Page 267 - Revista da Armada
P. 267

~------~H~~~T<=ÓRMSDEMAmNHaROS(~~------~






        o gesto é tudoll.







              uma viagem de adaptação de
              aspirantes  a  «Sagres» velha
        Ntocou  em  Casablanca,  onde
        demorou uns quantos dias.
           O navio fundeara a meio do por-
        to,  e  logo à  chegada começaram  a
        surgir a bordo uns Quantos indígenas
        na  tentativa  de  prestar  serviços  e
        vender artigos tipicos da terra.
           Naquele tempo não havia lavan-
        daria a bordo e o recurso a lavadei-
        ras de  terra  era  procedimento habi-
        tuaI. Entre os que se propunham à la-
        vagem da roupa um havia que, por
        ter  sido  tripulante  de  uma  traineira
        portuguesa que pescara nas costas
        de  Marrocos,  sabia  meia  dúzia  de
        palavras da nossa língua. E foi esta
        particularidade  que  levou  a  guarni-
        ção  a dar-lhe preferência, entre vá-
        rios que disputavam entre si o privilé-
        gio da escolha. Como de uso, foi-lhe
        a roupa entregue em volumes sepa-
        rados,  cuidadosamente  individuali-
        zados com os nomes do pessoal e a
        relação do número e espécie das pe-
        ças necessitadas de lavagem.
           Nos dias seguintes mais chega-
        dos nova roupa lhe foi  entregue, na
        vulgarização que entretanto se  fora
        fazendo a bordo dos seus préstimos.
        Sucedeu, no entanto, que da roupa
        levada para terra nenhuma vinha ele
        devolvendo. E à medida que o tempo
        passava  começaram  a  surgir  preo-
        cupações.                          que seria fiel aos compromissos as-  misturavam  as  peças de  uns e  ou-
           O árabe, quando instado, prome-  sumidos.                         tros, numa identificação impossível.
        tia, na sua algaraviada, que a roupa   No dia da partida, faltava apenas   O  imediato  mandou  aviso  para
        viria  muito a tempo,  antes do navio   uma hora para tocar à faina, o árabe   que oficiais, sargentos e praças vies-
        partir. O certo é que, já na véspera da   não aparecera ainda, e nem uma s6   sem ao convés e escolhessem o que
        largada, nem uma sô peça devolve-  peça de roupa lavada havia sido en-  lhes pertencia.
        ra. Foi o imediato alertado, no receio   tregue. Já o imediato pensava numa   Foi  uma pesquisa  demorada -
        fundado  de que  alguma  medida  se   diligência  policial  de  última  hora   que não chegou ao fim.
        impusesse  a  tempo,  nâo  lasse  o   quando, finalmente, surgiu ao porta-  Um remexia, aqui e além, na pro-
        caso de a roupa se perder.         ló o lavadeira que desembarcou do   cura da meia que faltava  para com-
           Fardas, camisas, lenços, meias,   bote, em que sempre se deslocava,   pletar o par.  Outro  arrebatava  uma
        camisolas -  tudo  lhe  fora confiado   sucessivos  volumes  de  roupa  que   camisa,  na  convicção  de  ser  sua,
        numa boa fé que, lace às circunstân-  depositou no convés e que, em  se-  para  logo  a  devolver,  ao  constatar
        cias, começava  agora  a  vacilar. Já   guida, desatou à  pressa. Mas o que   que  se  enganara.  Mais  um,  ainda,
        alguns, mais exaltados, recorriam  a   lhe  fora  entregue  devidamente  eti-  desesperava na  procura das calças
        ameaças, que o lavadeira aguentava   quetado, era agora um SÓ montão de   brancas de uma farda de que sô re-
        calmamente, na certeza aparente de   roupa  em  que,  anonimamente,  se   colhera  o  dôlman.  Já  duas  praças
                                                                                                           13
   262   263   264   265   266   267   268   269   270   271   272