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COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA
MUSEU DE MARINHA – 150 ANOS
A CARTOGRAFIA DO MUSEU DE MARINHA
“Estudar a cartografia não é fácil. Por Na Sala dos Descobrimentos podemos ob- 18 de Novembro de 1791 — Paris, 17 de
muitas razões…”. Estas palavras do Pro- servar várias cópias de cartas do período de Janeiro de 1855), foi uma grande figura en-
fessor Joaquim Romero Magalhães acom- esplendor da cartografia náutica portuguesa tre os estudiosos da cartografia antiga. His-
panharam-me durante todo o processo de e uma carta original em papel de amorei- toriador, político e diplomata do século XIX,
elaboração deste artigo. ra, da cidade e do porto de Nagasaqui (séc. embora exilado, empenhou-se em procurar
Ter recentemente coordenado o trabalho de XVII), que representa o bloqueio do porto a melhor documentação para rebater a pre-
catalogação/indexação de uma parte da co- de Nagasaqui montado pelas autoridades tensão dos franceses de nos terem precedi-
lecção de cartografia da Biblioteca Central da japonesas de 15 de Agosto a 4 de Setem- do nas navegações pela costa ocidental de
Marinha, não me África, editando
dá especiais ha- em Paris a intro-
bilitações para es- dução à Crónica
crever sobre car- do Descobrimen-
tografia, um tema to e Conquista da
tão especializado Guiné de Gomes
e sobretudo admi- Eanes de Zurara e
ravelmente estu- a acompanhá-la
dado e difundido a Memória sobre
por historiadores a prioridade dos
como o Visconde descobrimentos
de Santarém, os portugueses na
irmãos Cortesão, costa de África
Teixeira da Mota, Ocidental: para
Magalhães Go- servir de ilustra-
dinho, Luís Albu- ção à Crónica da
querque, isto para Descrição dos portos marítimos do reino de Portugal, por João Carta do Índico de José da Costa Miranda. Conquista Gui-
não falar dos mais Teixeira, Cosmógrafo de sua majestade». Século XVII (1648). Século XVII (1681). né, por Azurara.
recentes. bro de 1647, com o propósito de impedir Como base das obras atrás referidas, reúne
No entanto, após alguns momentos de hesi- a saída dos galeões portugueses São João e 21 cartas geográficas que integram o primei-
tação decidi aceitar o repto que me foi dirigi- Santo André. Os navios faziam parte de uma ro dos seus três Atlas de mapas antigos.
do pelo Director do Museu de Marinha, CFR embaixada enviada pelo Rei de Portugal, D. Retomando a localização da colecção de
António Costa Canas e escrever algumas pa- João IV, ao Imperador do Japão. cartografia do Museu, foi a Segundo-tenente
lavras, no âmbito das comemorações do 150º Na Sala dos Séculos XIX e XX podemos Ana Maria Tavares, Chefe do Serviço do Pa-
aniversário do Museu, sobre o espólio carto- admirar um exemplar do «Atlas do Viscon- trimónio, que me informou que a colecção
gráfico do Museu. Afinal foi um convite ines- de de Santarém». O Museu possui quatro de cartografia, embora dependente do Ser-
perado, mas ao mesmo tempo provocador. exemplares distintos desta obra, da qual se viço do Património, encontra-se conservada
A minha ideia para “safar a rascada”, foi considera a existência de várias edições. na biblioteca do Museu.
colocar-me no papel de um investigador, com Três deles foram compilados pelo terceiro O número total de cartas é de cerca de
conhecimentos mínimos da história da carto- visconde, neto do autor da obra e o outro 2200 (que incluem originais e réplicas).
grafia portuguesa Durante alguns
e que pela pri- anos o patrimó-
meira vez toma nio cartográfico
conhecimento do Museu de
da existência da Marinha e da Bi-
colecção de car- blioteca da Ma-
tografia do Mu- rinha é comum,
seu de Marinha, só havendo
o que até certo uma real distin-
ponto até cor- ção quando em
respondia à ver- 1962 o Museu
dade. passa para as
Antes de mais, Mapa do Tejo, desde a Vila de Tancos até a Vila Franca de Xira. Anónimo. Século XVIII (1770). actuais instala-
necessitava conhecer o objecto do meu exemplar foi adquirido ao Comandante Ma- ções no Mosteiro dos Jerónimos. A partir
estudo. nuel Norton. Neste trabalho do século XIX, daí através de aquisições, doações/ofertas e
Comecei por dar como adquirido que estão reunidas reproduções magníficas dos entregas (no caso de Unidades de Marinha,
a colecção cartográfica estivesse distribu- monumentos cartográficos então conheci- como por exemplo do Instituto Hidrográfi-
ída pelas diversas salas do Museu, mas dos, respeitantes ao período compreendido co) a colecção do Museu foi crescendo.
uma breve visita fez-me ver que em ex- entre os séculos V e XVII. Entre os doadores podemos encontrar no-
posição permanente apenas se encontra Manuel Francisco de Macedo Leitão e Car- mes tão relevantes, como os do Duque de
uma pequena parte da mesma. valhosa, 2º Visconde de Santarém (Lisboa, Palmela, António Gomes da Rocha Madahíl,
24 SETEMBRO-OUTUBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA