Page 309 - Revista da Armada
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êxito, contra os discricionários poderes
outorgados àquele diplomata. Mas se
então não consegue que seja feita
justiça, alcançará de Sidónio Pais, anos
depois, a revogação da aberrante por-
taria.
«E, finalmente (inexplicavelmente exo-
nerado!), ao retirar-se (em Setembro de
1916) para a metrópole, deixava a abar-
rotar de patacas, os cofres da província.»
Chegado a Lisboa, Carlos da Maia
encontrou Portugal em guerra, desde
Março, com a Alemanha e a preparar, no
meio da hostilidade dos sindicatos, dos
protestos dos agricultores (5) e da «resistên-
cia do corpo permanente de oficiais», o
Corpo Expedicionário Português (CEP) (6),
30.000 homens, sob o comando de Norton
de Matos.
Politicamente, porém, a confusão é ainda
maior do que à partida. Num quadro de
fome, greves, motins, assaltos e prisões pro-
liferavam cisões, conluios, atentados,
revoluções e golpes com a queda de cada
vez mais efémeros e desacreditados gover-
nos. Entre eles a União Sagrada (13
meses!), constituída a 15 de Março de
1916, com cedências de Afonso Costa, para
enfrentar a guerra na defesa das colónias.
Mas, da situação de guerra, as decor-
rentes pena de morte, censura de jornais,
correspondência, telegramas e filmes, soma- O Governador de Macau no seu Gabinete.
dos aos desaires dos Aliados, às inúmeras
mortes em combate, à carestia, ao raciona- Assim, embora sem ter tido qualquer Nova crise e a República Nova segue a
mento e à repressão conduzem, em 1917, a parte activa, apoiará o major Sidónio Pais via Presidencialista, mas, afortunada-
tumultos mortais no Porto (Maio) e ao esta- que vitorioso e gozando da pública legi- mente, a pasta da Marinha volta às mãos
do de sítio em Lisboa (Julho). timização de Machado Santos, o nomeia, de um marinheiro. Ao amigo de tantas
Contudo o fosso entre ricos e pobres três dias depois do golpe, comandante da brincadeiras, Carlos da Maia escreve:
continua a alargar-se. Divisão Naval e o desagrava, mandando «Curta será a minha permanência no
Em Agosto, Carlos da Maia, promovido a anular a sua exoneração de Macau. poder mas espero, até às eleições, poder
capitão de fragata, perante uma adesão Mas a Marinha, ciosa do seu republica- mostrar o amor que dedico à minha
maciça de monárquicos tanto aos partidos nismo, sai derrotada e, um mês depois, profissão».
da situação, republicana, como aos da revolta-se para ser de novo humilhada pois É assim que, convencido Sidónio, sairá,
oposição, democrática, antevê uma urgente os sublevados serão passados «ao serviço um mês depois, o Decreto que reabilita
intervenção, em nome duma Ordem angus- colonial» com baixa de vencimentos o que os deportados, conferindo-lhes a honrosa
tiantemente desejada pelo país, donde fosse magoa toda a corporação e também Carlos qualidade de expedicionários. Três meses
possível restaurar «a República pura». da Maia, em absoluto alheio a esta punição. mais tarde, Carlos da Maia, eleito deputa-
do, abandona o poder deixando um
Sanatório para os Tuberculosos (7) , a
Escola de Recrutas, e, mais importante,
entregues à Armada as muito disputadas
reais quintas do Alfeite (8) e a Junta Autó-
noma do Novo Arsenal.
Depois da apoteóse de Sidónio, da
oposição ao corporativismo emergente, da
dura militarização do regime, do assassinato
do Presidente-Rei vem a Monarquia no
Norte e em Monsanto, onde Carlos da
Maia merecerá um último louvor. Depois,
ainda, uma breve passagem como ministro
das Colónias de José Relvas.
Depois, como único lenitivo a paz do
seu lar.
Os cidadãos ilustrados distanciavam-se,
enojados, da «porca da política» que
seguiam, incrédulos e impotentes, pelos
jornais e inúmeras gazetas de ou afectas
aos partidos ou a políticos em auto-pro-
moção. ✎
REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2000 19