Page 265 - Revista da Armada
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De «MORTE NO  NILO ~

            Dez minulos depois chegavam ao cais,   e Simon vinha logo atrãs dela.  Poirot teve   não sei por quê ... fui sempre amável,  te-
         Ollde eSlava atracado o  S. S.  Karnak.  As   um  leve sobressalto ao  vê-Ia  apartc#!f -  nho procurado ajudar os OIuros ... e no en-
         duas  Ollerboumes  já  se  encontravam  Q   Ião  bela,  tão senhora d#!  si.  AtiWde arro-  tall/O muita geme me odeia.  Excepllwndo
         bordo.                            gante, feliz.  Simon também parecia outra   Simon,  e.slOu cercoda de inimigos. t 1I0r-
           O Karnak era menor do q14t! o Papyrus   pessoa. A boca rasgal'a-se-Ille num sorriso   r(vel saber que hú quem lias deteste.
         ou o  Lotus, lIavios da  Primei,o Catarata,   e parecia um colegial satisfeito.   - Mas que significa lIIdo isso,  mada-
         grandes  demais  para  passar pelos canais   - Q/te  maravilha! - disse,  inclinan-  me'!
         do  represa de Assuan.  Os passageiros su-  do-se também na amurada.  -  Acho que   - Nervos,  fall·ez..  mas  lenho a  im-
         biram para bordo,  indo fogo  procurar as   I'OU gostar muitíssimo da  viagem; e voci,   pressão do perigo ... perigo ã minha ~'olta.
         suas acomodações.  Como o  navio não es-  Linnel? Não U  lem impressão alguma de   LallçO/I  um r4pido olhar por sobre o
         lava cheio, mui/os ti/lham cabines 110 tom·   viagem  de  IIIrismo  -  parece que  vamos   ombro, depois disse bmscamellle:
         bodilho de passeio.  Toda a parle fronteira   conhecera coração do Egipto.   - Como irú acabar lUdo isto? Estamos
         desse tombadi/ho era ocupado por um sa-  Linnel respondeu vivameme:   pruos aqui.  Numa ratoeira.  Não há saída
         lão erwidraçado, onde os passogeiros po-  - Tem  razão.  t  Ião ... seh'agem, se é   nenlluma.  Temos  que  cominuar.  EIl ...
         diam  sefllar-se  pafo  admirar  o  rio.  No   quemeexprimobem.      não sei onde eSlOu.
         tombadilho  de  baixo,  ficava  Q  sala  de   Ao dizer is/o, passou a mão pelo braço   Linllet sentou-se nllma  cadeira  a  se/I
         fumo e o pequeno salão,  e no lombadilho   de  Simon,  e  ele  aper/ou-Iha  carinhosa-  lado.  POifOLfilol/-a gravemente, temia nos
         inferior a saIu de jantar.        mente.                            olllos III/UI expre.fsiio compassiva.
            Deixando as  mafas na  cabine,  Poiror   - Estamos a largar, Lin.
         voltou ao lombadilho, para apreciar Q  par-  Reolmente o navio afastava-s#!  do cais.
         tida,  indo reU/lir-si!  a  Rosali#!, qUi! i!stava   Tinho começado a  viagem de sete dias -  Hercule PoirOI acabava de tirar a espu-
         debruçada na amurada.             até li segunda Catara/a e de novo de valIa   ma do roslO recém-barbeado, quamlo ou-
           -  Emão  vamos  para  a  Núbia!  Estã   aollo/el.                  vil/  uma  pancada  lia  porta.  Quase  que
         comell/e, madcmoisellc'!             A/rás  deles,  ecoou  uma  gargalhada   imediatameme Race elltroll sem cerimónitl
            A  jovem  respirou  profundamente  e   cristalina.  Linnel deu  uma súbita  revira-  alguma.
         respondeu:                        volta.  Jacqueline  de  Bel/efo"  eSlava  ali,   - O seu inslilllO não o ellganou. Acon-
           -  Estou,  sim;  lenho a  impressão  di!   tendo na rosto uma expressão zombeteira.   leuu! - diss#! ele ao tletecril'e.
         que  estamos  agora  realmenli!  longe  de   - OM,  Linnet; não penseí que viesse   Pairai endireitol/-.fe e perguntou bms-
         ludo.                             encomr4-la aqui.  Julguei Ii-Ia ouvido di-  cameme:
            Fez um gesto com a mão, mostrando o   zer que ia ficar mois dez dias em Assuan.   -Acomeceu o ql/ê?
         rio nafreme deles.  EspectlÍculo em que ha-  Que surpresa.             - Linnel Doyle morreu; lel'OII I/III lira
         via qualquer coisa de selvagem: o lençol de   -  Você  lião ...  não ...  -  balbuciou   na cabeç(1 ontem ti noile.
         4g/la;  os  ri!eifes  sem  vi!getação  que des-  Linnet.  Depois,  conseguindo um sorriso   Pairar ficolI  uns minwos em silêncio.
         ciam até d margem; aqui e ali, a.t ruínas d#!   convencional: - Nem eu Ião pouco espe-  D/lus unas apareceram  vh'amente diante
         uma  caso  abandonado.  O  un4rio  linha   rava vê·IQ.              dos seus olhos ... Uma jovem. em ASSIIQ/I,
         um encanto melancólico, sinistro, mesmo.   -Não?                    diundo  em  10//1  ofegante:  .. Goslflria  de
           - Long#! das criaturas -  acrescentO/I   Jacqueline  afusIOlI-se  para  o  aI/Iro   lhe encosrar o  revólver ti cabeça e premir
         Rosalie.                          lado do navio.  A  mão de Linnel apertara   o galilho .•. ~ E OIura.  mais rece/lle.  (I  //les-
           - A  mio ser dos companh#!iros de via-  com força o braço domQrido.   ma voz dizendo: *A  gente seme que lião
         g#!m,  madCffioi.sellc'!             -Simon ... Simon ...           pode cO/ltimwr ..  q/te qualquer coisa  I'ai
            Ela i!ncolheu os ombros, dizendo:   A expressão de prozerdesaparecera da   estalar ...  E aquela f/lgidia expressão de s/j-
           - H4 qualquer coisa ni!ste pais que me   fISionomia de Doyle.  Via-se que estava fu-  plica  /10  olhar.  Que acomecera  com  ele,
         foz ficar ... m4. Tudo o que ferve dentro de   rioso.  Fecllou os punhos, apesar do esfor-  qlle  mio  respolldera  ao  ape/o?  ESlivera
         mim parece virã tono ... Tudo Ião mal dis-  ço quefazia para se dominar.   cego.  surtia,  imbecilizado.  com  aquela
         tribuído, fão illjuslO .. .          Os  dois  afastaram-se  dali.  Embora   vOlllatle de dormir.
           ~Ser4? A gentil não podi! julgar pelas   não volfasse a cabeça,  PoirOl percebeu al-  Rau COll/illUOlI:
         aparências.                       gumas palavras soltas.               -  Como te/lho  urfa posição oficial,
            Rosalii!murmurou:                 -  ...  Fugir ...  impossível ...  poderiQ-  matUtaram-me cham/lr,  entregam/o-me o
           ~ Veja  as mães de algumas pessoas ..   mos ..                    caso.  O  "avio devitl  parlir  daqui  a  meia
         e veja a minha.  Para ela,  não exisle outro   E  depois,  mais alia,  a  voz  de  Doyle,   hora,  mas só partirá com ordem  minlla.
         deus a não sero Sexo, e Solomé Oflerbour-  desesperada, mas decidida:   Há,  IIaluralmente,  /I possibilidade de o as-
         ne i  o  seu profeto! -  Interrompeu-se.  E   -  Não  podemos fugir  Q vidQ  intei-  sassino ler vindo de terra.
         depois:                           ra,  Unnel;  QgorQ,  remos que s#!guir PQra   Poirot  saclldill  negativameme a cabe-
           - Tolvez #!u não devesse ter dito isto.                           ça. Roce pareceu cOllcordarcom ele.
                                           diQnle.
            Poirot  fez  um  gesto  com  ambos  as                              -  Tem  razão.  A  hipótese  del'e  ser
         mãos.                                                               afastalla.  Bom,  me/I /lmigo.  aSSIlIl/(/  aca-
           - Por que não? Estou Iwbiwado a ou-  Algumas horas mQis /Qrde.  Anoi/ecera.   mal/do.  Você emellde mais do qlle eu do
         vir muita coisa.  Se, como diz, es/4ferven-  Poirot esrava sentado no salão envidraçQ-  asSUIlfO.
         do por d#!ntro -como gelâa no fogo -eh   do,  admirondo  O panoramo.  O  Karnak   Poirol. que se veslira com gralldt: rapi-
         bien, deixe qU#! a #!spuma  v#!nha d super fI-  passava por uma gargamo do rio. Os reci-  dez, vollOu-se para o amigo. Iliumlo:
         cie, para que a gente possa também /irá-Ia   fes desciam com uma espéci#! de ferocidQ-  - ESfOU ãs sllQsordells.
         com uma colher! -  Poirot fez  um gesto,   de até às ãguas que corriam ellfre eles.   Saíram para o 10mbmlilllO.
         de  quem a/irava  qualquer coisa ao rio  e   Estavam agora lia Nlíbia.   -  Bessnef  já  del'e  eSlar  lá  -  dis-
         acrescentou:                         Poirotouviu um mído ..         se  Race.  -  Mandei·o chamar ill/edil/m-
           - Pronto, já se foi!               Linner  Doyle  QPQreceu  Q seu  IQdo.   mellle.
            Rosalii! /1(10 ptJde deixar de sorrir.   Cruzavo e di!scruzavo as mãos e Poirot es-  Havia,  no  //lIdo.  quatro  cabines  l/e
            - Que homem extraordinário é o se-  tranhou-lhe o expressão do rOSlO; d#! crian-  IIIXO,  com casa lle banho. Das lillOS (I bom-
         nllOr! - murmurou.  De repenU: contraiu-  ça assustadQ e perplexa.  Foi ela a primeira   bordo.  uma era  oCllpada  por  BeS.vlIl'r.  /I
         -se  e exclamou:  -  Olhe  quem  está aqui!   afolar:               outra por A/I(lre'" Pellnington.  A  t'Jlibo(·
         Mrs.  Doyle eo marjdo! Eu não tinha a me-  - Mr.  Pairar,  estou com medo ... com   lia. a primeira era de Miss Van Sclmyle( I'
         nor ideia que também jam fazer esta  via-  medo de rudo.  Nunca me senti assim.  Es-  a segllime de U/mel Doyle.  A de Simon fi·
         gem.                              les  rt!cifes  selvQgens,  sombrios,  nus ..   cara cOllfígua o esta.
            Linnet acabara de sair de lima cabine   Para onde vamos? Que voi acomeur? Te-  Um criado milito pll/ido e lIt'rI·oso.  do
         qlle ficava no porte central do tombadilho   nho medo, repito.  TodQ a glmte me odeia,   1(1(10 lle fora da  cabine de Linllel.  abrÍlI a

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