navios que integram a Força Naval. Felizmen- Não será de menos referir ainda, a eficá-
arábico), conhecida como zona da “Fan” te, o navio alemão FGS Augsburg, a navegar no cia da estrutura de apoio logístico nacional,
(ventoinha) devido aos fortes ventos que Golfo de Áden, dispunha dos sobressalentes a bor- que em 7 dias, enviou sobressalentes iguais
aqui se fazem sentir no período da Mon- do, disponibilizou-os de imediato, e fez descolar aos que tinham sido cedidos pela marinha
ção, verifica-se um tráfego marítimo in- o seu helicóptero que os transportou para o Aero- alemã e os entregou no Augsburg, acom-
tenso que circula entre o Golfo de Áden e porto Internacional do Djibouti nesse mesmo dia. panhados pelos nossos agradecimentos ao
toda a área que vai do sul da India até ao navio alemão pela elevada disponibilidade
Golfo Pérsico. Mercê do elevado número No Djibouti, os sobressalentes foram recebidos e espirito de cooperação demonstrados.
de navios que aqui transitam, esta zona tem Fechou-se assim o ciclo desta operação lo-
sido palco no passado de diversos ataques gística verdadeiramente exemplar.
piratas, sendo pois relevante manter neste mesmo
local uma presença naval visível e dissuasora. PORT VICTORIA
No prosseguimento da patrulha, já junto ao No dia 20 de maio – Dia da Marinha – o navio
IRTC, cumprimos um rendez-vous com dois atracou no porto de Port Victoria, para a paragem
navios franceses, o navio anfíbio FS Tonnerre e logística “mais desejada”.
a fragata FS Georges Leygues, que integraram a
força naval da UE durante um período relativa- As fracas condições de atracação testemunha-
mente curto, de 31 dias, e que muito em breve das no passado por outras guarnições que visita-
terminariam o seu empenhamento no Operação ram esta cidade, foram, uma vez mais, compro-
ATALANTA. Por esse motivo, o Comandante da vadas quando o navio se aproximou do porto.
Força aproveitou a ocasião para se deslocar a am- A necessidade de atracar na extremidade de um
bos os navios e agradecer o respetivo contributo cais, ficando com metade do comprimento do
para a Operação ATALANTA e para o combate à navio de fora, com o lançante e a contra-regeira
pirataria. Este encontro de oportunidade foi ainda de proa amarrados a uma boia, foi desta vez con-
aproveitado para registar fotograficamente, para dimentada com condições de vento muito forte,
a posteridade, os dois navios franceses a navega- e vai certamente ficar na memória daqueles que
rem ao lado do navio-almirante português. mais ativamente participaram na manobra.
COSTA ESTE DA SOMÁLIA A República das Seychelles, comummente con-
siderada um paraíso de turismo, é na realidade um
Cumprido o encontro com os navios franceses, país genuinamente africano, misto de influências
tornava-se necessário reabastecer antes de dar europeias, indo-asiáticas e africanas continentais
início à próxima tarefa atribuída, a vigilância e muito fortes. Com uma população sociável, ha-
bituada aos estrangeiros e com o rendimento per
22 JULHO 2013 • REVISTA DA ARMADA capita mais elevado de África, o país pode ser con-
siderado como tendo um dos melhores níveis de