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COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

MUSEU DE MARINHA – 150 ANOS

CONTRIBUTOS PARA A DEFINIÇÃO
DE UM PROJECTO CULTURAL
O Museu de Marinha celebra 150
          anos de vida e história - um per-  trarmo-nos a nós próprios na relação (ou       Foto Fátima Alvesção teve por título Salvaguarda da Vida
          curso que atravessou gerações      na falta dela!) que estabelecemos com es-      Humana no Mar – Elementos Históricos,
e regimes, modas e modos de pensar e         ses objectos. O Museu tem pois também          esteve instalada no Pavilhão das Galeotas
fazer Museus, condicionalismos diversos      esse papel de propiciador/provocador de        e constituiu um trabalho pioneiro no pa-
que hoje se traduzem nos alicerces do        relações.                                      norama dos museus portugueses. Lamen-
que somos e nos desafiam a questionar                                                       tavelmente o carácter permanente não foi
as futuras rotas.                             Para que este desígnio se cumpra já não       garantido, porém esta foi a experiência
 Quando em julho de 1863 o Rei D. Luis       basta existir dedicado a uma elite cultu-      embrionária que permitiu posteriormente
fez nascer em Portugal                       ral, é preciso alargar e estar disponível      um passo maior, em 2003.
o Museu de Marinha, o                        para receber todas as pessoas na sua di-
conceito de museu, de                        versidade. Daí a necessidade e insistência                         – O Museu de Mari-
matriz europeia, seria                       em usarmos o nome colectivo “público”                            nha foi também uma das
seguramente diverso da-                      no plural (“públicos”), como forma de re-                        primeiras instituições
quele que conhecemos                         forçar a sua importância, de assegurar e                         museológicas nacionais
na actualidade. Diferen-                     salvaguardar a abertura à multiplicidade.                        a ter página na Internet;
tes seriam também os                                                                                          algo que hoje nos parece
objectivos e motivações                       É neste cenário que emerge e se verifica                        banal mas que em 1997
que legitimavam a cria-                      pertinente o conceito de acessibilidade, aqui                    se apresentava inovador,
ção de instituições desta                    utilizado na acepção do Conceito Europeu.1                       permitindo a abertura de
natureza.                                    Na senda desta abertura à multiplicidade, o                      novas formas de divulga-
 Volvidos 150 anos,                          Museu de Marinha tem feito uma travessia                         ção, comunicação e rela-
conceitos, objectos e                        de considerável relevância, a registar:                          ção com os públicos.
objectivos tornaram-se
mais abrangentes, a par                       – Entre 1992 e 1994 foram desenvolvi-                             – Em 2003 e no quadro
das dinâmicas sociais e                      dos projectos financiados pelo Secreta-                          do Ano Europeu das Pes-
culturais que contextuali-                   riado para a Modernização Administrati-                          soas com Deficiência, o
zam a fenomenologia em                       va que dotaram o museu com condições                             Museu de Marinha dis-
que os museus se inscrevem, desenvol-        de acessibilidade para portadores de                             ponibiliza um “percurso
vida em dois planos (independentemente       deficiência motora: adaptação de instala-                        táctil” destinado a cegos
da época em que se encontram): Receber       ções sanitárias, instalação de rampas de                         e amblíopes, inserido na
e dar - Os museus recebem o legado da        acesso e uma plataforma elevatória para        sua exposição permanente, oferecendo a
história e/ou testemunhos vivenciais de      cadeiras de rodas e visitantes com mobi-       possibilidade de exploração táctil de 44
uma dada realidade, para em sequência        lidade reduzida;                               peças do seu acervo, representativas de
dar: os museus dão garantias do estudo e                                                    6 áreas temáticas distintas. Este percurso,
preservação dos acervos, mas também os        – Em 1995, na sequência de um pro-            suportado por legendas em braille e por
dão a conhecer, dão a oportunidade de        tocolo estabelecido com o Centro Re-           dois catálogos: versão braille e versão a
partilha daquilo que é bem comum.            gional de Segurança Social de Lisboa e         negro para amblíopes, ainda hoje exis-
 Nestes últimos 150 anos o mundo mu-         Vale do Tejo, através do Instituto António     te (tendo sofrido ligeiras adaptações) e
dou e os museus não se excluem dessa         Feliciano de Castilho, foi criada em Por-      constitui actualmente o ponto de partida
mudança social: dos museus elitistas, ao     tugal a primeira adaptação com carácter        para acções específicas que desenvolve-
serviço do mero diletantismo cultural, à     permanente de um percurso expositivo           mos com pessoas cegas e de baixa visão.
modernidade que reivindica a democra-        destinado a exploração táctil. A exposi-        Estamos cientes de que tudo o que foi
cia cultural, há toda uma miríade de vo-                                                    feito até aqui não basta para fazer do Mu-
cações e utilizações destes espaços que                                                     seu de Marinha um museu acessível, mas
conduzem necessariamente à reformula-                                                       congratulamo-nos pela travessia feita,
ção da sua missão e ao seu reposiciona-                                                     pois dela retiramos a experiência funda-
mento social.                                                                               mental que nos projecta nas acções pre-
 Novos tempos trazem novos desafios,                                                        sentes e futuras.
novas exigências, na expectativa de cor-                                                     Cabe ao Serviço Educativo do Museu,
responder a outras necessidades. Não                                                        por inerência de funções, mediar a re-
basta reunir e dispor objectos numa sala                                                    lação do Museu com os seus públicos e
que se abre ao público, porque os públi-                                                    responder às suas solicitações e neces-
cos que hoje frequentam estes espaços                                                       sidades. Os públicos com necessidades
reclamam mais do que apenas contem-                                                         especiais têm por isso, da parte deste
plação. Encontrar os objectos no museu                                                      Serviço, uma atenção na mesma medida:
já não é suficiente, é necessário encon-                                                    especial! Quando devidamente progra-
                                                                                            madas, o Serviço Educativo proporciona
                                                                                            a estes visitantes, apoio e recursos com-
                                                                                            plementares para suprir necessidades e

24 JULHO 2013 • REVISTA DA ARMADA
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