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REVISTA DA ARMADA | 524
          VI(R)VER O MAR







          PARTE V – (RE)APROXIMAÇÃO AO MAR. MEDIDAS NACIONAIS II






























            ara os Portugueses o mar sempre apresentou desafios, mas tam-  Pedro Arrupe, em Lisboa, que optaram por acrescentar um com-
         Pbém significou prosperidade e esperança no futuro. Se a epopeia   plemento – um currículo do mar – ao currículo oficial emanado do
          marítima  ainda  hoje  alimenta  o  nosso  ego,  o  Portugal  marítimo   Ministério da Educação, i.e., os jovens que frequentam esses colé-
          de hoje é uma ténue memória desse passado. Porfia-se hoje pelo   gios têm a possibilidade acrescida de lidar de forma continuada
          reforço da associação de Portugal ao mar, recorrendo aos seguintes   com assuntos do mar, por gosto e não por imposição. De realçar o
          argumentos: a criação de empregos e o crescimento económico deri-  apoio que a Marinha, enquanto parceiro privilegiado, vem dando a
          vado da economia do mar; o uso sustentável do Oceano e seus recur-  estes Colégios, que são assíduos utentes do NTM Creoula.
          sos; a gestão e proteção das áreas marítimas sob jurisdição nacional;   Porquê  um  currículo  do  mar  transversal  e  articulado,  harmo-
          e a valorização do mar português no contexto da União Europeia.  nioso e progressivo, do pré-escolar ao final do secundário? Por um
           A Expo'98 mostrou que existe ainda, latente, uma relação umbilical   lado, devido à constatação, por parte dos responsáveis por esses
          entre os Portugueses e o mar. Hoje, com a terceira maior Zona Eco-  Colégios, de que os currículos tradicionais não contemplam devi-
          nómica Exclusiva da União Europeia e com a Plataforma Continental   damente o conhecimento do mar em todas as suas dimensões,
          em vias de ser alargada, por decisão da ONU, há que compreender   assim como não preparam os jovens para desenvolverem estudos
          a importância que o Atlântico tem e terá na vida dos Portugueses –   mais aprofundados a nível universitário ou para se integrarem na
          da política à economia – até como advento duma nova era de pros-  vida ativa, com os instrumentos de saber e de saber fazer indispen-
          peridade. Para a boa administração desse imenso património, nada   sáveis face aos desafios e oportunidades que o mar coloca ou ofe-
          melhor que conhecê-lo bem para dele tirar o melhor proveito, em   rece a Portugal, hoje e nas próximas décadas. Por outro lado, pela
          termos de economia azul – mineração, exploração de organismos   promoção do gosto pelo mar, pela descoberta da cultura marítima
          vivos, genéticos, biológicos (em termos de indústria farmacêutica e   (do mar simbólico, histórico, quinhentista, tornado lugar de cruza-
          de biotecnologia), atividades marítimo-turísticas, pesca e transporte   mentos, de encontro de culturas, até à fonte de recursos e riqueza
          marítimo.                                           atuais), pelo prezar pela conservação dos ambientes marítimos e
           Para o país se voltar a afirmar como potência marítima, os Por-  pela aprendizagem da forma como todos devemos contribuir para
          tugueses precisam de conhecer o oceano e de gostar do mar. Isso   um mundo ambientalmente sustentável.
          requer um processo de aprendizagem contínua ao longo da vida,   Nos dois Colégios, para a implementação dum currículo do mar,
          suportado por uma exploração pessoal (e.g. viagens por mar e assis-  houve que:  motivar e formar especificamente Professores e Educa-
          tência a paradas de veleiros), uma vivência (e.g. praticar desportos   dores (que incluiu, e.g., a prática de atividades náuticas); e levantar
          náuticos) e muita informação sobre assuntos do mar. A Consciên-  e identificar, no programa de cada disciplina, os conteúdos especí-
          cia ou Mentalidade Marítima dum povo é, ao fim e ao cabo, esse   ficos sobre o Mar, e adequar outros a essa temática, por forma a
          conjunto de soluções integradas de aproximação ao Oceano, que   permitir o crescente aprofundamento do “saber azul”.
          suscitam ao mesmo tempo paixão, prazer e interesse e contribuem,
          de forma relevante, para o índice de felicidade da população de um   COLÉGIO EURO-ATLÂNTICO (CEA)
          determinado território ribeirinho.
                                                               No triénio 2012-15 decorreu uma fase experimental, em que foi
          ESCOLAS COM CURRÍCULO DO MAR                        implementado um curriculum do mar. Concluída essa fase, o CEA
                                                              arrancou com o Programa Blue School (PBS) 2015-18, incorporando
           Como corolário do atrás enunciado, vejamos dois exemplos de   as lições já aprendidas, mas com o objetivo mais alargado de ajudar
          escolas particulares, o Colégio Euro-Atlântico, no Porto, e o Colégio   os alunos a construírem a sua Consciência Marítima, i.e., a qualidade


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