Page 132 - Revista da Armada
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Será este, provavelmente, o grande para-
doxo estratégico de meados do século XXI,
quando a NATO comemorar o seu 1º. cen-
tenário.
António Manuel Silva Ribeiro
CFR
BIBLIOGRAFIA:
- NATO HANDBOOK, NATO office of information
and press, Bruxelas, 1995/1998.
- Texto elaborado pelo CMG Rebelo Duarte e intitulado
"A Marinha e a OTAN", para o cap. V da publicação
do MDN, intitulada "Portugal e os 50 anos da Aliança
Atlântica", actualmente no prelo.
NOTAS:
1) De forma sintética poderá considerar-se que as três
funções básicas de qualquer país na Aliança são:
participar nos processos políticos; ceder infraestruturas;
e contribuir par as operações militares.
2) Fragatas "Diogo Cão", "Corte Real" e "Pero Escobar";
8 patrulhas da classe "Maio"; 6 patrulhas da classe
"Príncipe"; 4 draga-minas da classe " S. Jorge"
O COMSTANAVFORLANT CALM Reis Rodrigues e o seu Estado-Maior a bordo do N.R.P. “Corte Real” e 12 draga-minas costeiros da classe "Ponta Delgada".
Dez 95 / Abr 96. No fim da década de 50 foram adquiridas à Inglaterra
as 4 fragatas da classe "Alvares Cabral".
rece ser a materialização do alargamento imprevisíveis desafios da conjuntura, os EUA 3) As forças armadas eram um poderoso actor político
sem perda de efectividade e como medida necessitam de partilhar esforços com uma interno. Salazar sabia-o bem. Por isso, não podemos
de reforço da coesão de uma região euro- Europa forte e unida. Por isso, fomentaram o deixar de salientar que esta medida também visou
atlântica, democrática, próspera e segura, desenvolvimento do IESD, o que reforçou a submeter o poder militar ao poder político, por forma
a reduzir as habituais apetências por intervenções
capaz de contribuir, quer para a paz e desen- tendência para os aliados europeus se na política nacional.
volvimento de regiões vizinhas, quer para aglutinarem em torno da União Europeia, 4) Electrónica, rocega de minas, aviação, controlo naval
uma globalização mais justa, onde se que integrará e promoverá a União da Eu- de navegação, análise de combustíveis, táctica AS,
reduzam as diferenças entre os níveis sócio- ropa Ocidental como seu "departamento" de comunicações, informações em combate, defesa nuclear,
económicos da humanidade. A relevância defesa. desmagnetização, e turbinas de gás, entre outros.
5) Dando continuidade a uma tradição secular
do alargamento advém do facto de influen- A experiência de edificação da União ultramarina a Marinha empenhou parte substancial
ciar decisivamente a manutenção da capaci- Europeia mostra-nos que este processo será do seu efectivo nos combates em terra, num esforço
dade de defesa colectiva e da capacidade de lento, terá avanços e recuos, mas é incon- que infelizmente ainda não soubemos divulgar.
realizar as novas missões. tornável nos próximos anos. Assim aconte- 6) A STANAVFORLANT surgiu três anos depois de ter
sido constituído o "Esquadrão Naval" aliado, que
Outro desafio muito relevante no futuro da cerá porque no contexto de acção estratégica integrou 4 a 6 navios dos EUA, Reino Unido, Holanda
NATO parece estar associado à materializa- dos Estados é impossível dissociar a segu- e Canadá, e realizou as séries de exercícios
ção das acções que se relacionam com o re- rança dos aspectos relativos ao progresso e denominadas "Matchmaker", com a duração
forço das estruturas de cooperação no domí- ao bem estar. de 5 meses, cujo objectivo foi desenvolver doutrinas
nio da segurança, essenciais para aprofundar Numa Europa verdadeiramente unida, e procedimentos comuns.
7) Aos interessados por esta temática recomenda-se
o diálogo, consolidar as relações com os par- prevê-se que a influência da Alemanha seja a leitura do livro "Blind man`s bluff-the untold story
ceiros e evitar o aparecimento de novas li- cada vez maior, o que poderá aproximar o of american submarine espionage", da autoria de Sherry
nhas de fractura no continente europeu. pensamento e o comportamento estratégico Sontag e Christopher Drew, editado pela Public
Neste contexto, o plano de acção do EAPC europeus, do pensamento e do comporta- Affairs, New York, 1998.
8) Convirá notar que a opção estratégica "mar" tem um
para o biénio 1998-2000, desenvolvido com mento clássicos das potências continentais. A conteúdo muito amplo e englobante, com objectivos
base nos princípios da inclusão (12) e da NATO transformar-se-á no fórum de concer- e acções nos domínios político, económico, social
autodiferenciação (13), terá um papel deci- tação entre europeus, a uma só voz de tónica e militar, direccionados para uma diversidade de
sivo nas relações de segurança entre os 44 progressivamente continental e, norte-ameri- continentes e países com os quais Portugal sempre
Estados participantes das actividades deste canos (EUA e Canadá), igualmente a uma só manteve relações privilegiadas, propiciadoras
de inegáveis benefícios nas áreas da segurança,
conselho. voz de tónica crescentemente marítima. do progresso e do bem-estar social.
As interdependências económicas permi- 9) Há quem considere esta liderança obstinada
UMA ANTEVISÃO DO FUTURO tirão que a Aliança funcione enquanto hou- na prossecução dos interesses próprios.
DA NATO ver desafios externos suficientemente fortes 10) Anteriormente designado NACC, " North Atlantic
para manter unidas a actual superpotência Cooperation Council". Este concelho foi constituído e,
posteriormente adaptado, para desenvolver as consultas,
Os dois desafios antes identificados – marítima norte-americana e a futura super- a cooperação, a transparência e a confiança em assuntos
alargamento e reforço das estruturas da coope- potência continental europeia. Contudo, de segurança com os parceiros da Europa Central e de
ração – no curto prazo contribuirão para o poderá chegar o dia longínquo em que as di- Leste.
reforço da coesão de uma região euro-atlânti- vergências (14) internas se sobreporão às 11) Redução de efectivos, alteração dos estados
de prontidão, melhoria da mobilidade e flexibilidade,
ca, democrática, próspera e segura. Contudo, externas e a Aliança deixará de ter capaci- e adaptação para empregos multinacionais com países
importarão uma visão da segurança mais dade para consensualizar políticas e para não aliados.
vasta, razão pela qual no longo prazo estabelecer estruturas capazes de responder 12) O princípio da inclusão estabelece que
aumentarão muito as responsabilidades alia- às novas circunstâncias. as oportunidades para consultas políticas e cooperação
estão abertas, em igualdade de circunstâncias, a todos
das em domínios tão distintos como o político, A verificar-se este indesejável cenário, o os aliados e parceiros.
o económico, o social e o militar. elo transatlântico desvanecerá e a história 13) O princípio da autodiferenciação preconiza
Como a NATO deixou de defender fron- inovar-se-á: a superpotência marítima terá que os parceiros decidam individualmente o nível
teiras e centrou a sua acção estratégica nos contribuído para a emergência e afirmação e as áreas em que pretendem cooperar com a Aliança.
interesses de segurança, onde quer que eles de uma superpotência continental, progressi- 14) Estas divergências poderão surgir pelo facto
de os europeus se sentirem instrumentalizados pelos
se encontrem, a sua esfera de acção alargou- vamente menos cooperante, em função do EUA e arrastados para conflitos que não são do seu
-se imenso. Para fazer face aos múltiplos e desenvolvimento de interesses divergentes. interesse vital.
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