Page 19 - Revista da Armada
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cento e cinquenta anos, também aquilo Museu dos Jerónimos. Este monumento em- cuito destinado a pessoas com necessidades
que é o Museu na atualidade, mostrando blemático, e o espaço em que o mesmo foi especiais.
igualmente aquilo que se deseja para um construído, em Santa Maria de Belém, evo-
futuro próximo. cam a gesta dos Descobrimentos Marítimos Segue-se uma descrição das ideias-força
Mas comecemos pela história. Onde se Portugueses. Que melhor local para instalar que presidiram à elaboração da exposição,
podem encontrar traços dessa história já se- um museu que acima de tudo procura apre- assim como dos principais elementos cons-
cular? Certamente que um dos principais lu- sentar as diferentes facetas da relação do tituintes da mesma.
gares onde se podem encontrar esses traços Homem com o Mar.
é na própria exposição permanente deste Além do espólio que o Museu possui, exis- Atualmente localizado na ala ocidental do
Museu. As peças em exibição foram sendo te um outro elemento muito mais importante Mosteiro dos Jerónimos, junto ao rio Tejo,
incorporadas ao longo da vida do desde a sua génese até aos tempos atuais,
mesmo. Esse facto colocou logo uma este Museu sempre se constituiu como uma
primeira grande dúvida, quando se
pensou na organização da exposi- instituição de referência na cultura,
ção: será que valeria a pena estar a especialmente na sua vertente ma-
retirar muitas peças da exposição rítima, dispondo de um espólio rico
permanente, sendo que ela própria e variado abrangendo diversas tipo-
conta também a história destes cento logias, incluindo modelos, obras de
e cinquenta anos, para as reunir num arte, fotografias, instrumentos de na-
determinado local e contar essa his- vegação, entre muitos outros. Dispõe
tória de um modo diferente? A opção ainda de peças originais de grandes
seguida foi colocar nesta exposição, dimensões, nomeadamente galeotas,
dedicada a evocar este aniversário embarcações tradicionais e hidroavi-
especial, um número mínimo de ões testemunho dos feitos da aviação
peças daquelas que são exibidas per- naval.
manentemente.
Qualquer museu nacional digno Descerramento da Placa pelo o Almirante CEMA. A ideia força diretora de todo o pro-
jeto assenta na premissa geradora es-
desse nome exibe apenas uma percentagem e que no fundo é a razão de ser de qualquer sencial na fidelização ao logotipo do
bastante reduzida do seu espólio. O Museu organização: as pessoas. Uma organização Museu de Marinha, uma caravela,
de Marinha não é exceção. A maior parte do só existe se existirem pessoas, sejam aque- que foi adaptado para as comemo-
seu espólio não está normalmente exposto, las que a integram e fazem funcionar, sejam rações dos 150 Anos do Museu de Marinha.
encontrando-se nas reservas. Em termos de as que com ela interagem. Esta exposição Assim, desenvolveu-se a ideia da expo-
peças, a aposta para esta exposição passou procura dar atenção a esses dois grandes sição se efetuar a bordo de um navio, ou
mais pela exibição de diversas preciosida- grupos. Por um lado, apresenta algumas das melhor, a própria exposição representar um
des, que geralmente não estão disponíveis pessoas que assumiram um papel destaca- navio. Para se conseguir esta representação
para o público, nomeadamente fotografias, do na história do Museu. Por outro lado, utilizam-se três elementos diretores: peças
livros antigos, alguns deles manuscritos, ou chama-nos a atenção para o facto de que alusivas à constituição do navio, peças vá-
cartografia. rias do acervo que ficam expostas no navio
A história do Museu de Marinha e os painéis principais da exposição que en-
passa igualmente pelos locais onde o corpam o navio.
mesmo esteve instalado. Quando D.
Luís criou o Museu de Marinha esta- Sobre as peças constituintes do
va a pensar num museu integrado na navio optou-se por colocar logo na
Escola Naval. Esta escola por sua vez entrada da Sala D. Luís uma figura de
funcionava junto à Sala do Risco, do proa observando-se por cima desta,
Arsenal de Marinha. Seria um museu ao correr da sala, três velas latinas
destinado a ir constituindo uma cole- com a Cruz de Cristo impressa.
ção de objetos valiosos do passado,
coleção essa que teria fins essencial- A visita inicia-se entrando a bordo
mente didáticos, destinada a trans- pela prancha, colocada a bombordo,
mitir aos alunos daquela escola uma o bordo de honra. A meio-navio fica
série de informações que lhes permi- um expositor com cartas náuticas.
tiam apreender e integrar um conjun- Entre o expositor das cartas náuticas
to de princípios e de valores que esse e a proa está um outro expositor com
mesmo passado representava. o arcanjo S. Rafael, que navegou na
Com o decorrer do tempo o Museu Nau S. Rafael, com Vasco da Gama,
foi evoluindo. A própria designação Inauguração da exposição. para a Índia. Em ambos os bordos do
navio, entre expositores, encontram-
do mesmo passou por vários nomes. A sua a pessoa mais importante para o Museu é o -se peças de artilharia naval que
coleção foi crescendo, apesar de ter conhe- visitante. Neste ponto, dedicado ao visitan- complementam o navio.
cido algumas contrariedades que também te, vale a pena realçar a preocupação que o
foram conduzindo ao desaparecimento de Museu de Marinha tem em procurar garantir Para o prolongamento do navio es-
peças. A Escola Naval mudou-se para o Al- a acessibilidade aos seus espaços por parte colheu-se a disposição das várias pe-
feite, em 1936, e o Museu de Marinha se- de todos os cidadãos, tentando minimizar ças e dos painéis, terminando-se com uma
parou-se da escola, permanecendo na Sala as barreiras que impedem as pessoas com roda de leme, que simbolicamente significa
do Risco. Mais tarde, mudou-se, provisoria- alguma limitação de aceder a determinados o dirigir do navio. O painel de popa é cons-
mente para um palácio nas Laranjeiras, e em espaços. Existe ainda um longo caminho tituído por três módulos retangulares, os
1962 passou a ocupar as atuais instalações. a percorrer, mas esta é uma preocupação quais têm no lado exterior uma fotografia de
No ano passado comemorou-se meio sé- permanente no Museu de Marinha, que foi painel de popa de uma caravela, enquanto
culo de presença do Museu de Marinha no pioneiro em Portugal na criação de um cir- no lado interior está uma foto da entrada do
Museu vista a partir do pátio fronteiro.
Algumas das peças escolhidas para trans-
mitirem de um modo estilizado a forma do
navio cumprem uma dupla função. Por um
lado, são peças com um significado muse-
REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO-OUTUBRO 2013 19