Page 259 - Revista da Armada
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O Espadarte
O Espadarte
Conclusão
A ACTIVIDADE OPERACIONAL
A principal actividade do "Espadarte" foi
dedicada à instrução e adestramento da sua e
futuras guarnições de submarinistas, bem
como o treino dos navios de superfície na
detecção e luta contra submarinos. Os
primeiros exercícios foram feitos no rio Tejo
e na própria Doca de Belém – imersões
estáticas – para não interromper a instrução
enquanto, depois da chegada a Lisboa, se
procedia à reparação dos motores de com-
bustão, tarefa que levou alguns meses.
Em Agosto de 1914 o "Espadarte" foi incor-
porado na Divisão Naval de Instrução e
Manobra. Em Abril de 1915 fez cinco exercí-
cios de imersão na baía de Cascais, e mais
cinco em Maio, todos com lançamento de tor-
pedos, como tirocínio de especialização em Imersão do “Espadarte” vista de bordo do cruzador “Vasco da Gama”.
navegação submarina de futuras guarnições.
Em Julho de 1915 foi integrado na Divisão final foi presenciada pelo Chefe do Estado, bustão, para os torpedos e para as baterias,
Naval de Defesa e Manobra e nela realizou Manuel Teixeira Gomes, pelo Ministro da depósitos de combustíveis, instalações para
diversos exercícios conjuntos com os navios Marinha, Comandante Pereira da Silva, e os grupos electrogéneos e ar comprimido de
de superfície, como os contratorpedeiros outras personalidades. Nesse exercício os apoio, casernas e lavabos, salas de aula, bi-
"Douro", "Guadiana", navios de linha "Vasco submersíveis efectuaram, com intervalos de blioteca, sala de desenho, secretaria, esco-
da Gama", "Almirante Reis" e "Adamastor", e 40 minutos, ataques simulados à canhoneira taria e alojamentos para os oficiais. Com a
o cruzador "Zaire", integrados num programa "Bengo", seguido de lançamento de torpedos entrada ao serviço das novas unidades, e for-
de intensa preparação da nossa Armada para sobre um alvo estacionado a uns mil metros mada a 1ª esquadrilha de submersíveis
a I Grande Guerra, na qual Portugal estaria a leste da baía de Cascais. (1918), as instalações foram crescendo face
brevemente envolvido. Em Agosto de 1927, o "Espadarte" acom- às exigências do serviço. As obras ficaram
Durante a Grande Guerra o "Espadarte" panhado pelo "Golfinho", fez uma viagem concluídas no verão de 1921, tendo a ceri-
teve como principal missão a preparação das aos portos do norte do país com o objectivo mónia da inauguração contado com a pre-
futuras guarnições dos submersíveis "Foca", de presença naval. sença do Presidente da República, Dr.
"Golfinho" e "Hidra", entretanto encomenda- António José de Almeida. Nasceu assim na
dos e em construção no mesmo estaleiro ital- A ESTAÇÃO DE SUBMERSÍVEIS Doca de Belém a primeira base de submari-
iano, e com os quais veio a constituir a 1ª nos onde se manteve até à sua transferência
Esquadrilha. Depois da entrada de Portugal Perante a iminente chegada do submersí- para a zona da Base Naval de Lisboa, no
na guerra, em 9 de Março de 1916, sendo vel foi necessário pensar no apoio logístico Alfeite, numa política de concentração dos
seu comandante o 1TEN Fernando Branco, o indispensável à sua operacionalidade. Face serviços da Marinha. A transferência foi con-
"Espadarte" efectuou múltiplas missões de às características especiais desta unidade foi sumada no dia 5 de Abril de 1940.
patrulha de defesa da barra de Lisboa. A decidido, pensando já em novas unidades, É importante realçar a rapidez com que a
zona de patrulha situava-se a norte da Barra dotá-la de uma estação em terra capaz de Marinha encarou a necessidade de uma esco-
Sul, não ultrapassando para oeste a linha de servir de escola de preparação dos seus la de submersíveis. Logo em Setembro de 1913
fecho entre o Cabo da Roca e o Cabo homens e apoio logístico adequado. Desde foram aprovados os programas de especia-
Espichel. Só em Maio de 1917, já na com- logo, foi destinada a Doca de Belém, como lização do pessoal nesta arma, sendo sujeitos a
panhia dos três novos submersíveis, foi até local de abrigo, junto da canhoneira tor- um exame pelo Conselho Escolar da Escola
Sesimbra como demonstração da prontidão pedeira Tejo, que tinha sofrido um encalhe Pratica de Torpedos, da qual o "Espadarte"
desta arma. Até Julho de 1918, data em que nas Berlengas. ficou a depender para efeitos administrativos e
foi docado, realizou mais de 100 dias de Assim, foi construído um pequeno bar- de instrução. Como curiosidade diga-se que o
patrulha fora da barra. racão do lado oeste da Doca de Belém para recrutamento de novas guarnições a espe-
Terminada a guerra (11NOV1918) seguiu- apoio. O "Espadarte" amarrava de popa, per- cializar passou por muitas dificuldades, não
se um período de treinos, isolado ou em pendicular à muralha. Este barracão serviu sendo estranho os requisitos impostos pela
agrupamento, por vezes com alguns dos sub- para o alojamento guarnição, de depósito de Repartição de Saúde da Marinha, entre os
marinos a desempenharem o papel de navios material e escola de formação. Estas insta- quais a obrigatoriedade de os seus elementos
de superfície, uma vez que estes necessi- lações tornaram-se rapidamente exíguas pelo terem como altura máxima 1,65 m. O diplo-
tavam de prolongadas reparações e as suas que foi decidido em Janeiro de 1916 a cons- ma da sua regulamentação foi publicado na
guarnições de merecido descanso. Dos exer- trução de uma nova estação em terra na portaria nº123, de 13 de Março de 1914.
cícios que se seguiram merece apenas zona envolvente da doca, construindo-se Pela lei nº175 de 30 de Maio de 1914 foi
destaque um realizado ao largo de Cascais, uma ponte cais para a amarração, tornando- criada uma gratificação para o pessoal que
em 7 e 8 de Outubro de 1924, em que par- -se a primeira base de submersíveis. Foram prestava serviço nos submersíveis no valor
ticiparam os quatro submersíveis e cuja fase edificadas oficinas para os motores de com- de 100 réis diários. ✎
REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2000 5