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ACADEMIA DE MARINHA
HOMENAGEM AO COMANDANTE
SATURNINO MONTEIRO
No dia 16 de julho a Academia de
Marinha prestou homenagem ao no Monteiro o Comandante da Companhia própria da idade e generalizada inexperiên-
seu Membro Honorário, Capitão- de Alunos, cargo que manteve ao longo da cia da vida militar nos levavam por vezes a
maioria da duração do nosso curso. pensar que haveria talvez da sua parte um
-de-mar-e-guerra Armando da Silva Saturni- Na brusca mudança de vida a que a maior exagerado rigor no grau de exigência que
no Monteiro. parte de nós, jovens cadetes, fomos natural- procurava impor à nossa conduta no regime
Para o efeito, o Presidente da Academia, mente submetidos, habituámo-nos desde de internato.
Almirante Vieira Matias,
começou por felicitar o A experiência posterior
Comandante pelo seu re- ao longo das nossas carrei-
cente e 90º aniversário e ras profissionais, designa-
pela sua notável carreira damente na vida a bordo e
naval e pela sua dedica- nas longas comissões du-
ção à História da Marinha rante as campanhas africa-
e em especial pela edição nas, bem evidenciou quão
em oito volumes da sua úteis e importantes foram
obra “Batalhas e Comba- os cuidados postos pelo
tes da Marinha Portugue- Senhor Comandante Sa-
sa”, agora traduzida em turnino Monteiro na nossa
inglês no qual se empe- formação militar-naval.
nhou com elevado esforço Das aulas de ordem unida
intelectual, físico e mesmo e da pontualidade e apru-
financeiro. De seguida, o mo exigidos à apresen-
Académico Almirante Cas- tação da companhia de
tanho Paes proferiu o elo- Mesa da presidência. alunos, tanto interna como
gio ao homenageado que externamente, passando
se transcreve na integra. logo a ver na figura do nosso Comandante pelo ensino práctico da
Coube-me a grande honra, por convi- de Companhia um modelo de virtudes mili- organização naval e dos regulamentos mi-
te do Senhor Presidente da Academia de tares, bem visível na competência com que litares, pelas técnicas e tácticas básicas de
Marinha, de apresentar uma comunicação nos ministrava ensinamentos, na constante comando de forças de desembarque em
na presente cerimónia de homenagem ao preocupação de dar o exemplo,, no rigor acções de combate ou de manutenção da
Senhor Comandante Armando da Silva ordem, até à arte de velejar nas embarca-
Saturnino Monteiro, distintíssima perso- ções desportivas em cujo processo de
nalidade que integra os quadros desta aquisição para a Escola Naval fortemen-
Academia desde 1988, ano em que foi te se empenhou, muitos foram os conhe-
eleito como Membro Corresponden- cimentos e perícias militares e marinhei-
te, tendo sido elevado a Efectivo em ras que nos procurou incutir. Não tenho
1990, a Emérito em 1994 e ascendido, qualquer dúvida em afirmar que muitos
em 2011, à mais elevada categoria da dos seus ensinamentos me foram úteis
respectiva hierarquia académica - a de pela vida fora.
Membro Honorário. O Senhor Comandante Saturnino
Embora achando que haveria certa- Monteiro foi admitido à Escola Naval
mente outros confrades com um conhe- em Setembro de 1942, tendo sido pro-
cimento mais profundo e detalhado da movido a guarda-marinha três anos de-
extraordinariamente relevante e meritó- pois e a segundo-tenente em Março de
ria obra académica do homenageado no 1946. A partir daí iniciou a sua carreira
campo da história marítima, facto já re- naval, a qual se desenvolveu com a nor-
conhecido nacional e internacionalmen- mal diversidade que era característica da
te, procurarei contudo dar o meu mo- maioria dos oficiais da Armada da classe
desto mas muito empenhado contributo de marinha que prestaram serviço activo
a este acto simbólico que pessoalmente na segunda metade do século XX.
entendo ser da maior justiça. Especializou-se em Artilharia e fez
E faço-o com todo o gosto, porque des- diversas comissões de embarque como
de há muito tempo que guardo a maior chefe de serviços a bordo de contrator-
consideração, respeito e estima pelo Se- Almirante Castanho Paes. pedeiros e avisos, duas delas em comis-
sões no Oriente (a primeira em Timor e a
nhor Comandante Saturnino Monteiro, pois das atitudes, na determinação, na frontali- segunda na Índia e Macau). Foi oficial ime-
quis o destino que o conhecesse quando, dade e, sobretudo, no alto sentido da disci- diato do contratorpedeiro VOUGA e, já ca-
mancebo com a idade de 16 anos, no já plina e no aprumo e brio exemplares que pitão-tenente, comandou o navio-patrulha
longínquo ano de 1959, entrei para a Escola pautavam o seu carácter e comportamento SÃO VICENTE em comissão em Angola. No
Naval. Era o então primeiro-tenente Saturni- diário perante nós, cuja despreocupação posto de capitão-de-fragata, cumpriu ain-
REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO-OUTUBRO 2013 21