Page 25 - Revista da Armada
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Henrique Mauffroy de Seixas (Coleção Sei- eram raros os “mestres de cartas de marear”, cação das fronteiras das possessões ultra-
xas), Maria Viladerbo Loureiro, o Embaixa- e em que se começa a abandonar a carta de marinas.
dor Pedro Teotónio Pereira, o Comandante graus iguais e se inicia a feitura de cartas de
Sacadura Cabral, o Almirante Leal Vilarinho latitudes crescidas. A carta náutica mais an- As missões, então constituídas, eram so-
e o do “infatigável batalhador das nossas tiga que se conhece, de origem portuguesa, bretudo compostas por militares, princi-
coisas do Mar”, o Almirante Gago Coutinho. em projecção de Mercator, é deste autor. palmente da Marinha e tinham a obrigação
A colecção está disponível ao público, Tal como as cartas do atlas “Miranda, José de produzir um determinado documento
podendo ser visualizada ou consultada, me- da Costa – Cartas náuticas [Manuscrito], cartográfico após a feitura do qual algu-
diante solicitação. 1688. [6]f. com mapas color., 1f., enc.”, mas se extinguiram. Assim aconteceu por
Depois de coligir todas estas informações, que faz parte do acervo da Biblioteca exemplo, em São Tomé e Príncipe, como
só faltava mesmo examinar a colecção. Mais Central da Marinha, as duas cartas têm a se pode comprovar numa cópia da “Carta
uma vez, socorri-me da Segundo-tenente Te- assinatura de Manoel Pim.tel de Villasboas da Ilha de S. Tomé” de 1922, abrangendo
nente Ana Maria Tavares, que amavelmente cosmógrafo-mor, o que significa foram exa- levantamentos e coordenação do Capitão-
me levou até à Biblioteca do Museu. minadas e aprovadas oficialmente. -de-mar-e-guerra Gago Coutinho.
As cartas estão
conservadas na Importantes são também os conjuntos
horizontal, num de cartas editadas
móvel próprio para pela Direcção Ge-
este tipo de docu- ral de Marinha e
mentação de gran- pelo Instituto Hi-
des dimensões. drográfico.
No pensamento Ainda no âmbi-
ocorreu-me a ideia, to da cartografia
que as cartas mais é de referir, por
antigas, deveriam fim, que existem
ser todas cópias. Esta no Museu de Ma-
ideia veio a verificar- rinha dois globos
-se ser incorrecta, do século XVII.
algumas das mais Magnificamente
antigas, representati-
vas e emblemáticas decorados, um re-
são, efectivamente, presenta a esfera
originais. celeste e outro a
Entre as várias Par de globos (celeste e terrestre). Oficina de Willem Janz Blaeu. terrestre. Têm 68
cm de diâmetro
cartas náuticas do Museu de Marinha gos- Durante muito tempo considerou-se que e foram produzi-
tava de salientar uma do “Oceano Índico” após o século XVII a cartografia portu-
(Portuguesa), datada de 1649, cujo autor guesa entrou em declínio, mas a verdade dos nas oficinas
João Teixeira, também conhecido como é que, no século XVIII além da tradicio- de Willem Jans Blaeu, famoso construtor
João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira nal cartografia náutica, aparecem muitos holandês de globos.
Albernaz, o velho, (nomes que lhe foram mapas de finalidade militar, diplomática,
atribuídos para o diferenciar do seu neto de apoio a obras de engenharia portuária Aqui fica pois o resultado desta “faina”,
homónimo João Teixeira Albernaz II ou e hidrologia fluvial, como é exemplo o que possa ser de alguma utilidade para os
João Teixeira Albernaz, o novo) nasceu em «Mapa do Tejo, desde a Vila de Tancos até leitores da Revista da Armada e leve ao
Lisboa no último quartel do século XVI e a Vila Franca de Xira». estudo e conhecimento aprofundado de
pertenceu a uma destacada família de car- Este mapa tirado do «Mappa Geral das toda a cartografia na posse da Marinha
tógrafos. Lezirias e Coutadas», que por ordem da Portuguesa.
Exerceu a sua profissão como cartógrafo- Secretaria de Estado se levantou no ano de
-mor durante a primeira metade do século 1770, e que foi reformado em 1784, tem J. Esteves Pereira
XVII, e por isso, a sua obra é um testemunho em conta as alterações provocadas pelas Técnico Superior
do avanço dos descobrimentos da época, correntes e discrimina mouchões, portos,
em particular no que respeita ao Brasil. pontes, valas, pauis, etc. Bibliografia:
Deste cartógrafo possui o Museu também Além do tipo de cartografia atrás referi-
um pequeno atlas, de dezasseis cartas com da, o Museu de Marinha possui algumas INSO, Jaime do - O Museu de Marinha. Lisboa : [s.n.],
o título «Descrição dos portos marítimos séries de cartas publicadas por organismos 1950. 37 p.
do reino de Portugal». Conhecem-se sete que tiveram um papel preponderante na MAGALHÃES, Joaquim Romero. Mundos em miniatura:
exemplares deste atlas, mas todos eles moderna cartografia portuguesa, como aproximação a alguns aspectos da cartografia portuguesa
apresentam diferenças entre si. sucede com a «Comissão de Cartografia». do Brasil (séculos XVI a XVIII). Anais do Museu Paulis-
Um pouco posteriores são dois magnífi- Esta instituição, criada em 1883 com a ta. Vol.17, n.º 1 (Junho 2009). - p. 69-94.
cos pergaminhos iluminados originais de finalidade de cartografar as “possessões PORTO. Biblioteca Pública Municipal - A pintura do
1681, que representam os oceanos Atlân- ultramarinas”, foi ao longo do tempo evo- mundo : geografia portuguesa e cartografia dos sé-
tico e Índico, da autoria de José da Costa luindo e o seu âmbito alargando. Daí as culos XVI a XVIII : Catalogo da exposiçäo. Porto :
Miranda. várias alterações de designação a que foi Câmara Municipal, 1992. 58, [3] p.
A carta do Oceano Índico tem ainda, na submetida: desde a Comissão de Carto- REIS, A. Estácio dos - A cartografia da Biblioteca Central
parte superior, em pormenor, quatro cartas, grafia, Junta das Missões Geográficas e de da Marinha. Revista da Armada. Ano 19, n.º 220 (Abril
respectivamente, de Sofala, Moçambique, Investigações Coloniais, Junta de Investi- 1990). - p. 24-25.
Mombaça e Socotorá. gações do Ultramar, até ao actual Instituto Tesouros do Museu de Marinha. Lisboa : Comissão
José da Costa Miranda trabalhou nos dois de Investigação Científica Tropical. Cultural da Marinha, 2012. 303 p. : fotografias, fig.
últimos decénios do século XVII e no primei- De início, a actividade da Comissão de VASCONCELOS, Frazão de – Algumas notas sôbre duas
ro do século XVIII, num período em que já Cartografia focou-se na questão da demar- cartas de marear, do século XVII, pertencentes à Biblio-
teca de Marinha. Anais do Club Militar Naval, t. LXI,
n.os 7 e 8 (Julho e Agosto 1930). p. 83-85.
N.R.
O autor não adopta o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO-OUTUBRO 2013 25