Page 371 - Revista da Armada
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HISTORIAS DE MARINHEIROS/89
Ementas
Ao comandante Garcia Dias,
numa grata recordação.
a câmara dos oficiais, a bordo dos navios de guer-
ra, havia, de quando em vez - falo naturalmente
Ndo meu tempo -, jantares melhorados, cujas
ementas, escritas à máquina, no Detalhe, sedistribufam,
aqui e além, ao longo da mesa.
Uma promoção, o destacamento de um oficial, um
aniversário, eram outros tantos motivos dessas confra-
ternizações amigas.
Nessas ocasiões, o nível dos repastas subia sensi-
velmente em relação à normalidade de todos os dias. En-
tre outros cuidados, o cozinheiro esmerava-se na prepa-
ração de um doce especial, fugindo à rotina do fatfdico
pudim flan ou do arroz doce acanelado. Por altura da so-
bremesa enchiam-se 05 cálices de Porto no propiciar dos
brindes costumados.
Os cardápios apresentavam~se, por vezes, um tanto
fantasistas. Não se respeitava a terminologia culinária,
mas antes, à nomenclatura própria das iguarias, substi-
turam~se referências irónicas à personalidade dos home~
nageados.
Sucedia, ainda, quando algum oficial se ajeitava ao
desenhO, que os menus surgissem ilustrados, a acentuar
a graça inofensiva das alusões.
Recordo, hoje, a lista de um jantar de despedida a um
oficial especializado em torpedos, minas e electricidad~
que destacava para outra situação. Na linguagem que
utilizava repetiam~se os termos alusivos à formação téc-
nica do camarada. Era ele, por sinal, um bom garfo, ca~
paz de laboriosas digestões, talvez mesmo das iguarias
que a ementa, ironicamente, referia deste modo:
APERmVOS
Escovas, bobines e pilhas secas
Água destilada
CALDEIRADA ELÉCTRICA
Com enguias induzidas, satios indutores e
ovas de 220 alternas
ESPOLETAS GRELHADAS COM ESPARREGADO DE ESCORVAS
CARNE ENROLADA COM PRIMÁRIO E ARROZ SECUNDÁRIO
•
COM PLACAS DE COLECTOR ••
DOCE
Creme de Minas Noutra ocasião, foi a promoção a oficial superior de
FRUTAS um primeiro-tenente artilheiro que esteve na.origem da
Bananas de Gomes festa. As referências ao lado técnico foram dessa vez Ji~
Uvas de Paravana mitadas. Mas na des:ignação das bebidas as vozes mari-
MelàodeAvomiter nheiras do comando das embarcações miúdas preten~
VINHOS diam marcar o ritmo da emborcação. E para os que, me-
Brancode Torpedo nos disciplinados, não tivessem cumprido as ordens, lá
Tinto de Squid' vinha depois o café ... para atrasar. Solução vã, decerto,
Espumante de Gerbes porque a suavidade que o «brandy» assumia no cardá- •
CAFÉ DE .•• ALTA TENSÃO pio era enganadora ...
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