Page 130 - Revista da Armada
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Nacional bem demonstra, as duas opções
                                                                               estratégicas – mar (8) e Europa – não são
                                                                               mutuamente exclusivas; com efeito, o
                                                                               nosso passado colectivo só foi relevante
                                                                               nos períodos em que os responsáveis políti-
                                                                               cos perceberam que Portugal deve fun-
                                                                               cionar como um elo de uma cadeia aliada
                                                                               de interesses estratégicos de vária natureza,
                                                                               que se projectam em áreas onde o país tem
                                                                               capacidade e vontade para exercer signi-
                                                                               ficativa influência política, económica, cul-
                                                                               tural, militar, ou outra. O actual Governo
                                                                               parece ter reconhecido implicitamente o
                                                                               erro cometido no passado quando, no
                                                                               preâmbulo da Resolução do Conselho de
                                                                               Ministros Nº 83/98, de 26 de Fevereiro,
                                                                               afirma ser necessário criar condições para
                                                                               que o regresso de Portugal ao mar seja,
         O N.R.P. “Comandante Hermenegildo Capelo” na STANAVFORLANT – 1984.
                                                                               nesta transição do milénio, um verdadeiro
         teves Binca, iniciou uma contribuição regular  "Gomes Freire", em Oeiras.  Um ano  projecto nacional.
         da Marinha no contexto da satisfação dos  depois, o então comandante Cardoso  Em 1979 os navios da Marinha portugue-
         compromissos nacionais com a Aliança  Tavares assumiu a chefia do estado-maior  sa iniciaram a sua participação nos exercí-
         Atlântica. Nesse ano foi activado um labo-  da  STANAVFORLANT, marcando o início  cios NATO das séries "Mazon Sharp",
         ratório e um polígono para a investigação da  de uma nova época, em que os militares  "Sunny Seas", "Ocean Safari" e "JMC". Ain-
         propagação acústica no Atlântico, cuja prin-  portugueses desempenharam um papel  da no mesmo ano a Marinha assumiu  o
         cipal utilização foi o controlo dos movimen-  cada vez mais relevante no seio daquela  cargo de conselheiro militar na delegação
         tos da frota submarina soviética, que consti-  força naval, num claro reconhecimento das  nacional junto do Quartel General da
         tuía uma importante ameaça à segurança da  suas capacidades técnico-profissionais.  NATO, em Bruxelas.
         navegação aliada e ao território dos EUA (7).  Em 1974 ocorreu uma mudança de
         A nível organizacional em 1963 há a desta-  regime em Portugal, o que acarretou pro- ANOS 80
         car a promulgação de uma nova edição da  fundas transformações  políticas internas. É
         Ordenança do Serviço Naval, inspirada nas  curioso notar que, apesar de o mundo estar  No início dos anos 80 a situação política
         "Queen Regulations", colectânea de regula-  em plena guerra fria e de o país ter sido  interna do país era clara e caminhava inequi-
         mentos para organização das funções e das  governado, durante cerca de um ano, por  vocamente para a normalização, dentro dos
         actividades de bordo. Em 1967 foi estabele-  políticos que privilegiaram as ligações a  parâmetros ocidentais: tinham sido concluí-
         cida a organização dos comandos territoriais  Moscovo,  paradoxalmente não houve  das com sucesso as drásticas acções de redi-
         do continente e ultramar, claramente inspira-  alteração do estatuto de membro da NATO,  mensionamento e reorganização das forças
         da na organização NATO, devidamente  organização cujo principal objectivo  armadas, em resultado do fim do conflito
         adaptada às necessidades da Marinha nas  estratégico, nessa época, era a defesa do  colonial; o pensamento estratégico militar
         colónias. Em 1968 a Superintendência dos  Ocidente contra a ameaça soviética! Os  nacional identificara a NATO como a grande
         Serviços da Armada desdobrou-se nas  navios da Armada mantiveram a sua parti-  prioridade para transformar as forças armadas
         Superintendências dos Serviços do Pessoal e  cipação regular e digna na STANAVFOR-  portuguesas num instrumento de acção pres-
         do Material e foi criada a Superintendência  LANT, apesar das enormes convulsões no  tigiado, credível e utilizável por um Estado
         dos Serviços Financeiros, por forma a permi-  seio das forças armadas, decorrentes da  com renovados objectivos  políticos. Neste
         tir uma melhor resposta às novas necessi-  retracção  do dispositivo ultramarino e da  contexto, foi efectuado um esforço diplomá-
         dades dos comandos, forças e  unidades na-  turbulência social generalizada no país.  tico que terá permitido atribuir:
         vais. Na área da formação salienta-se em  Na sequência das transformações políti-  • Em 1981, lugares no "International Military
         1961 a aprovação de uma nova estrutura de  cas internas e, no que se refere à Marinha,  Staff" e no "International Staff" do Quartel
         ensino na Marinha, que passou a ter escolas  foi extinto o cargo de Ministro da Marinha.   General da NATO;
         e centros de instrução com estatuto diferenci-  Esta importante alteração estatutária, por  • Em 1982, o estatuto de Comandante-em-
         ado. Para além disso, foram iniciados os cur-  um lado reflecte a tendência imediata para  chefe ao comandante da Área Ibero-Atlân-
         sos de engenharia de material, e reformula-  esbater o protagonismo e a
         dos os cursos de construção naval, hidro-  importância que a Marinha e
         grafia e oceanografia. Estes cursos passam a  os seus oficiais, merecida-
         ser  ministrados, preferencialmente, em  mente adquiriram na adminis-
         estabelecimentos de ensino, civis e militares,  tração ultramarina, especial-
         ingleses e americanos, o que permite apreen-  mente quando os recursos
         der as novas técnicas necessárias às activi-  materiais e humanos eram
         dades navais portuguesas.          escassos, as funções mal re-
                                            muneradas, as condições sa-
         ANOS 70                            nitárias péssimas e o trabalho
                                            abundava; por outro lado,
           Os anos 70 foram caracterizados  pelo  marca o início de uma desas-
         desafio tecnológico resultante da utilização  trosa inflexão da grande
         de novos meios navais recebidos no final  estratégia nacional, caracteri-
         da década anterior, complementado por  zada pelo "voltar costas ao
         uma superior visibilidade da Marinha na  mar", concentrando as pre-
         NATO. Em 1971 o COMIBERLANT foi    ocupações nacionais apenas
         transferido de Mem Martins para o reduto  na Europa. Como a História  O N.R.P. “Álvares Cabral” na STANAVFORLANT – 1992.  ✎
                                                                                         REVISTA DA ARMADA • ABRIL 99  19
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