Page 128 - Revista da Armada
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e ao reforço da Europa. Complemen-
                                                                               tarmente, a NATO começou a investir na
                                                                               reorganização, no reequipamento e no
                                                                               rearmamento das pequenas marinhas ali-
                                                                               adas, por forma a que pudessem vir a res-
                                                                               ponder aos desafios da defesa colectiva.
                                                                               Foi neste contexto, que a partir de 1954
                                                                               surgiram as primeiras ajudas significativas
                                                                               em meios navais (2), a maioria proveniente
                                                                               dos EUA, em resultado da cedência de di-
                                                                               reitos de utilização da Base das Lages.
                                                                                 A operação desses navios exigiu a adop-
                                                                               ção de técnicas às quais estava implícita
                                                                               uma vincada diferenciação e especializa-
                                                                               ção dos recursos humanos e do respecti-
         O N.R.P. “Vouga”, um dos primeiros navios portugueses em manobras NATO.
                                                                               vo sistema de formação, bem como um
         instrumento que, mediante decisões obti-  Em 1949 o regime vigente em Portugal  ensino descentralizado e o consequente
         das por consenso, permite a preservação  não satisfazia plenamente estes requisitos,  aparecimento de mecanismos compensa-
         da segurança colectiva através do esforço  próprios das democracias parlamentares  tórios de controlo e coordenação.
         comum, materializável pela capacidade  ocidentais. No entanto, a valia geoes-  Desenvolveu-se por isso um novo sis-
         de realização das seguintes tarefas funda-  tratégica do território nacional levou os  tema de partilha de responsabilidades
         mentais:                           aliados mais importantes a relegar para  funcionais, que renovou a velha ordem
         • Propiciar o desenvolvimento de institui-  segundo plano tais requisitos. Naquela  militar-naval portuguesa, abrindo mentali-
         ções democráticas e de compromissos  época, os EUA e a Inglaterra tinham bem  dades alterando atitudes operacionais, lo-
         para a resolução pacífica de disputas;  vivo o contributo dos Açores para o con-  gísticas e sociais.
         • Impedir a realização de acções de intimi-  trolo do Atlântico Norte, para o apoio à  A criação da Força Naval da Metrópo-
         dação e de tentativas de imposição hegemó-  mobilidade das suas forças militares e  le, do respectivo Agrupamento de Instru-
         nica, através da ameaça ou do uso da força;  para a segurança das comunicações inter-  ção e a realização de exercícios navais
         • Facilitar a consulta e a coordenação dos  continentais durante a II Guerra Mundial.   em águas portuguesas, materializaram o
         esforços colectivos de defesa para a  Por isso, o convite foi formulado a  início da preparação da Marinha para
         resolução de questões que afectem os  Portugal e, de imediato,  os aliados apoia-  participar nos grandes exercícios NATO
         interesses vitais dos Estados membros;
         • Proporcionar dissuasão e defesa contra
         qualquer forma de agressão dirigida ao
         território dos Estados membros;
         • Preservar o equilíbrio estratégico na Europa.
           A estruturação do princípio operativo da
         Aliança com base nestas tarefas, benefi-
         ciando dos contributos sinergéticos resul-
         tantes da integração do potencial estratégi-
         co dos Estados membros, tem sido decisiva
         na manutenção das condições que favore-
         cem a segurança colectiva.
         A MARINHA NA NATO

           A adesão e a participação empenhada
         numa organização político-militar com as
         características genéricas antes enuncia-  O N.R.P. “Almirante Pereira da Silva”, o primeiro navio português a integrar a STANAVFORLANT – 1969.
         das, produziu profundas mudanças no  ram o fomento de programas de reequipa-  da década de 50. Esses exercícios inte-
         país e nas forças armadas portuguesas.  mento das forças e de modernização das  graram regularmente meios dos EUA,
         Contudo, nem todas as opiniões reco-  infraestruturas militares nacionais, em vir-  Reino Unido, Holanda e França,
         nhecem este facto com o mesmo entusias-  tude de serem enormes as vulnerabili-  nomeadamente nas séries "Grand Slam",
         mo. Por isso, de seguida enunciaremos os  dades ao nível dos meios operacionais e  "Convex", "Castanets", "Black Jack",
         principais contornos do relacionamento  das bases, o que no caso particular da  "Mainbrace" e "Down Breeze". No que se
         entre a NATO e a Marinha em cada uma  Marinha dificultava imenso o cumprimen-  refere aos draga-minas, salientam-se as
         das cinco décadas passadas, deixando ao  to das suas missões.         séries "Hard Track" e "Bandeau X", com a
         leitor a tarefa de julgar em que medida os                            presença de navios belgas, holandeses e
         contributos nos campos doutrinário, orga- ANOS 50                     ingleses.
         nizacional, da formação, do treino, dos                                 No início da década de 50 os militares
         meios materiais e dos procedimentos  Na década de 50 começou a delinear-  da Marinha iniciaram as suas partici-
         operacionais foram determinantes na edi- -se a principal função (1) de Portugal na  pações em reuniões e integraram as estru-
         ficação, na estruturação, no emprego e no NATO, através da consagração de um  turas da NATO. Neste âmbito, salienta-se
         prestígio interno e externo da Marinha apoio bastante significativo ao desenvolvi-  em 1952 o estabelecimento do Comando
         Portuguesa.                        mento das infraestruturas nacionais, como  Supremo Aliado do Atlântico Norte
           A NATO surgiu como uma organização sejam as bases navais e aéreas. Com  (SACLANT), com Quartel General em
         intergovernamental de países que pos- efeito, durante a guerra fria o país seria  Norfolk. O primeiro oficial português a
         suíam sistemas políticos semelhantes e considerado um dos mais importantes  integrar esta estrutura foi o então coman-
         matrizes ideológicas convergentes.   pontos de apoio à mobilidade estratégica  dante Sequeira Araújo.   ✎
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