Page 55 - Revista da Armada
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A modernização das fragatas
A modernização das fragatas
da classe “Comandante João Belo”
da classe “Comandante João Belo”
Com o aprontamento da fragata apesar de não se encontrarem equipadas com mísseis, as
“Commandant Rivière” baseavam-se num projecto versátil,
“Comandante Sacadura Cabral”, cuja fase
robusto, e comprovado pela existência de várias unidades já em
final decorre no Arsenal do Alfeite, termina operação.
a modernização das três fragatas da classe Foi assinado contrato para a construção de quatro unidades,
que receberam os nomes de oficiais superiores da Armada,
“Comandante João Belo”. Tratando-se heróis do passado recente do país: os comandantes João Belo,
duma importante operação, que abrangeu Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, associados à adminis-
diversas áreas e equipamentos, cuja tração e à exploração de África sob o domínio colonial Português,
e Sacadura Cabral, pioneiro da aviação naval. A construção da
complexidade é de realçar, quis a Revista primeira unidade, o NRP “Comandante João Belo”, começou em
da Armada apresentar aos seus leitores 06SET65, e o processo terminava em 25JUL69 com a entrega à
uma visão abrangente deste processo Marinha Portuguesa do NRP “Comandante Sacadura Cabral”.
de modernização parcial. A “PRIMEIRA VIDA” DAS FRAGATAS DA CLASSE
“COMANDANTE JOÃO BELO”
OS ANTECEDENTES
Desde a sua entrada ao serviço na Marinha, as fragatas da classe
m meados dos anos 60, os conflitos armados em África “Comandante João Belo” foram peões importantes do conturbado
obrigaram o governo Português de então, a multiplicar as xadrez da história recente do país. Estiveram em África, onde
E suas forças militares numa tentativa de resposta pela força viveram diversos episódios de tensão e a independência de
ao desafio à sua soberania. Numa conjuntura em que a urgência Angola e Moçambique; integraram a “Standing Naval Force
constituía um factor determinante, não foi possível percorrer os Atlantic” (Stanavforlant) e participaram em numerosos exercícios
morosos passos da gestação de uma classe de navios partindo de internacionais; representaram o país e o interesse nacional nos
requisitos operacionais e passando por estudos de exequibili- quatro cantos do globo; e contribuíram para a formação de mi-
dade, anteprojecto, projecto pormenorizado, estudos sectoriais lhares de cidadãos portugueses chamados às fileiras para cumprir
de áreas de risco, concurso, adjudicação e construção; como agra- o serviço militar obrigatório, delas levando boas e más recor-
vante, o crescente isolamento político internacional do país limi- dações. Todos nós, que nelas embarcámos - e agora recordo os
tava as opções em termos de projectos disponíveis, estaleiros meus tempos de guarda-marinha EMQ, segundo oficial de
construtores e equipamentos. máquinas do NRP “Comandante Sacadura Cabral” - não podemos
Dado que a opção preferida pela Marinha, a classe britânica deixar de as associar aos melhores anos da nossa juventude, à fase
“Leander”, se revelou inviável por motivos políticos, recorreu-se mais idealista e desprendida das nossas vidas, e aos bons momen-
à classe francesa “Commandant Rivière”. Estes navios de escolta, tos de camaradagem, de descoberta nas idas ao estrangeiro, de
aos quais os franceses chamavam avisos, tinham sido projectados orgulho na profissão e no navio, e os maus momentos do enjoo, do
para operar em África, na Indochina e no Pacífico. As suas frio, da saudade, da missão a correr mal. Mas essa longa e rica
condições de habitabilidade eram para a época bastante boas; história é outra, pois este curto artigo trata do renascer para uma
dispunham de uma gama variada de armas e sensores, com boas nova vida, feita de um momento histórico, estratégico, tecnológico
capacidades, quer para combate de superfície e anti-aéreo quer e social muito diferente, o Portugal democrático do novo milénio.
anti-submarino; e, graças à propulsão a motores diesel, possuíam Durante quase trinta anos, estes navios foram extremamente ac-
uma autonomia invulgar nesta categoria de navios. Em suma, e tivos, tendo navegado quase 40 mil horas cada um (quatro anos e
meio passados no mar!) e deixado um contributo invejável para
qualquer Marinha do mundo. Mesmo assim, as suas potenciali-
dades ainda não se encontravam esgotadas, e assim nasceu o pro-
jecto para a sua modernização.
A “SEGUNDA VIDA” DAS FRAGATAS DA CLASSE
“COMANDANTE JOÃO BELO”
No final dos anos 80, passados vinte anos após a entrada ao efec-
tivo da classe “Comandante João Belo”, a Armada começou a con-
frontar-se com o problema da obsolência de parte dos sistemas de
armas e sensores destes navios. Para ilustrar este problema,
podemos recorrer ao exemplo do que se tem verificado na informá-
tica, recordando que há dez anos atrás um computador com pro-
cessador tipo 286 constituía uma maravilha tecnológica, enquanto
A fragata “Comandante João Belo” na sua versão original. hoje em dia é considerado fraco demais até para máquina de jogos. ✎
REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2000 17