Page 27 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 493

ESTÓRIAS											 9

ESTÓRIAS COM SABOR A SAL

"BARTOLOMEU DIAS"

João Pedro, oficial antigo e de provas dadas nos draga-minas, na  a ser feito como era devido. Um acenar de mão do comandante
  época áurea desta flotilha, em que foi conseguido um elevado    fez finalmente perceber que a mensagem fora bem recebida, se-
nível de prestação, dela saindo um escol de marinheiros de elei-  gundos antes do navio começar a lavrar pela praia, até se deter,
ção. João Pedro era, de facto, um deles.                          a uns quantos metros do forte de Sesimbra, inclinar ligeiramente
                                                                  para um dos bordos e, por fim, começar a andar a ré, ganhando
  Como guarda-marinha, eu não pediria outro mestre. Era seu       seguimento, até se quedar no local em que foi dada ordem para
adjunto na faina do castelo do “B. Dias”, onde a sua experiência  largar o ferro.
emprestava a toda a faina um cunho de operacionalidade e de
bem fazer.                                                          Dada volta à faina, o João Pedro foi à ponte e de forma desa-
                                                                  brida, invectivou o guarda-marinha navegador com tudo o que
  Passado pouco tempo, já ele me dizia para tomar conta das       lhe ocorreu, que deveria ter avisado o comandante das distâncias
operações de largada e atracação e mais tarde também as de        e velocidades de aproximação ao fundeadouro, etc., etc. Nessa
fundear e suspender.                                              altura, o comandante voltou-se para o nosso amigo e disse-lhe:

  A faina do castelo é de todas a mais visível e provavelmente      − Não bata mais no guarda-marinha. Se quiser, bata no capi-
em 90% das manobras a que envolve mais riscos para o navio, se    tão-de-mar-e-guerra, que é só dele a culpa.
não for conduzida com cuidado, com presteza e desenrascanço,
algumas das vezes.                                                                                                   Ferreira Júnior
                                                                                                                                 CMG
  Na primeira saída do navio para o mar com a nova guarnição,
em PTB (Período de Treino Básico), ao demandarmos o fundea-       N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
douro de Sesimbra, apercebeu-se o João Pedro de que o navio
ia com velocidade demasiada para lograr com êxito a posição
de fundear. Disso foi dada conta à ponte, primeiro pelo telefo-
ne de cabeça e peito do marinheiro da faina, depois de viva voz
pelo próprio João Pedro e, por fim, com uma série de impropé-
rios pelo meio, de quem já estava farto de avisar e nada estava

                                                                                                                                                                                                                PUB

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