Page 120 - Revista da Armada
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Uma Marinha em rede
Uma Marinha em rede
globalização ace- Capacidade de Comando
le rou o ritmo dos e Controlo é assim susten-
A acontecimentos em tada e incrementada atra-
todo o mundo e aumentou vés de todos os meios que
o número de ameaças. Às permitam o eficaz uso da
clássicas missões militares informação necessária ao
de segurança e defesa, jun- sucesso do cumprimento
tam-se agora novas missões da missão.
de combate ao terrorismo,
ao crime organizado, à dro- Os pilares fundamentais
ga e à proliferação de ar- para e edificação desta Capa-
mas de destruição massiva. cidade de Comando e Con-
A globalização trouxe tam- trolo são basicamente três:
bém um impacte mediático
aos teatros de operação e às - A Infra-estrutura tecno-
missões. lógica, que são os circuitos
de comunicação, os equi-
A posse de meios e ar- pamentos de rede e os ser-
mas tecnologicamente vidores de informação que
avançadas e a capacida- canalizam e geram conheci-
de de os integrar e controlar num teatro de operações é deter- mento (informação trabalhada). Estes Sistemas de Informação (SI) e
minante para o sucesso das missões. Quem detém o melhor co- Sistemas de Comunicação (SC)precisam de adequadas velocidades
nhecimento sobre um determinado cenário (superioridade na de transferência e processamento de informação, ser interoperáveis,
informação) usufrui de vantagem decisiva para jogar da forma e de grande fiabilidade e sobrevivência. O recurso à tecnologia civil,
mais segura e eficaz o potencial de que dispõe e é mais capaz de COTS (Commercial Off The Shelf), é o único caminho possível;
se defender de ataques do exterior.
- Gestão da Informação, para que todas as fontes de informação
Uma Marinha moderna tem de ser flexível, rápida no apron- sejam aproveitadas e concentrada da melhor forma, no sentido de
tamento de meios, ter um bom sistema de comando e controlo, gerar o conhecimento necessário sobre uma determinada situação
grande capacidade bélica e um eficiente sistema que garanta a sua que permita uma rápida tomada de decisão;
sustentação logística. A preparação requer o uso no dia a dia das
tecnologias necessárias em tempo de crise ou de guerra. Neste con- - Aptidões do pessoal da Marinha nas áreas da Gestão de Informa-
texto, o funcionamento em rede é fundamental, embora seja difí- ção (GI) e das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC).
cil de concretizar, devido à variedade e complexidade das missões Parte destas aptidões não dependem das funções que desempenham,
que lhe estão atribuídas, à dimensão da sua estrutura orgânica e à mas sim das competências do seu posto. Ter todos os elementos da
existência de meios poderosos e complexos. organização a saberem utilizar as ferramentas informáticas básicas
é fundamental para colocar a Marinha a funcionar em rede.
CAPACIDADE DE COMANDO E CONTROLO
Actualmente, a Marinha dispõe de uma infra-estrutura que su-
A Marinha, para cumprir as missões que lhe estão atribuídas, porta os serviços de voz (Rede Telefónica da Marinha - RTM), e os
necessita de efectivas capacidades de Comando e Controlo (C2), circuitos de dados utilizados na Rede de Comunicação de Dados
praticáveis em situações de paz, crise ou conflito e adaptadas à da Marinha (RCDM). Existem Sistemas Integrados de Informação
estrutura da organização, ao dispositivo de forças e aos conceitos para a gestão do pessoal e do material. Há serviços Web e email
operacionais. Para tal contribuem directa ou indirectamente vários informal e formal (Military Messaging Handling System -MMHS).
Órgãos e Unidades e, desta forma, é imprescindível a existência de Existe uma ligação à Internet, assim como há ligação a um sistema
um eficaz Comando e Controlo. de Comando e Controlo Operacional NATO.
Quando se fala de “comando e controlo”, há tendência para se Para funcionar em rede, a Marinha precisa de infra-estruturas
pensar em computadores ligados, circuitos de comunicação sofistica- de comunicação fiáveis e redundantes que liguem os meios ope-
dos, satélites inteligentes, etc. Porém, esta é apenas uma dimensão do racionais, as unidades logísticas e comandos em rede. Os compu-
sistema. A missão de um sistema C2 é a satisfação das necessidades tadores que existem em rede ainda não são suficientes e as nossas
de um comandante e do seu staff no emprego e na gestão das forças infra-estruturas de comunicação actuais, além de serem um recurso
próprias para a execução de missões. O objectivo de um sistema C2 limitado, ainda não suportam eficientemente os elementos do “pi-
é contribuir para o sucesso da missão militar, tornando a capacidade peline” logístico e do comando operacional em rede. Além disso,
conjugada de uma força e a sua rapidez superior à do opositor. dada a complexidade destes sistemas, os recursos humanos capazes
de dominarem todos estes sistemas são muito poucos e carecem de
A organização de um Órgão ou de uma Unidade deve ser orien- muito tempo de aprendizagem.
tada no sentido de potenciar a capacidade de comando e controlo.
Esta é a orientação oficial da nossa Marinha que, numa extrapo- Colocar a Marinha a funcionar em rede significa uma mudança
lação do conceito C2 do âmbito puramente operacional, definiu na organização. O modelo organizacional tradicional, com ciclos
Capacidade de Comando e Controlo como a incorporação de to- de decisão de dias e horas, é substituído por uma organização em
dos os meios ao dispor de um Comandante, Director ou Chefe na rede, onde são possíveis ciclos de decisão medidos em minutos e
direcção e coordenação das actividades inerentes à sua missão. A segundos.
10 ABRIL 2003 U REVISTA DA ARMADA