Page 342 - Revista da Armada
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as suas baterias de EB. os navios de remo Depois das naus, entraram as cara- ros e soldados se tinham metido nos
adversários começaram a sofrer muitas velas redondas. A primeira foi a de batéis e anda;am a matar à lançada os
avarias e baixas e a ser empurrados ine- António do Campo que se dirigiu para turcos e os _mouros .. que a nado pro-
xoravelmente pâra dentro. Depois que a o galeão turco que tinha abordado a nau curavam alcançar terra. Não obstante, a
_Frol de la MIlC» fundeou, os ataques dos de Nuno Vaz Pereira por EB. Aferrou- grande nau de Diu continuava a resistir.
navios de remo concenlraram-se pratIca- -o e tomou-o sem dificuldade dado que Vendo isso. D. Francisco de Almei-
mente sobre ela, deixando todas as outras a maior parte da sua guarnição já tinha da mandou ordem a Garcia de Sousa. que
naus de ser incomodadas. Meio cegos e sido morta ou feita prisioneira na nau de era quem tinha a sua gente mais folgada ,
sufocados pelo fumo. OS bombardeiros Mir-Hocem. para ir dar uma ajuda a Martim Coelho
da nossa capitânia não tinham mãos a Outro tanto não aconteceu com a e a Filipe Rodrigues. Mas, apesar de
medir. disparando sa1va após sa1va sobre caravela de Pero Cão que entrou a todas as tentativas feitas pelos Irb
as gal~s, galeotas. fustas e paraus. dos seguir. Tendo abordado o segundo navios, não foi possível penetrar na nau.
quais mais de uma dezena foram afun- galeão turco que estava intacto, encon· Então, Garcia de Sousa mandou afastar
dados e muitOS mais gravemente avaria- trou sérias dificuldades. Para complicar os navios e deu-lhes ordem para mete-
dos. Depois da batalha, calculou-se que. mais as coisas, a caravela, que tinha rem no fundo a nau com a artilharia. Sob
nessa tarde, as bombardas da _Prol de ficado mal aferrada, soltou-se e foi à o matraquear contínuo dos pelouros, as
la Mar- teriam disparado para cima de deriva, somente com os grumetes e arrombadas desfizeram-se, o costado
mil e novecentos pelouros! Pela sua pajens que tinha a bordo. deixando Pcro abriu fendas e a nau começou a afundar-
parte, as naus e navios de remo inimi- Cão e os seus companheiros, que eram -se lentamente. Só restava. com os
gos não lhe ficaram atrás. Em alguns dos pouco mais de vinte, isolados no navio batéis, exterminar os seus ocupantes que
navios portugueses poderam contar-se. inimigo, a contas com perto duma cen- se lançavam à água.
depois da batalha. mais de cinco mil tena de turcos. Pouco depois, foi mortO
A batalha terminara com uma estron-
flechas e centenas de pelouros! Pero Cão o que tomou a situação ainda
dosa vitória dos Portugueses! Sem terem
Entretanto. chegara a _Santo Antó- mais crítica.
perdido um único navio, tinham afun-
nio_ de Martim Coelho. Uma vez que É natural que António do Campo,
dado duas naus turcas e duas de Diu e
Garcia de Sousa fora desviado para o que estava ao lado, se tenha apercebido
capturado duas naus e dois galeões
ataque à nau de Mir-Hocem. coube-lhe das dificuldades em que se encontrava a turcos, bem como duas naus de Diu,
O osso mais duro de roer: o ataque à gente da outra caravela e que, largando
al~m de terem afundado diversas fuslas
grande nau de Diu. A dificuldade em o galeão que havia tomado, tenha ido
e paraus. avariado gravemente muitos
abOrdar esta nau era que, além de ser prontamente em seu auxilio. Depois de
mais e capturado duas galés: turcas. Dos
muito alterosa. estava completamente wna luta renhida, o segundo gaJeào turco
portugueses morreram trinta e dois. entre
fechada por cima com uma espécie de foi também tomado. enquanto o pri- eles OS capitães de dois navios (Nuno
telhado de madeira. só podendo ser meiro. abandonado, ia à deriva encalhar
Vaz Pereira e Pera Cão) e ficaram feri-
eOlrada pelas portinholas da artilharia. na praia.
dos mais de trezentos. Dos oitocentos
Mas isso não era fácil. não só por causa A terceira caravela a entrar foi a de homens que guarneciam a armada turca
do tiro dos canhões mas também porque Filipe Rodrigues. Nesta altura, já todas apenas vinte e dois conseguiram escapar-
dos setecentos homens que a guarne- as naus turcas e de Diu estavam domi~ -se para terra. Todos os outros foram
ciam, a maior parte eram hábeis archei- nadas bem como os dois galeões, à monos ou feitos prisioneiros. Em con-
ros que lançavam continuamente nuvens excepção da grande nau de Diu. Por isso, junto, o inimigo terá tido para cima de
de flechas sobre os assaltantes. Por mais é natural que a tenha ido abordar, pelo u!s mil mortos e wn número ainda maior
que o tentassem, os portugueses não con- bordo contrário àquele a que estava afer- de feridos .
seguiram enlear nela. rada a .. Santo António-.
Depois da "Santo AntóniQJ> t possf- Por último entrou a caravela do Pelas cinco da tarde, tendo o vemo
vel que tenha entrado a -Rei Pequeno_ comendador Rui Soares, seguida. prova- rondado. provavelmente, para norte ou
de Manuel Teles Barreto que, logica- velmente. pelas duas caravelas latinas e noroeste e começando a maré a vazar,
mente. deverá ter ido abordar a terceira pela galé de Diogo Mendes. D. Francisco de AJmeida resolveu voltar
nau de Diu, onde, por certo, não terá Logo que se aperceberam de que a com a armada para o porto exterior,
encontrado grande resistência, uma vez batalha estava irremediavelmente per- atendendo a que a artilharia de terra
que a maior parte da guarnição desta nau dida, os paraus de Cal icut puseram-se em continuava a flagelar os seus navios e
devia estar na viz.inha a combater com fuga, saindo para o mar pela outra que, por outro lado, receava ser atacado
a gente de Jorge de Melo Pereira. entrada do canal que contorna a ilha de durante a noite pelas fintas ou com bru-
A última nau a entrar terá sido, pro- Diu. Por sua vez, as galés e galeot.as lotes. Apesar de efectuada já durante o
vavelmente, a _Andorinho_ de D. Antó- turcas, bem como as fuSIaS de Meli- crepúsculo, a saída fez-se sem novidade.
No porto interior foram deixadas apenas
nio de Noronha que, obviamente, se terá queaz, começaram tambtm a retrair-se.
dirigido para a última nau de Diu. Não tendo qualquer nau ou galeão as galés e alguns batéis para impedir que
Aproximando-se dela pela amura de EB, que pudesse abordar, o comendador Rui os _mouros_ fossem tirar coisas das naus
é provável que, momentos antes da abor- Soares foi atrás dos navios de remo que que haviam sido tomadas.
dagem, tenha também disparado uma batiam em retirada e, metendo-se no Uma vez fundeada a armada em
salva de artilharia à queima-roupa de que meio das duas galés turcas, aferrou segurança no porto exterior. as guarni-
veio a resultar, pouco depois, o seu afun- ambas e tomou-as de assalto, o que lhe ções dos navios estiveram festejando rui-
damento, não sendo possfvel saber-se se mereceu os maiores encómios do dosamente a vitória até aJtas horas da
a abordagem chegou ou não a ter lugar, vice-rei. noite. enquanto D. Francisco de AJmeida
embora nos pareça mais provável que sim. Nesta altura, já os nossos marinhei- percorria aqueles, um por um, abraçando
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