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FIM DO "ESPADARTE"                            COMANDANTES E ENCARREGADOS DE COMANDO

           Em Abril de 1927 o "Espadarte" foi  1TEN Joaquim de Almeida Henriques .......................................15ABR13 a 19JAN16
         docado no dique do Arsenal de Marinha  1TEN Fernando Augusto Branco.................................................19JAN16 a 04SET16
         para uma revisão geral dos seus sistemas e  1TEN Fernando Henriques Alves de Sousa....................................4SET16 a 27JUL21
         casco com a duração de dois meses. Após  1TEN Joaquim Maria Alves Pereira da Fonseca ..........................27JUL21 a 08MAI22
         a sua conclusão foi detectado um elevado  2TEN Nuno Frederico de Brion ..................................................08MAI22 a 21JUL23
         desalinhamento dos veios propulsores  2TEN Amadeu Júlio de Sousa Correia ........................................21JUL23 a 12ABR24
         pelo que foi decidido nova docagem para  2TEN Aarão Coelho Ribeiro Abranches...................................12ABR24 a 01AGO24
         a sua correcção em Julho do mesmo ano.  1TEN Amadeu Júlio de Sousa Correia......................................01AGO24 a 31MAI28
         Esta operação levou longos meses e quan-
         do se procedia em Janeiro de 1928 à ope-
         ração de flutuação o casco cedeu, abrindo  "Foi hoje vendido o submarino "Espa-  SUBMERSÍVEL E SUBMARINO
         um rombo na zona da quilha a meio  darte". O facto não é banal, porque o
         navio. Na vistoria técnica que se seguiu  Espadarte marca um ciclo no serviço de  Ainda que por vezes se empreguem na
         verificou-se que o estado geral do casco  submersíveis da nossa Marinha de  generalidade os dois termos indistinta-
         era manifestamente preocupante, apresen-  Guerra."                    mente, há uma diferença entre o significa-
         tando corrosões generalizadas, pelo que  E continuava mais adiante, depois de  do exacto de ambos. O submarino é um
         foi proposto o seu abate, o qual foi forma-  fazer uma breve resenha desde a cons-  navio projectados para navegar quase
         lizado em 8 de Maio através de despacho  trução ao seu abate:         exclusivamente em imersão. Os seus trân-
         ministerial.                         "E lá foi hoje a leilão!         sitos à superfície reduzem-se ao mínimo
           Em 31 de Maio de 1928, em cerimónia  Preside – que ironia! – o comandante  indispensável, normalmente só para sair
         solene na Base de Belém presidida pelo  Almeida Henriques, o primeiro coman-  do porto. Têm, por isso, fracas qualidades
         Ministro da Marinha, CTEN Mesquita  dante do "Espadarte", o autor do seu "Livro  náuticas para navegar à superfície. Nos
         Guimarães, procedeu-se ao seu desarma-  de Ouro", o cronista de "Os primeiros e  primitivos submarinos, sendo a sua
         mento. Nesse acto, assim discursou o CFR  últimos anos de vida dum submarino", o  propulsão assegurada por motores eléctri-
         Almeida Henriques, então já Comandante  comandante amigo e cronista do "Espa-  cos alimentados por baterias (propulsão
         da Esquadrilha de Submersíveis, que retra-  darte"!...                única) era limitado o seu raio de acção,
         ta bem o seu amargurado estado de espiri-  É como se a um pai mandassem execu-  restringindo-se a cumprir missões de defe-
         to:                                tar o seu próprio filho. Como se a um  sa costeira. Só com a propulsão nuclear
           "É elevado o número de desastres que  guerreiro mandassem leiloar o cavalo de  se veio a concretizar o verdadeiro sub-
         têm enlutado as várias Marinhas. Mas,  batalha. Como se a alguém mandassem  marino, podendo este dar voltas ao
         entre nós, o primeiro desastre é este. ....... ,  pôr o coração em hasta pública!"  mundo ininterruptamente sempre em
         vindo todos assistir aos seus últimos  Indubitavelmente que o "Espadarte" foi  imersão. As sua únicas restrições são a
         momentos."  1                      impar no nascer e no morrer. Tamanha  resistência da guarnição e a reserva de
           O nome "Espadarte" ficava mais uma  singularidade teria merecido outra sorte  alimentação.
         vez disponível para outro navio. Não por  que não fosse acabar em sucata. Tão  Os submersíveis, pelo contrário, carac-
         muito tempo, já que dois anos depois, foi  importante marco da história da Marinha  terizam-se por serem navios concebidos
         atribuído a um dos submersíveis da nossa  Portuguesa deveria ter sido perpetuado  para navegarem à superfície, mas que
         segunda esquadrilha que entraria ao  num Museu-Memorial, onde através dos  podem fazer imersão para desferir o seu
         serviço em 1 de Maio de 1934.      tempos se mostrasse às várias gerações o  ataque e posterior evasão.
           Para a história ficam as 2.959 horas de  espírito inovador, arrojado e pioneiro que  As características dos submersíveis que
         navegação, as 583 horas de imersão, os  envolveu a Marinha no início do século  constituem as principais diferenças para
         958 dias de navegação e 618 imersões,  XX, e fizesse jus àqueles homens que com  os submarinos são:
         que muito contribuíram para o prestígio  a sua abnegação, coragem e grande dedi-  - casco duplo (o resistente e o exterior)
         desta arma e da Armada.            cação construíram e elevaram bem alto a  - tanques de lastro exteriores (entre os
           Depois de lhe ter sido retirado todo o  arma submarina. Esperemos que com o  dois cascos)
         material aproveitável foi vendido em hasta  submarino "Albacora", há poucos dias  - casco exterior com roda de proa e
         pública, em 20 de Maio de 1929. A  retirado das lides operacionais devido à  quilha, para melhor desempenho na
         propósito deste acontecimento, escrevia  sua provecta idade, haja ensejo de se cor-  navegação à superfície
         assim o Diário de Lisboa desse dia:  rigir a injustiça cometida com o maravi-  - maior reserva de flutuabilidade
                                                           lhoso "Espadarte".    - sistema de propulsão misto
                                                             Por fim, resta-nos
                                                           esperar que o tinteiro e  EPISÓDIOS E FACTOS CURIOSOS
                                                           a pena que desde a
                                                           primeira vez, há 90   • Foi o primeiro submersível na
                                                           anos, serviram  para dar  Península Ibérica, e o primeiro navio
                                                           forma ao vinculo solene  equipado com motores Diesel a efectuar
                                                           da assinatura dos con-  uma viagem de mais de 1.300 milhas,
                                                           tratos de todas as es-  sem escolta.
                                                           quadrilhas, venham de  • Ainda em La Spézia, durante o perío-
                                                           novo a ser brevemente  do de provas e de adestramento da
                                                           usados, para que a Ma-  guarnição, foi dada instrução a camaradas
                                                           rinha possa dar conti-  brasileiros, que tinham em construção 3
                                                           nuidade a esta arma,  submersíveis do mesmo modelo do
                                                           que desde a sua primeira  "Espadarte", também nos estaleiros da Fiat
                                                           unidade – o inesquecí-  San Giorgio.
         O Imediato, 2TEN Fernando Branco, fuma um cigarro antes de entrar   vel "Espadarte" – tem si-  • Em Maio de 1915 é envolvido num
         em imersão.                                       do uma arma de sucesso.  episódio insólito durante um movimento
         6 AGOSTO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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