Page 153 - Revista da Armada
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escalou Caminha) e chegaram a Lisboa a
         15-05-1920. Foi a segunda vez que o Golfo
         da Biscaia foi atravessado pelo ar (a pri-
         meira tinha sido no ano anterior por Read).
           Por esse feito foi Sacadura louvado
         (23-06-1920), tendo sido considerados os
         serviços prestados nessa comissão, como
         extraordinários e importantes.
           Esses aviões vão ser preparados para
         efectuar a viagem Lisboa – Funchal. Gago
         Coutinho aperfeiçoa o seu sistema de nave-
         gação aérea e Sacadura leva o F3 – 4018
         para Aveiro, onde treina com mais facili-
         dade a utilização deste avião.
           Quando tudo fica preparado e calculado,
         Sacadura descola de Lisboa, a 22-03-1921,
         tendo Ortins de Bettencourt, como segun-  O F400 - Futuro “Lusitânia” em experiências em Inglaterra.
         do-piloto, Gago Coutinho, como navega-
         dor, e Soubiran, como mecânico.    Funchal. Assim em Julho de 1921 Sacadura  do ano de 1921. O contrato de aquisição de
           A Marinha apoiou a viagem, destacando  Cabral insistiu pelo prosseguimento da  aviões à Fairey incluía mais dois hidroa-
         para o Funchal, afim de assegurar o reabas-  viagem, junto de Ministro da Marinha, que  viões F IIID, de série.
         tecimento do avião,  o C/T “Guadiana” e  deu a sua concordância. Porém, a verba ini-  O avião ( o F400, futuro “Lusitânia”),
         mais tarde o “República”.          cial estava já reduzida pela desvalorização  encaixotado, foi recebido, em Janeiro de
           A viagem, de 530 milhas, realiza-se, em  da moeda portuguesa.       1922, iniciando o pessoal do Centro de
         excelentes condições, em sete horas e meia.  Sacadura Cabral volta a analisar os tipos  Aviação Naval de Lisboa a sua montagem.
         O sistema de navegação estava comprova-  de avião, terrestre ou marítimo, e embora o  No entanto Sacadura Cabral, por várias
         do e garantia que se podiam efectuar gran-  terrestre fosse o mais eficiente, em termos  razões, ficou retido em Inglaterra e só
         des tiradas sobre o mar com o mesmo rigor  de velocidade – autonomia, a inexistência  chegou a Lisboa, em 06-03-1922.
         que nos navios.                    de aeródromos nas ilhas de Cabo Verde e  Apresenta-se, então,  ao Ministro da Ma-
           Mais uma vez é louvado Sacadura  Fernando de Noronha eliminava à partida  rinha, que era novamente o Comandante
         (30-04-1921) pela valentia e perícia, com  tal opção. Assim a solução seria a do hidro-  Victor Hugo de Azevedo Coutinho, que lhe
         que executou a viagem Lisboa – Fun-  avião e pela limitação das verbas teria de  pergunta pela viagem ao Brasil e em face
         chal e é condecorado com a Torre e Es-  ser o monomotor.              das informações que Sacadura lhe presta o
         pada, grau de oficial (mais tarde du-  A 04-09-1921, parte Sacadura Cabral para  manda aprontar com urgência o avião e dar
         rante a viagem ao Brasil receberá a grã-  Inglaterra, afim de contactar a firma Fairey,  início à viagem o mais cedo possível.
         cruz da Torre e Espada).           fabricante do F IIID. Pesou na escolha de  É Sacadura que afirma no seu relatório:
           O País começava a acreditar ser possível  um hidro inglês uma outra questão impor-  “...hoje pode dizer-se que, se a viagem se reali-
         atingir o Brasil.
                                            tante, segundo Sacadura Cabra, que era a  zou, se deve em grande parte ao Ministro
                                            fiabilidade do motor. Embora Sacadura  Azevedo Coutinho, pois, apesar dos vários con-
         PREPARAÇÃO DA TRAVESSIA AÉREA      preferisse tratar com fabricantes franceses, o  tratempos que surgiram, a sua grande vontade
         LISBOA – RIO DE JANEIRO            motor Rolls Royce, já seu conhecido do F3  de que ela se efectuasse nunca esmoreceu e de
                                            (viagem Lisboa – Funchal) predominou co-  todos os meios lançou mão para que ela se com-
           Apesar do projecto da Travessia Aérea  mo o melhor. A casa Fairey era aquela que  pletasse”.
         Lisboa – Rio de Janeiro ter sido lançado e  tinha já prontos planos de um hidroavião  A Marinha pôs à disposição da viagem,
         autorizado pelo Governo em Junho de  com as características que Sacadura procu-  para dar apoio aos aviadores os seguintes
         1919, ficou suspenso, segundo Sacadura  rava, ou seja o F IIID, modificado.   navios: cruzador “República”, aviso “5 de
         Cabral, antes do final desse ano , por não se  Sacadura com a sua equipa acompa-  Outubro”, canhoneira “Bengo” e ainda, na
         terem encontrado os aviões que satis-  nhou a construção e modificações do  fase final, o cruzador “Carvalho Araújo”.
         fizessem os requisitos e só foi retomado  avião, que, após difíceis experiências e rea-
         depois de concluída a viagem Lisboa –  justamentos, ficou pronto quase no final  REALIZAÇÃO DA TRAVESSIA AÉREA
                                                                               DO ATLÂNTICO SUL


                                                                                 As duas semanas que se seguem são vivi-
                                                                               das por Sacadura e por Gago Coutinho,
                                                                               (que seria o seu observador e navegador
                                                                               durante a travessia) de uma forma frenéti-
                                                                               ca, para tudo ficar pronto antes do fim do
                                                                               mês de Março. O pessoal do Centro partici-
                                                                               pa com muito entusiasmo na preparação do
                                                                               avião.
                                                                                  Finalmente, a 30 de Março de 1922,
                                                                               Sacadura descola, levando Gago Coutinho,
                                                                               como observador,  para a viagem que ficou
                                                                               conhecida por 1.ª Travessia Aérea do
                                                                               Atlântico Sul. Não vou descrever esta céle-
                                                                               bre viagem que o relatório apresentado por
                                                                               Sacadura Cabral e por Gago Coutinho
         O F400 “Lusitânia” preparando para descolar no rio Tejo para a travessia aérea do Atlântico Sul.  descreve com total minúcia. No entanto, ✎
                                                                                         REVISTA DA ARMADA • MAIO 2000  7
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