Page 26 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA
SESSÃO DE ENCERRAMENTO DAS COMEMORAÇÕES
DO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO ALMIRANTE SARMENTO RODRIGUES
Decorreu no passado dia 22 de Novembro, sob a égide da Acade- valores duradoiros da maneira portuguesa de estar no mundo, e quan-
mia de Marinha, a sessão solene de encerramento das comemorações do as traves mestras ruíram não fez um único gesto para se preservar
do centenário do nascimento do Almirante Sarmento Rodrigues. pessoalmente. Na ponte, sem abandonar o navio. É por isso que con-
A cerimónia teve lugar no Pavilhão das Galeotas do Museu de Mari- viria não deixar passar esta oportunidade sem ao menos tentar referir
nha, tendo sido presidida pela Almirante Vieira Matias, Chefe do Es- alguns dos valores que pregou pelo exemplo.
tado- Maior da Armada, que representava o Presidente da República. Em primeiro lugar o amor da Pátria, trazido das terras transmontanas
Presentes diversas individualidades de vários quadrantes da vida de menino, e a que o lema da Marinha deu vigor sem desfalecimento.
nacional, das quais se destacavam o Presidente da Academia de ...Depois, o amor à terra de origem, à pátria pequena de que falam
Ciências de Lisboa, Prof. Dr. Toscano Rico, o Presidente da Academia poetas, à aldeia e à casa, uma atitude teilhardiana de cantar o universo.
Portuguesa de História, Prof. Dr. O orador seguinte, Coman-
Veríssimo Serrão, o Presidente dante Serra Brandão, falou do
da Sociedade de Geografia de homenageado como Coman-
Lisboa, Almirante Sousa Leitão, o dante da Escola Naval, afir-
Presidente da Câmara Municipal mando:
de Freixo-de-Espada-à-Cinta, Sarmento Rodrigues foi o 42º
Professor Edgar Gata, bem como comandante da Escola Naval,
familiares do Almirante Sarmento entre 20 de Junho de 1957 e 30
Rodrigues, designadamente, seus de Maio de 1961, e foi no seu
filhos e genros. mandato que teve lugar a grande
Coube ao Almirante Rogério reforma de 1958.
d’Oliveira, Presidente da Acade- A Reforma de 7 de Outubro
mia de Marinha, a alocução de de 1958 correspondeu a uma
abertura da sessão, destacando intensificação da actividade da
sobretudo na vida do home- Marinha de Guerra determinada
nageado o seu papel, quer na Academia Portuguesa de História, evo- pelas grandes inovações tecnológicas introduzidas no material e na
cando a cultura e o patriotismo que emanaram da sua personalidade, arte da guerra, pelas exigências da defesa nacional e compromissos
quer na Sociedade de Geografia de Lisboa, a simbolizar a sua vida internacionais e, por último e não menos importante, pela escassez de
política ao serviço do Ultramar Português e a Academia de Ciências, candidatos às escolas militares. A Escola Naval mudou profundamente
a assinalar a sua vocação científica, bem como a Academia de com esta reforma, tendo-se introduzido uma sensível melhoria nos
Marinha da qual foi grande impulsionador e primeiro Presidente, programas de estudo e na organização interna.
onde “viveu e despendeu o seu último labor, o último alento ao O orador salientou que Sarmento Rodrigues se preocupou com a
serviço da Pátria”, e onde “encontrou o refúgio espiritual no ocaso da cultura geral dos cadetes, promovendo duas ou três dezenas de confe-
sua vida”. rências, promovendo em 1960 a publicação de uma valiosa edição de
O Presidente da Academia de Marinha fez seguidamente a apresen- “Os Lusíadas”, acção essa integrada nas Comemorações Henriquinas,
tação dos distintos oradores e temas versados, designadamente: o Pro- bem como a realização do V Colóquio Internacional de História e da
fessor Edgar Gata que falaria sobre a vida pessoal do homenageado e o Economia do Navio, que reuniu no Mosteiro dos Jerónimos as maiores
extremoso carinho dedicado à sua terra natal, o Comandante Martins e sumidades mundiais nestas especialidades.
Silva, Director do Museu de Marinha, que dissertaria sobre a figura do Finalmente usou da palavra o Almirante da Armada Brasileira Max
ilustre e genuíno homem do mar. Da sua alocução salientamos: Justo Guedes, o primeiro brasileiro a ser eleito membro efectivo da
Desde cedo, Sarmento Rodrigues comandou navios, ambição com- Academia de Marinha e grande amigo de Portugal, que dissertaria so-
preensível de todo o oficial da classe de Marinha. Houve-se sempre bre a relação do Almirante Sarmento Rodrigues com a Pátria Irmã.
bem nos seus comandos, como seria de esperar, mas gostaria de des- O Presidente da Academia de Marinha dirigiu expressivas palavras
tacar, na ocasião do seu centenário, o comando do contra-torpedeiro de apreço e admiração à Senhora D. Ana Maria Sarmento Cavaleiro
“Lima”, iniciado em 1941 e concluído em 1945. Ferreira, e ao Vice-Almirante Cavaleiro de Ferreira, pelo apoio e cola-
Já em Julho de 1942 o “Lima” recolhera, em condições difíceis, 110 boração que deram a todos os eventos das comemorações, prestando
náufragos dum navio inglês, o que valeu a Sarmento Rodrigues a con- um inestimável serviço às Instituições que espontaneamente se asso-
cessão pelo Governo Britânico de uma condecoração. ciaram a esta homenagem.
No início de 1943, ia a Batalha do Atlântico no auge, rara era a se- A encerrar a sua brilhante alocução o Almirante Rogério d’Oliveira
mana em que não se registava afundamentos nas imediações dos afirmou:
Açores. Esta sessão não é mais uma, entre outras homenagens que a
Salientou o orador a acção decisiva do então Comandante do Academia de Marinha tem prestado ao seu fundador. Ao fim de 20
“Lima” no salvamento e resgate de 118 náufragos no dia 30 de Janeiro, anos sobre o seu desaparecimento podemos e devemos recordar a sua
altura em que o navio atingiu a tão falada e discutida inclinação de deslumbrante personalidade num ambiente solene mas não necessa-
67 , situação raríssima e extremamente perigosa para qualquer navio, riamente fúnebre e triste; num ambiente de saudade, sim, mas não de
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mas que, Sarmento Rodrigues, soube reagir com rapidez e tomar a desesperança, em que se possa retirar ensinamentos e estímulo para
decisão acertada, tendo salvo o seu navio. cometimentos futuros, do exemplo de quem serviu a Pátria, de alma e
Da intervenção do Prof. Dr. Adriano Moreira salientamos, a dado coração; de quem pôs todo o seu saber, virtude e abnegação no culto
passo: do Mar, da Marinha e do Ultramar.
Julgo que apenas se faz justiça reconhecendo que Sarmento ...É a este grande “marinheiro-humanista” que a Academia de
Rodrigues, nessas décadas do fim dos tempos, lutou com firmeza para Marinha presta hoje “in memoriam” uma especial, exaltante e sentida
entender e racionalizar a intervenção cívica em termos de salvar os homenagem.
24 JANEIRO 2000 • REVISTA DA ARMADA