Page 263 - Revista da Armada
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A Taça América
                                A Taça América



                                                       2ª Parte

                                           Uma taça sem fundo






               eixámos o leitor, no número anteri-  que não pode ultrapassar os 25 metros. As  dos, exclusivamente, materiais produzidos
               or desta Revista, quando foi instituí-  provas efectuam-se em 1958 e a taça con-  no próprio país.
         Dda a classe J nas competições da  tinua no prestigiado clube de Manhattan.  Em 1964 os ingleses voltam a ser finalis-
         Taça América. Deste modo, os yachts pas-  A Austrália é um país – todos nós o sabe-  tas. No local das provas, em Norfolk,
         saram a ser construídos segundo uma fór-  mos -- com condições excepcionais para a  começa a usar-se o triângulo olímpico,
         mula, o que quer dizer que as suas dimen-  prática dos desportos náuticos. O número  constituído por três bolinas, dois bordos a
         sões eram equivalentes e, assim, as regatas  de praticantes é enorme e a Taça América  um largo e um de vento em popa, num
         eram disputadas sem abonos, o que dava às  não passa despercebida. É construído o  total de 30 milhas. Nova vitória americana.
         provas maior realidade e mais emoção.  Gratel, que tem um grande sucesso nas  Três anos após os australianos vão nova-
           Em 1930, nestes novos moldes, o  regatas em que entra. Dispõe de molinetes  mente defrontar os detentores da taça,
         Shamrock V perde com o Entreprise, do  com um sistema de manivelas que permite  com a Dame Pattie, nome da madrinha, que
         sindicato do poderoso Vanderbilt,                                           é a esposa do primeiro Ministro
         que gastou quatro vezes mais do                                             Menzies. Não têm sucesso.
         que o seu opositor a construir o seu                                          A França, que tem estado ausente,
         barco. Com esta regata, acaba-se o                                          apresenta-se na liça com o France,
         longo e frustrante reinado de Thomas                                        pela mão do barão Bich, o célebre
         Lipton. De facto, este magnate ainda                                        fabricante de esferográficas “BIC”.
         pretendia participar mais uma vez                                           Nas provas de selecção, mesmo
         na Taça, mas a doença, não só o                                             tendo a bordo Eric Tabarly, o France
         impediu de o fazer, como também                                             é eliminado pela Austrália, sem me-
         de entrar no aristocrático clube náuti-                                     lhor sorte frente aos americanos que
         co de Cowes, cuja direcção, tardia-                                         participam com o Intrepid, onde
         mente, decidiu aceitá-lo como                                               entram em força as novas tecnolo-
         membro. Em 1932, falecia.                                                   gias e os novos materiais: o mastro é
           Neste mesmo ano, novo encontro.                                           de titânio e a fibra de carbono é tam-
         O Endeavour atravessa o Atlântico e                                         bém usada em várias peças do
         perde com o Rainbow, cujo mastro                                            equipamento. Surge uma nova ge-
         tem a espantosa guinda de 45 metros.                                        ração de molinetes. As formas do
         É usada, à proa, uma grande vela de                                         casco são optimizadas. Os pesos a
         balão que veio a transformar-se nos                                         bordo são melhor distribuídos.
         descomunais spinakers. Para a
         manobra dos cabos começam a ser
         usados os molinetes de duas veloci-
         dades. No que respeita ao início da
         regata, as embarcações já não per-
         maneciam fundeadas, enquanto
         aguardam o sinal de largada. Desde
         a prova de 1930, que a linha de parti-
         da passa a ser cortada com os
         veleiros em andamento.
           Nos encontros seguintes, em 1934
         e 1937, novas vitórias americanas.  Weatherly, 1962.
           A Segunda Guerra Mundial inter-
         rompeu, durante 17 anos, a disputa da Taça  serem accionados pela força simultânea de
         América que, ganhou novas regras. O New  vários membros da guarnição, o que torna
         York Yacht Club, o Royal Yacht Club e o  as manobras mais rápidas. Em 1962, o
         Royal Thames Yacht Club, propõem-se  desafio com o barco americano Weatherly
         encontrar uma fórmula para substituir a  promete. O Presidente Kennedy assiste à
         classe J. É decidido reduzir o comprimento  primeira prova a bordo de um destroyer. Os
         dos veleiros na linha de flutuação, que  australianos são derrotados por 5-1. Mas o
         passa de 19.82 para 13.42 metros, o que per-  mais importante foi chegar à final desta
         mite a abertura à classe internacional de 12  secular competição. Todavia, depois desta
         metros. Deixa de ser obrigatório fazer  prova, é introduzida uma importante  Intrepid, 1967.
         seguir a embarcação, para o local da regata,  alteração no regulamento da Taça. Assim,
         pelos seus próprios meios, o que permite  pelo facto das velas do Gretel terem sido  Quatro anos mais tarde, usa-se o
         aligeirar a sua construção. Estabelecem-se  feitas de uma fibra, só fabricada nos  alumínio para a construção do casco, o que
         algumas limitações como a altura da vela,  Estados Unidos, é decidido que sejam usa-  os torna mais leves. É introduzida uma ✎
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2000  9
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