Page 160 - Revista da Armada
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Michiko,
cinderela do moderno Japão
Esteve em Lisboa , numa visita privada, o príncipe
herdeiro do Japão , Akihito, acompanhado por sua mu-
lher, princesa Michiko, e comitiva, propondo-se visitar a
seguir a Espanha. Irlanda e Inglaterra. Nessa vinda à
Europa, aqui iniciada , o facto constituiu uma distinção
para o nosso país, pois, como afirmara um nosso ex-cm-
baixador em TóquioC), que lá manteve relações de ami-
zade com a família imperial , depois do Brasil, ralvez seja
o Japão o pais em que livemos maior influência, antes de
se ter processado a descolonização.
Que eu saiba, foi em 1930 a última vez que um prínci-
pe japonês nos visitou - Takamalsu, tio de Akihito-
tendo entâo afirmado ao nosso Chefe de Estado, que o
imperador, seu Augl/SlO Irmão, lembrava com a maior sa-
lisfação que as relações enlre o Japão e Porwgal são mais
amigas do que com qualquer oulro país do Ocidenle e cada
vez mais cordiais.
A nossa Armada pode testemunhá-lo, recordando as
atenções e simpatia que o povo japonês dispensou ao na-
vio-escola «Sagres», em duas visitas àquele país, desta-
cando ainda a deferência do empréstimo de dois notáveis O príflópl' AkihilQ eu prillces(I Michiko nodiu docasaml'nto.
biombos «namban» (2), que estiveram exposlosem Lisboa
(núcleo dos Jerónimos) durante a XVII Exposição Euro- cios, entre homens já maduros ou velhos. Como o nosso
peia de Arte, Ciência e Cultura C). fado, é uma respeitável tradição.
Os portugueses, certamente, apreciaram o significado Recordo-me até que estava lá em voga ~ na música
amistoso e genuíno da Embaixada do Japão ter incluído ligeira nipónica - uma valsa (<<Gueisha waru-zu») cujo
no seu programa protocolar de recepção, no jantar priva- poema aprendi.
do do dia da chegada dos príncipes, o fado português, Antes, Wenceslau de Moraes tinha-nos ensinado ou-
com Maria Armanda, para os fazer ouvir melodias cara~ tro poema duma canção do seu tempo, que me faz lem-
ao nosso povo e o dedilhar da lusa guitarra, como instru- brar letras dos nossos fados:
mento único, na actualidade mundial.
Se eu dois corpos livera,
Que teráo pensado os príncipes e asua comitiva?
Umjunlo de lificaria,
Disse a autora dum livro famoso e), que os senlimel!'
Coisa 1I1fl.
los nipónicos não coincidem com aJilosofia ocidelllal, que
Mas aI/Iro mourejaria
separa o corpo do espírilo, não sendo a vida um campo de
Pela rua.
balalha enlre o bem e o mal, nem compreendendo que a p'ra ganhar muito {/inheiro
felicidade seja a finalidade da vida. Que ledera porill/eiro ..
Talvez, por isso, o fado lhes tenha parecido exótico,
Poderá!
mas bem «namban» ...
Todavia , dir-vos-ei que estive em jantares servidos Parece pois haver alguma identidade de sentimentos,
por «gueishas» e jamais tive as sensações electrizallles do
na atracção e nos encontros dos homens com as mulheres,
selllanger do «shamisen» C), às quais se referiu um japo-
pelo que me atrevo a oferecer â Marinha traços biográfi-
nês Prémio Nobel da Litcraturae). Isto, porém, não si-
cos daqueles príncipes - que, do Castelo de S.Jorge, vi-
gnifica que tenha julgado isso anacrónico do moderno Ja-
ram Lisboa e, ia jurar. se impressionaram com as suas co-
pão, pois que é tradição que persiste, no mundo dos negó-
linas, colorido, telhados vermelhos (porque. no Japão,
talvez só Nagasáqui permita tal panorama, e ainda por-
que os seus telhados são geralmente negros) e com a visita
(') Amlllltd(/ MllrliflsJaflára. «Figuras (II' Si/breio» (/98/).
(') Designaçiio histórica dad/l p('/(/S jlrpmrcscs /lOS portugucSt"s quI' aos túmulos de Vasco da Gama (universal «namban») e
chl'g/H·/rm. fI(/século XVI. de Camões (cujo poema épico está traduzido em japo-
( ') . RI'I'i.fllldrl Ar/ll/ldaH II. "/4510111. d1'8J. Lisboa .. Namban».
nês).
( ') Rlllh Bem'dia. «O C,isàllle/llo e a Espudll • .
(') IlI.flru/IIelllo de (,OU/IIS. espl'eialml'IIw (Iedilhudo pel/ls .gut'is- Na sequência duma cadeia rígida de sucessões - com
mais de 2500 anos e única na História - só temporaria-
1111.\'».
r) Yusllllllri KUM'ubullI .• 0 Puís da Nen'» (Yamll 110(10). mente interrompida (Era Muromachi - 1336/92) quando
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