Page 85 - Revista da Armada
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Cerimónia de homenagem aos militares
          Cerimónia de homenagem aos militares


                    falecidos ao serviço de Portugal
                    falecidos ao serviço de Portugal






                correu no passado dia 5 de Feve-  familiares dos que tombaram nesses ter-  rantindo a sua perenidade. É para isso
                reiro a cerimónia de inauguração  ritórios e por todos aqueles que se interes-  importante, entre tantas outras coisas, na-
         O das placas com os nomes dos mili-  sam pela História de Portugal.   turalmente, que os portugueses aprendam
         tares mortos em combate no Ultramar,  A concluir afirmou:             e sintam orgulho em amar e a servir o seu
         junto ao Monumento dos Combatentes, em  “Quer queiramos quer não, os soldados  País.
         Belém.                             portugueses deram um forte contributo para  Para o amar têm que o conhecer. Conhe-
           Na cerimónia, presidida pelo Presidente  que a língua portuguesa seja falada em  cer o território em que vivem e a História
         da República, Dr. Jorge Sampaio, estiveram  todos os continentes e agora, que estamos  que nos permitiu chegar aqui. Uma História
         presentes o Ministro da Defesa Nacional, o  em paz, será bom que outros soldados con-  com oito séculos. Sobre ela, sobre cada um
         Chefe do Estado-Maior General das Forças  tinuem esse trabalho para que, dessa forma,  dos seus momentos mais relevantes, existem
         Armadas, os Chefes dos Estados-Maiores da  possamos continuar a manter a grandeza de  sempre, diversas interpretações, por vezes
         Armada, Exército e Força Aérea, entre várias  Portugal.               polémicas. Ainda bem, a diversidade de
         autoridades civis, militares e religiosas.  Termino, fazendo votos de que Portugal  leituras interpretativas é  importante.
           O programa da cerimónia iniciou-se com  continue a ser um País livre e indepen-  A grande virtude dos regimes democráti-
         a celebração de uma missa de sufrágio em  dente, um País digno e defensor da sua  cos, em relação às ditaduras, é que a demo-
         memória dos combatentes falecidos na  história e que os portugueses, não tenham  cracia não impõe uma leitura excluindo
         Igreja da Memória, seguindo-se a concen-  vergonha do seu passado, dos seus anteces-  todos aqueles que não se reconhecem nu-
         tração junto do Monumento dos Combaten-  sores, em especial daqueles que tombaram  ma interpretação oficial. A vitalidade históri-
         tes do Ultramar.                   por Portugal.                      ca de um povo reside na sua capacidade de
           O Presidente da Liga dos Combatentes  A Vossa Exª., Senhor Presidente da  compreender essa diversidade e, ao debatê-
         General Morais Barroco, ao usar da palavra  República, e a todos que se dignaram estar  -la, não fazer dela um território de desen-
         agradeceu a todos os presentes, salientando  presentes nesta simples, mas significativa  contros e de rupturas com a própria história.
         a acção do Professor Doutor Veiga Simão,  cerimónia, o agradecimento de todos os  Compreendo que a jovem democracia
         ao tempo Ministro da Defesa Nacional, que  Combatentes”.              portuguesa tenha tardado em realizar esta
         possibilitou a concretização do memorial                              cerimónia, Mas ainda bem que assim foi.
         concedendo as verbas necessárias para o                               Feita muito mais cedo, ela não teria encon-
         efeito.                              O Presidente da República na cerimónia  trado condições para se transformar num
           Em seguida, fez um resumo descritivo da  de homenagem dos militares falecidos ao  gesto verdadeiramente nacional, porque se
         história do monumento cuja construção foi  serviço de Portugal, proferiu um discurso  teria deparado, inexoravelmente, com um
         iniciada em 1987, com a constituição de  que passamos a citar:        contraditório de sentimentos sobre a Guerra
         uma Comissão Executiva constituída pela  Agradeço, reconhecido, aos promotores  em África que só o tempo permite colocar
         Liga dos Combatentes, Sociedade de Geo-  desta iniciativa o gesto de deferência que  no seu devido contexto. Estaríamos então a
         grafia de Lisboa, Sociedade Histórica da In-  tiveram para comigo ao adiar esta cerimó-  debater se esta era uma homenagem às
         dependência de Portugal, Associação de  nia, permitindo-me, assim, estar aqui hoje  causas da guerra, dividindo-nos nisso, e
         Comandos, Associação dos Combatentes  convosco.                       não, como é nossa obrigação a prestar uma
         do Ultramar, Associação da Força Aérea  O Estado democrático, ao assentar os  homenagem aos portugueses que serviram
         Portuguesa, Associação dos Especialistas da  alicerces do novo regime, saído do 25 de  o seu País.
         Força Aérea Portuguesa e Associação dos  Abril, na Declaração Universal dos Direitos  Só é possível estimular os portugueses a
         Deficientes das Forças Armadas. A Comis-  do Homem, permitiu ao Estado democráti-  saber servir Portugal, se todos soubermos,
         são deu por concluídos os seus trabalhos  co resolver as suas causas políticas da  devidamente homenagear aqueles que o
         em 15-01-1994 com a inauguração da pri-  Guerra. Mas até hoje, estava por prestar a  serviram e por ele morreram. Apelo, por
         meira fase do Monumento, presidida pelo  homenagem devida aqueles que morreram  isso, aos portugueses para que saibam sem-
         então Presidente da República.     lutando sob o Estandarte de Portugal. Era  pre servir e amar o seu país e aos poderes
           Aquela primeira fase da construção, cor-  tempo de o fazer.         públicos para que saibam sempre elevar-se
         respondeu à edificação de um simples pór-  Sinto, ao curvar-me em respeito perante a  acima das polémicas e homenagear devida-
         tico de grandes dimensões, que procurava  memória destes homens, a mesma como-  mente aqueles que o serviram.
         traduzir o seguinte:               ção que sempre sinto quando, em visita a  Longe dos juízos da história, ao percorrer
         • grande pureza formal e simbólica;  unidades militares, o clarim soa o toque de  o silêncio irreversível daqueles nomes e o
         • grande simplicidade e carácter unitário;  silêncio e de homenagem àqueles que ao  drama, irreparável, de quem perdeu a vida,
         • a união entre todos os povos envolvidos na   longo de décadas e séculos tombaram ao  evoco o sentimento e a angústia de quem
           guerra do ex-Ultramar português, sem  serviço do seu país.          perdeu os seus familiares. Não há palavras
          constrangimentos nem ressentimentos.  Seja-me permitido presumir que talvez eu,  de conforto que minore esse sofrimento.
                                            pelas funções que desempenho como  Que este monumento e estas lápides fi-
           Afirmou ainda que, após a conclusão da  Presidente da República e por todo o meu  quem, por isso, como um testemunho pe-
         segunda fase, passamos a desfrutar de um  passado político, possa deixar hoje, a todos  rene desse sacrifício feito sob a Bandeira
         Monumento vivo, um Monumento que   os portugueses, uma mensagem e um apelo.  Nacional.
         agora é procurado por todos aqueles que  A nossa responsabilidade maior, aquela  Seguiu-se o descerramento das lápides
         passaram pelo ex-Ultramar português como  pela qual seremos invariavelmente julga-  que perpetuam os nomes dos militares fale-
         combatentes, pelos seus familiares, pelos  dos, é para com o futuro de Portugal, ga-  cidos ao serviço de Portugal.
                                                                                      REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2000  11
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