Page 22 - Revista da Armada
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da uma comissão em Moçambique como Tendo passado à situação de reforma em História da Marinha Portuguesa. Através
Comandante da Defesa Marítima de Porto Julho de 1990, não foi por isso que o Senhor da sua ímpar capacidade de organização,
Amélia. Terminou a sua carreira no activo, Comandante Saturnino Monteiro deixou de persistência e método no trabalho, proce-
no posto de capitão-de-mar-e-guerra, quan- continuar a dar os seus valiosos contributos deu, durante mais de uma década, ao de-
do exercia o cargo de Chefe da 2ª Repar- à Marinha e ao País. Seguindo a profunda senvolvimento dessa obra até ao seu termo.
tição da Direccção do Serviço de Pessoal, vocação que sentia pela investigação e es- A sua empenhada dedicação e muito saber
por ter passado à situação de reserva em tudo da história marítima portuguesa, dedi- foram bem postos à prova desde o desenho
Novembro de 1975, em consequência de cou-se de alma e coração a esta temática, ao e estabelecimento do respectivo plano de
decisão da Junta de Saúde Naval. estruturação, à orientação e coordena-
Do conjunto das suas comissões em ção do trabalho dos autores dos quatro
terra, há no entanto a realçar uma forte primeiros volumes, ao levantamento de
vocação formativa que, certamente por todos os estudos e pesquizas já realiza-
ser superiormente conhecida, o acompa- dos, à promoção da investigação de no-
nhou em larga medida ao longo de toda vas fontes, à selecção e contratação dos
a sua carreira, ou seja, desde segundo- próprios autores e coordenadores e, por
-tenente a capitão-de-mar-e-guerra. São fim, na própria edição dos volumes que
disso claros exemplos: compõem esta magnífica obra, cujo in-
-As suas três comissões na ESCOLA DE teresse e qualidade são bem conhecidos
AUNOS MARINHEIROS, a última das de todos quantos já tiveram a oportuni-
quais como seu Director de Instrução; dade de a ler ou consultar.
-As suas três comissões na ESCOLA A produção científica do Comandante
NAVAL: a primeira, como Comandante Saturnino Monteiro no âmbito da Acade-
da Companhia de Alunos e Instrutor; a mia de Marinha não se ficou, porém, por
segunda, como Comandante do Corpo esta sua prestação, já que apresentou uma
de Alunos e Professor das cadeiras de dezena de importantes comunicações em
Organização e Arte de Comando, Histó- sessões normais da Academia, e mais
ria Marítima, Administração Ultramarina outras três integradas nos Simpósios de
e Política e Estratégia; e a terceira, como História Marítima, todas elas fruto do seu
Oficial Imediato. intenso estudo e investigações. Mais re-
- E há ainda a realçar, já na situação centemente, colaborou de forma bastante
de reserva, o cargo de Director do Cen- activa na elaboração do novo projecto de
tro de Instrução por Correspondência, Regulamento Interno da Academia.
órgão inovador cuja criação, organiza- Como epílogo desta breve súmula, não
ção e regular funcionamento muito a Comandante Saturnino Monteiro. podia deixar de assinalar a monumental
Marinha lhe ficou a dever, e que viria mais longo dos 25 anos de membro da Academia obra Batalhas e Combates da Marinha
tarde a transformar-se no Centro Naval de de Marinha, produzindo uma obra notável Portuguesa, da sua exclusiva autoria, publi-
Ensino à Distância. O sucesso deste novo e de valor inestimável, conforme seguida- cada em oito volumes que abrangem todo o
sistema de ensino na Marinha possibilitou, mente referirei, que não pode deixar de período desde a fundação da nacionalidade
desde logo, uma formação académica e ser devidamente relevada, não só pelo seu até aos dias de hoje, obra de relevantíssimo
técnico-naval complementar que valorizou incontestável valor científico, mas também mérito e de grande importância como con-
profissionalmente muitos milhares de mili- pelo impacto que tem e continuará a ter, à tributo para a cultura nacional na área da
tares e, posteriormente, através de módu- medida que for sendo mais divulgada e co- História Marítima, e que tão justamente me-
los curriculares dos programas oficiais do nhecida nos meios académicos nacionais e receu a atribuição do Prémio Almirante Sar-
ensino básico e secundário, viria a bene- internacionais da especialidade. mento Rodrigues por decisão unânime do
ficiar outros tantos mi- Júri. Nesta obra de uma
lhares de militares que vida, o Senhor Coman-
dessa formação escolar dante Saturnino Montei-
necessitavam para pro- ro conjugou, de forma
gredir nas respectivas inteligente e lógica, os
carreiras e que não ti- factos históricos resul-
nham disponibilidade, tantes do seu profundo
designadamente por ra- labor investigativo sobre
zões de serviço, para a as batalhas e combates
obter através da normal navais, com os adequa-
frequência de aulas em dos conhecimentos das
escolas clássicas. ciências náuticas que
A comprovar a sua lhes eram particularmen-
brilhante carreira naval te aplicáveis, caldeados
constam da sua folha de harmoniosamente com a
serviços, para além de sua própria sensibilidade
22 louvores individuais, de marinheiro experien-
a concessão dos graus te, designadamente nas
de cavaleiro, oficial e Alguns cadetes que entre 1959-1963, na Escola Naval muito apreciaram a acção do Cte Saturnino Monteiro. áreas da navegação à
comendador da Ordem Militar de Aviz, Procurando resumir essa sua extensa obra vela e do armamento naval, de que resulta-
uma Medalha de Serviços Distintos de e os muitos contributos que deu à Academia ram explicações cientificamente muito bem
ouro, uma Medalha de Serviços Distintos de Marinha, começo por referir o trabalho fundamentadas para os desfechos de muitos
de prata, a Medalha de Mérito Militar de de elevadíssima qualidade que produziu desses conflitos navais. Sem essa hábil con-
2ª classe e a Medalha de Comportamento no exercício das funções de Presidente da jugação, muito teria ficado por explicar na
Exemplar de ouro. Comissão Científica do Projecto Editorial da evolução da nossa História Marítima.
22 SETEMBRO-OUTUBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA