Page 158 - Revista da Armada
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pesca de arrasto(" ). Em resumo: em 1439 é mencionada CONCLUSÃO
pela primeira vez, e no Tejo, a rede bugiganga, de prove-
niência francesa : a partir de 1443 um florentino. e um marse- A muleta que figura nos brasões de armas do Seixal e
lhês exploram o coral no Algarve e trazem especialistas do Barreiro é a embarcação mais caracteristica destas po-
marselheses e provençais com redes, enxárcias, aparelha- voações e a grande obra de arte dos seus carpinteiros de
gens e talvez embarcações; em 1460 um florentino investe machado e calafates, mas não é muito antiga, de proveniên-
na pesca da mugem, no Tejo; a mugem (<< muleh em fran- cia grega ou cartaginesa, como se tem dito: é um espécime
cês, "mugeM em provençal) dá nome á povoação de Muge de feição mediterrânica, adaptação da tartana fmncesa, in-
- não é arriscado presumir que o termo náutico francês troduzido na segunda metade do século xvn e desapareci-
MmuletteM (de Mmuleb) deu origem ao português muleta, do nos primórdios do século XX. O seu nome também não
surgido nesta época. Quando, na segunda metade do sécu- deriva da tipica e bizarra armação, que é vulgar nas embar-
lo XVII, chegou um dos modelos da tartana francesa para cações que arrastam pelo través e não existia nas outras
pescar exclusivamente com rede tartaranha, foi-lhe atribui- muletas, anteriores ou contemporâneas: derivará do fran-
do o nome de muleta que designava um dos tipos de embar- cês umulette~, de I,muleh (mugem).
cações do Tejo: sem a armação e o velame apropriados à
pesca de arrasto pelo través foi empregada no tTansporte
de mercadorias com o nome de barco de RIDa Tejo.
('") Arlindo de Sousa . • Vocabulllriode Entre Douro e Vouga . . ",
separata da "Revista de Portugal». série A, Língua Portuguesa, Gomes Pedrosa,
Lisboa, 1965. cap.·frag.
Pintores de Marinha
Um vaso com 5 mil anos encontrado no Egipto o mestre de Santa Auta, esse belo retábulo do acervo
está decorado com o desenho de embarcações que, do Museu de Arte Antiga de Lisboa, onde estão re-
possivelmente, navegaram no Baixo Nilo. E talvez a presentadas algumas caravelas manuelinas.
mais antiga pintura de marinha, género que não des- O verdadeiro nascimento dos pintores de marinha
pertou grande interesse durante séculos até ser usa- tem lugar nos Paises Baixos onde os dois Van de Vel-
do pelos artistas da Renascença. É gratificante referir de, pai e filho, se distinguem pela qualidade das suas
que um dos quadros mais famosos desta época pare- telas e pelo realismo que nelas imprimem. O seu pres-
ce representar, em mais do que uma posição, a nau tigiO é tal que, em 1672, e apesar das duas nações es-
portuguesa «Santa Catarina do Monte Sinai», consi- tarem em guerra, são convidados por Carlosll de ln·
derada um dos mais poderosos navios do seu tempo, glaterra para serem pintores da corte.
quando fazia escala num porto durante a viagem em Talvez inspirada naqueles dois artistas halande·
que conduzia, em Agosto de 1521, a segunda filha de ses, desenvolveu-se em Inglaterra durante o século
D.Manuel, desposada de D.Carlos, duque de Sabóia. XVIII a mais importante escola deste género de pin·
Esta obra, que pertence ao património do Museu Na- tura, que aliás coincide com O crescimento do poder
ciQnal de Marinha, em Greenwich, é, neste museu, naval daquele pais. São já do século seguinte as ma-
supostamente atribuida ao pintor holandês Cornelis ravilhosas marinhas de William Turner (1775/1851)
Anthonisz. No entanto, é curioso notar que, quando que os ingleses consideram, muito justamente, como
este quadro ainda se encontrava numa colecção da o primeiro impressionista.
Baviera, foi considerado pelo dr. José de Figueiredo, Em França, o grande nome é Claude-Joseph Ver-
como sendo da autoria do pintor português Gregório net, a quem LuisXV manda pintar os portos do reino,
Lopes (14901/1550) que também é identificado como magníficas telas que, para além da sua beleza, consti-
tuem documentos de grande valor para o estudo da
A Is) nauls) . Sanr. Catarina do Monte Sinai .. , num quadro a óleo época.
do Museu NacionaldeMarinba, em Greenwich, doqualexiste uma Em 1830, no anuário da Marinha francesa, apare-
roo\ni."n Mwum ri" MlUin.ba deUsboa.
cem pela primeira vez dois pintores de marinha. Em
1860 jA são quatro, sendo um deles MoreI-Fatia, autor
d'A Batalha Naval do Cabo de São Vicente (-), talvez
a unica obra deste pintor existente em Portugal. Em
1901 um decreto fixa em 20 o número daqueles artis-
tas, mas s6 em 1920 é que legislação adequada esta-
belece o estatuto do pintor de marinha. Este titulo é
concedido por cinco anos renováveis, aos artistas que
se tenham consagrado ao estudo do mar, da Marinha
(') Esta batalbs, travada nodia 5deJulhodB 1833, desanrolou-
-se entre a esquadra de D. Miguel, comandada pelo almiTante Antó-
nio Torres Aboim e a da D. MaziaII, sob o comando doa/mirantein-
glls Sir Charles Napier, depois com o titulo de conda de S. Vicente.
Oquadroencontra-seno Museu de Marinha, em Lisboa.
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