Page 116 - Revista da Armada
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«O DL 18.633 DE 17 DE JULHO DE 1930»
           «O DL 18.633 DE 17 DE JULHO DE 1930»


                                                Os 70 anos do

                                   Programa Magalhães Corrêa



         O DL 18.633 que estabelece a renovação da Ma-
         rinha de Guerra, apesar de circunstanciado no
         tempo e no modo, surpreende pela sua actua-
         lidade, porque, a sustentar o articulado, o seu
         preâmbulo, devidamente depurado, ancora afi-
         nal no que os estrategos definem como os inte-
         resses permanentes de Portugal.

               e facto, respigando do texto original em itálico, começa logo
               por abordar «O conjunto de condições geográficas ... que mar-
         Dcou imperativamente o nosso destino através da história. ...   Aviso de 1ª Classe “Bartolomeu Dias” na configuração inicial.
         pela atracção que o mar exercia ... e de como, pela política previdente
         dos estadistas de então, Portugal estendeu por todos os continentes
         os seus interesses.»
           Logo a seguir refere, «O desenvolvimento do comércio de além -mar,
         a maior frequência e o estreitamento das relações entre os estados da
         Comunidade de Povos de Língua Portuguesa, como hoje diríamos,
         e Portugal e a formidável expansão dada ao tráfego marítimo, impri-
         mindo maior relevo ao litoral português, ao longo do qual se conden-
         sa um dos mais importantes feixes de linhas de comunicação inter-
         nacionais... que vieram radicar indelevelmente... o nosso País como
         potência global e marítima.», no actual contexto da União Europeia
         e da NATO.
           ...
           «Bastariam pois as determinantes de natureza geográfica para
         justificar ... a reconstituição da marinha de guerra. Mas outros moti-
         vos de ordem política se juntam àqueles, fortalecendo-os, dando -lhes
         novo vigor.                                          Aviso de 1ª Classe “Afonso de Albuquerque” em viagem para a última comissão de serviço.
            Como potência global Portugal encontra na marinha de guerra
         um instrumento insubstituível de afirmação de soberania, de pro-
         gresso e de estreitamento de relações entre os povos da CPLP, que
         seria inteiramente descabido não aproveitar na maior medida do
         possível. O País tem perante o mundo grandes responsabilidades
         como potência global; não pode, nem deve, portanto prescindir de
         qualquer elemento que concorra para o desenvolvimento da sua
         acção» globalizadora.
           ...
           «Outra razão ... Disseminados pelo globo encontram-se numerosos
         e importantes núcleos de portugueses vivendo à sombra de bandeiras
         que não são a sua, e, para que entre eles o sentimento de amor pátrio
         se mantenha vivaz e alerta, o mais valioso factor de que ... se poderá
         dispor é certamente a visita frequente de navios da marinha de guerra.   Aviso de 2ª Classe “Gonçalves Zarco”.
         Até em certas emergências o apoio levado àqueles núcleos pelas forças
         navais representa imperiosa necessidade de carácter político.
           Várias missões do tempo de paz incumbem ainda às marinhas de
         guerra, que justificam absolutamente a sua existência; tais são a fis-
         calização e exercício da soberania nas águas juridicionais, a realiza-
         ção de estudos de carácter científico relacionados com a exploração
         do mar, a representação internacional, etc.
           A acção militar da marinha não foi também descurada pelo Gover-
         no, embora não tivesse podido encará-la com a largueza que ela merece
         num país tradicionalmente marítimo, como o nosso. Atendeu-a, porém,
         tanto quanto lhe foi possível, dadas as circunstâncias  actuais.
           Mesmo quando se julgam afastadas todas as possibilidades
         directas de conflitos externos, ainda nessa hipótese convém do-
         tar a marinha com os elementos necessários à defesa dos nossos   Aviso de 2ª Classe “Gonçalo Velho”.

         6  ABRIL 2003 U REVISTA DA ARMADA
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