Page 230 - Revista da Armada
P. 230

do a consolidar a ideia da criação em 1621 por Filipe IV por diver-
         sas razões. Uma delas tem a ver com um documento datado de
         Janeiro de 1617 onde uma junta especial nomeada pelo Duque de Dia do Corpo de Fuzileiros
         Lerma dava parecer sobre uma eventual reforma das defesas mili-
         tares da costa de Espanha. Aí se fala das carências de Portugal, te-  O dia do Corpo de Fuzileiros foi comemorado este ano (pela primeira vez)
         cendo-se considerações de vária ordem sobre as fortalezas, desde  tendo como referência a data de 18 de Abril, relembrando a criação do Terço
         Viana do Castelo a Sagres, e onde se refere o desagrado dos portu-  da Armada em 1621. Na verdade a cerimónia teve lugar na Escola de
         gueses pelo facto de estar em Lisboa um terço de infantaria espa-  Fuzileiros no dia 20 desse mês, e foi presidida pelo Comandante Naval, o
                                                               Vice Almirante Alexandre Daniel Cunha Reis Rodrigues.
         nhol, parecendo-lhes que isso dá a ideia de alguma desconfiança                       No mesmo dia foi efec-
         acerca da sua fidelidade à coroa. Ora sobre este assunto um dos ele-                tuada a rendição do cargo do
         mentos da junta diz o seguinte: “… Portugal es un reyno recién                      Comandante do Corpo de
         conquistado y conviene conservarle con la reputación y securidad                    Fuzileiros, até ao momento
         que hasta aquí…”. Foi o que foi decidido: que se reforçasse o terço                 desempenhado pelo Capi-
                                                                                             tão de Mar-e-Guerra FZ José
         espanhol e que se suspendessem todas as reformas militares até                      Luís Pereira de Almeida
         que Filipe III viesse a Portugal, o que aconteceu em 1619. Não seria,               Viegas, e agora substituído
         por isso, normal que em 1618 se criasse um terço de infantaria por-                 pelo Capitão de Mar-e-
         tuguês.                                                                             Guerra Vasco Manuel Tei-
                                                                                             xeira da Cunha Brazão.
           Contudo as dúvidas (se ainda existiam) viriam a desvanecer-se                       O Vice Almirante Co-
         completamente com a consulta de um outro conjunto documental                        mandante Naval chegou
         de enorme importância. Refiro-me a três códices portugueses exis-                   cerca das 10h10 e, depois de
         tentes na biblioteca do Harvard College, constituídos por diversos                  uma homenagem aos fuzi-
         documentos manuscritos e impressos reunidos por D. António de                       leiros mortos em campanha,
                                                                                             com a deposição de uma
         Ataíde. Aí fomos encontrar todas as provas que permitiam recons-                    coroa de flores junto ao res-
         tituir os passos dados até à criação do Terço da Armada da Coroa  pectivo monumento evocativo, deu-se início à cerimónia militar. Este ano –
         de Portugal. De facto existem pedidos diversos, por parte do Conde  como não poderia deixar de ser – o momento mais significativo estava na
         da Castanheira, para que se levantasse a unidade de infantaria para  rendição do mais alto cargo do Corpo de Fuzileiros. O Comandante Viegas
                                                               desempenhou as funções durante seis anos e meio e, usando da palavra no
         embarcar na Armada de Guarda Costa e que a mesma ficasse cons-  momento da sua despedida, passou em revista alguns dos pontos que mere-
         tituída com carácter permanente, para que as gentes não se disper-  ceram a sua preocupação durante este tempo. Foi um largo período num
         sassem no Inverno, desleixando-se a conservação do material  cargo de enormes responsabilidades, onde se sentem com uma grande
         diverso e a própria organização militar. No entanto, apesar do  acuidade algumas das dificuldades que têm afrontado a nossa Marinha.
         assentimento real para que isto se fizesse, o Vice Rei de Portugal  Meios escassos e dificuldades de pessoal consubstanciam os problemas que
                                                               se reflectiram em necessidades de reequipamento insatisfeitas, mas – exortou
         (Marquês de Alenquer) nunca permitiu que isso se fizesse. A últi-  o comandante cessante – “não deixem esmorecer aquilo que aqui apren-
         ma carta que encontrámos, onde D. António de Ataíde volta a falar  demos e que temos vindo a ensinar aos mais novos”. “Aprender e treinar”
         nesse assunto ao rei, data de Julho de 1619, quando da visita de  seria, aliás, a tónica das palavras do novo Comandante, não deixando de falar
         Filipe III de Espanha a Lisboa. Entretanto, em fins de Março de  nas necessidades de equipamento adequado, mas salientando que  “o
                                                               FUZILEIRO [a capacidade humana] continuará a ser o mais valioso argu-
         1621, quando morreu o monarca, o General do Mar encontrava-se  mento das nossas capacidades”.
         em Madrid, para tratar de assuntos relativos à Armada de
         Portugal. Essa armada deveria ser preparada para a época que se
         avizinhava e carecia de várias reformas (entre as quais a questão do  O Novo Comandante
         terço de infantaria), mas a morte do rei atrasou todas as diligências.
         Todavia, a 18 de Abril o jovem Filipe IV manda chamar D. António,  do Corpo de Fuzileiros
         confirma o seu cargo de General do Mar e dá andamento a todas as
         questões que diziam respeito à Armada de Portugal. Aliás, como já
         referimos, a coroa tinha pressa de reorganizar tudo o que dizia  O Capitão de Mar-e-Guerra Vasco
         respeito à guerra no mar, uma vez que já determinara que as  Manuel Teixeira da Cunha Brazão
         tréguas com a Holanda deveriam cessar a 9 de Abril (data em que  nasceu em Lisboa a 6 de Abril de 1944 e
                                                               foi incorporado na Armada em setem-
         expirava o acordo assinado 12 anos antes). Todos os documentos
                                                               bro de 1964.
         onde se podem verificar estes factos estão cuidadosamente ordena-  Efectou uma comissão de serviço
         dos pelo Conde da Castanheira nos códices que temos vindo a  como 4º oficial do Destacamento de
         referir. Aí está uma carta enviada ao Vice Rei de Portugal, dando-  Fuzileiros Especiais nº 13, na Guiné
                                                               (1968-70) e outra como Comandante do
         -lhe conta da quebra das tréguas com a Holanda e da necessidade
                                                               Destacamento nº 11, em Moçambique,
         de se efectuarem preparativos para a guerra, a proposta orçamenta-  tendo sido ferido em combate. Como 1º
         da de D. António de Ataíde para a Armada desse ano (onde consta  tenente, foi Comandante da Companhia
         o Terço), a referência ao despacho de 18 de Abril, e ainda, docu-  de Fuzileiros nº 1, oficial de operações
         mentos vários acerca da contratação de oficiais, sargentos e praças  do BF 2 e Chefe da Divisão de
                                                               Operações do Estado Maior do Corpo
         para o que é chamado de “hum batalhão de oitocentos soldados”.
                                                               de Fuzileiros, cargo que ocupava quan-
         Não subsistem quaisquer dúvidas que o Terço da Armada da  do foi promovido a Capitão Tenente.
         Coroa de Portugal está associado a este despacho real de 18 de  Com o posto de Capitão de Fragata foi
         Abril de 1621.                                        Comandante do Batalhão de Fuzileiros nº 3, Comandante da Força de
                                                               Fuzileiros e Chefe do Estado Maior do Corpo de Fuzileiros. Em 1987, após a
           Tem o Corpo de Fuzileiros uma data exacta que marca a criação
                                                               sua promoção a Capitão de Mar-e-Guerra, foi Comandante da Escola de
         da unidade de que, muito justamente, se considera o herdeiro na-  Fuzileiros - cargo que desempenhou durante cinco anos -, Promotor de Justiça
         tural. Trata-se da data de 18 de Abril que este ano foi adoptada  do Tribunal Militar de Marinha e Adido de Defesa junto da Embaixada de
         como Dia do Corpo de Fuzileiros e assim, certamente, se manterá,  Portugal na República de Cabo Verde.
         uma vez que nela se podem rever os novos infantes da marinha, os  Ao longo da sua carreira foi agraciado com diversos louvores e possui as
                                                               seguintes condecorações: Distintivo da Ordem Militar de Torre e Espada de
         marinheiros do fuzil ou os actuais soldados do mar, como são os
                                                               Valor Lealdade e Mérito, Cruz de Guerra de 2ª Classe, Três Medalhas de
         nossos fuzileiros.                                   Prata de Serviços Distintos (uma com palma), Medalhas de Mérito Militar de
                                                               1ª e 3ª Classe, Medalha de Prata de Comportamento Exemplar e Medalhas
                                             J. Semedo de Matos  Comemorativas das Campanhas de África (Guiné e Moçambique).
                                                      CTEN FZ
                                                                                        REVISTA DA ARMADA • JULHO 99  11
   225   226   227   228   229   230   231   232   233   234   235